~*SENHOR DAS DESCONFIANÇAS*~ cap. LII

Sabendo todos agora de que a Sra. Eloise sobrevivera ao acidente no passeio de bote, a alguns anos atrás, e que fôra a nora quem tentara afogá-la, foi feita uma rigorosa investigação acerca do caso, pois ainda que muitos acreditassem naquela versão, era necessário provas, buscas. Após isso, a Sra. Eloise, os senhores Arantes e seus filhos mais velhos, os empregados e também o detetive tiveram que comparecer ao julgamento no tribunial para esclarecer e resolver o caso. Um processo longo e dificultoso, era preciso provas suficientes de que o afogamento havia sido provocado pela Sra. Beatriz. Foram lidas diversas passagens do diário da Sra. Eloise, que contavam acerca da péssima relação dela com a nora; Tayná confessou frente ao júri o segredo da Sra. Beatriz, que ela realmente havia tentado afogar a sogra; também compareceu ao julgamento o pescador que acolheu a Sra. Eloise em sua cabana quando a encontrou desacordava na areia. Todos foram ouvidos e o caso tornou-se uma verdadeira guerra! Era o advogado da ré e o da vítima se empeitando um contra o outro, tentando defender suas clientes e o detetive contando sobre cada descoberta que fizera na mansão. A Sra. Beatriz foi mantida em prisão temporária, enquanto o juiz recolhia as evidências.

Durante os dias de julgamento, o Sr. Carlos Arantes teve a gentileza de pedir para que o detetive permanecesse na mansão, até o caso ser encerrado, e o detetive não quis contradizê-lo, porquanto sentia que sua presença ajudava de alguma forma a família. Mas, em um desses dias, os da mansão tiveram uma enorme surpresa quando bateram na porta... O mordomo Robison, sem sombra de dúvida, após serem descobertos seus encontros às escondidas com a Sra. Beatriz, perdeu a confiança do Sr. Arantes e também seu emprego na mansão. Portanto, faltando um novo mordomo, os próprios moradores da mansão tinham que abrir a porta e dessa vez foi a Sra. Eloise a abrí-la. E no momento que viu diante de seus olhos aquele homem alto, bem vestido com um terno escuro e de cabelos curtos e negros, sentiu a emoção lhe arrepiar a pele e lágrimas rolaram em seu rosto. O Sr. Arantes estava no sofá e também viu o homem na porta, no que se colocou prontamente de pé, entretanto não muito contente.

- Wagner? - indagou em demasiada emoção a Sra. Eloise, à medida que com um sorriso trêmulo recebia aquela presença.

- Oh, meu Deus... Então você está mesmo viva? - disse Wagner, que sem demora envolveu a mulher em seus braços firmes e depois segurou seu rosto com delicadeza, para admirar aquele olhar que perdera há anos - Eu soube do caso e não acreditei... Vim até aqui e vejo que você realmente sobreviveu. Oh, minha amada! E eu pensei que tinha te perdido para sempre...

Enquanto os dois choravam em abraços, Carlos se aproximou deles, com um caminhar pesado e um semblante nada convidativo. Olhou para o padrasto de forma repulsiva e evitou maior aproximação.

- Ah, então agora você resolve aparecer? - disse Carlos para o padrasto, num tom irônico - Eu estava mesmo certo, fora minha mãe nada mais te interessa e nunca te interessou. Tanto é que só por saber que ela vive foi que voltou, nunca antes pelas outras pessoas que também te conheceram e até te estimaram! Não falo de mim, mas até meu filho Thiago que sempre te admirou muito... Aposto que nem se recorda dele.

- Claro que me recordo! - Wagner o contradisse, ao passo que se afastava um pouco de Eloise e fitava Carlos - Só estava sofrendo muito com a perda de sua mãe e...

- Ah, sim, claro... Mas continuou em seus concertos insuportáveis no exterior!

- Parem! Por favor, chega! - vociferou Eloise, olhando para os dois, com os olhos inundados - Não quero que discutam... Tudo já anda muito mal por aqui! Vocês deviam se abraçar, pois faz tanto tempo que não se veem...

De repente ouviram passos na escada e ergueram os rostos para o alto dela; viram Thiago e ele havia paralisado no quarto degrau, mirava a vista em Wagner perto da porta e os olhos de ambos brilharam intensamente.

- Vô Wagner? - disse Thiago, sem conseguir crer no que contemplava e sua mão deslizou no corrimão à medida que ele saltava apressadamente os degraus.

- Thiago! - falou alto Wagner, sorrindo para o rapaz.

Ao descer toda a escada, Thiago parou num instante e como um menino começou a chorar, enquanto olhava de longe o avô. O Sr. Carlos, muito inciumado, queria repreender o filho, mas em vez disso, deu as costas e cruzou os braços, bufando de raiva. Wagner viu que Thiago não conseguia reagir de tanta emoção, então ele mesmo foi abraçar o rapaz e deixá-lo chorar em seu ombro. Era admirável o vasto amor que Thiago sentia por Wagner, poderia até dizer que era como um segundo pai para ele. Quem surgiu também foi Thalia e a irmã Celina e vendo o avô ali, Thalia esfregou com as mãos os olhos, pensando estar sonhando, ora ele permanecia ali, não era um sonho!

- Vovô Wagner! - exclamou Thalia e foi correndo abraçá-lo.

Já a menina Celina ficou um pouco acanhada em se aproximar do avô, em razão de que da última vez que o vira era ainda muito pequena e por isso não o reconhecia. Ora Wagner se acercou da menina, inclinou a coluna e levantou carinhosamente o rosto dela, para admirá-la.

- Pricesinha Celina! Como minha anjinha cresceu! - disse ele, exibindo um sorriso amoroso para a menina - Lembra de mim, seu vovô Wagner? Não... Claro que não lembra, você era só um toquinho de gente e ainda chupava chupeta.

Celina sorriu com timidez, ao passo que suas bochechas rosavam e seus ombros se escondiam. E nesse momento Wagner jogou o olhar para a porta do salão de refeições, por onde apareceu o detetive, e ambos se entreolharam com curiosidade.

- Olá... - o detetive saudou o homem, enquanto se aproximava devagar e empenhava-se para reconhecê-lo - Espere... Eu já te vi em algum lugar!

- Já? Mesmo? - Wagner perguntou, simpaticamente.

- O músico! - lembrou-se - O senhor é o músico, não é?

- Ah, sim-sim - riu ao confirmar - Mas muitos preferem apenas me chamar de Wagner.

- É um imenso prazer conhecê-lo pessoalmente! - o detetive estendeu a mão para cumprimentá-lo e para se apresentar - Sou o detetive Ruan Gaspar, responsável pela investigação das coisas da Sra. Eloise que andavam desaparecendo aqui na mansão.

- Já ouvi falar de seu trabalho - contou Wagner, apertando a mão de Ruan -, é bem respeitado pelos que o conhecem.

- Eu diria que nem tanto - Ruan deu risadas e Wagner também sorriu.

- Se não me engano, foi graças a você e seu extraordinário desempenho na investigação que todos descobriram a verdade sobre o acidente naquele passeio de bote.

- Bem, se isso não for me condenar a uma rígida pena, posso afirmar que talvez eu tenha ajudado com o caso.

- Gostei do bom humor - disse rindo.

E tudo isso Carlos assistia quase a vomitar, era o único que não estava tão animado com a volta do Sr. Wagner, pois até o detetive tinha gostado muito de conhecê-lo e estava achando dele uma ótima pessoa.

~*Continua...

Lyta Santos
Enviado por Lyta Santos em 01/11/2016
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