Os Segredos da Rua Baker: 6-The Old Friend (Parte Final)

Diana não tinha notícias da irmã desde aquela tarde no armazém abandonado e isso já fazia duas semanas. Ela mandava mensagem, mas não obtinha resposta, ligava só que não era atendida. Foi até a 221B na tentativa de obter alguma informação sobre o sumiço. No entanto só encontrou o John tomando um chá antes de voltar ao trabalho.

—Não, Diana, eu não sei nada sobre a sua irmã.

—Quando foi a última vez que a viu?

—Quase uma semana, acho.

—Como pôde esconder isso de mim, John?

—Eu não escondi. Ela entrou em uma rotina ainda mais estranha. Passava noites e parte do dia fora. No fim de semana a vi chegar duas horas da tarde, sendo que eu havia chegado do trabalho na sexta e nada dela. Irene dormiu até umas sete, depois a ouvi andando pela casa até que saiu novamente. Não a encontrei mais desde esse dia, mas pensei apenas que nossos horários não estavam batendo.

—Será se aconteceu alguma coisa? Talvez tenha a ver com aquele amigo dela.

—Eu não sei e nem me importo.

—Mesmo?

—Diana, ela disse para me afastar. Estou fazendo isso. Agora se me der licença, tenho de ir trabalhar.

—É... Eu também.

Diana voltou para o laboratório, mas não parou de pensar sobre o que poderia estar acontecendo. Tentou ligar mais uma vez, porém sem sucesso. Algumas horas depois, ela estava concentrada analisando uma substância quando recebeu uma mensagem com a assinatura da irmã.

“Procure essas pessoas enquanto estiver lá. I.H.”.

Logo abaixo havia a foto de uma mulher com duas crianças.

“Estiver lá onde?” Diana se perguntou.

Ela deixou o celular de lado e decidiu ir comprar um chocolate para merendar, pois ela ainda ficaria horas naquele laboratório e não teria tempo para comida de verdade.

Ao dobrar a esquina em direção a sua bomboniere favorita, recebeu um forte golpe na cabeça que a deixou desnorteada. Percebeu dois homens a colocando dentro de um carro, amarrando suas mãos e colocando um tipo de saco de pano em sua cabeça. O caminho foi longo, mas não o suficiente para se recuperar completamente. Eles conversavam em uma língua que não era a dela, Diana ainda estava zonza por causa da pancada e isso dificultava para notar qualquer coisa.

Quando chegaram a algum lugar, ela foi levada a um recinto úmido, com um cheiro de mofo e antes de a amarrarem uma cadeira, ouviu certo som lamurioso, com certeza era voz de mulher.

—Irene!

Disse Diana ao tirarem o pano de seu rosto. Irene estava coberta de sangue, era claro que ela havia sido torturada, mas ainda assim era muito estranho vê-la com aquele olhar de pavor.

Enquanto eles discutiam algo, Diana soube, finalmente, que falavam a língua árabe. Um deles foi até Irene.

—Se não me disser onde está; eu vou matar a sua irmãzinha.

—Eu não sei do que está falando. – Ele fez um gesto de bater nela; Irene se encolheu na cadeira. –Eu juro senhor. Eu juro!

O homem fez um sinal, um dos comparsas bateu em Diana fazendo um fio de sangue escorrer por sua boca.

—TUDO BEM! – Gritou Irene em desespero. – Tudo bem.

—Vai cooperar agora?

—Eu vou te mostrar onde está escondido.

—Você não irá conosco, vadia.

—Vamos nos divertir com essa daqui, chefe? – O bandido lambeu o rosto de Diana.

Por um segundo, ela conseguiu vê a verdadeira faceta da irmã por trás de toda a máscara de mulher desesperançada e amedrontada. Irene deu um endereço, eles iam saindo quando ela falou algo em árabe.

—Desde quando você fala árabe? – Perguntou Diana.

O chefe respondeu e um capanga foi até Irene, deu-lhe um soco que a fez apagar, então a desamarrou e a levou consigo. Diana se viu ali sozinha, precisava pensar em algo para escapar, foi nesse momento que se lembrou da mensagem da irmã.

“É aqui onde tenho de procurar aquela família.”

Alguns minutos depois, Diana já havia conseguido se soltar, subiu umas escadas, derrubou o homem que estava na porta e começou a busca. Enquanto isso, Irene acorda em um antigo galpão usado para guardar equipamentos rurais.

—Bela senhorita Holmes. Nós discutíamos se você era mesmo a famosa detetive.

—Eu ouvi vocês.

—Poderia nos responder a pergunta que meu filho Eysam tem feito?

—Quem usava aquele chapéu era meu pai. Eu nunca irei coloca-lo.

—Pegue a caixa.

Irene foi até um canto, lá tinha um piso falso, dali de dentro ela tirou a tal caixa. Voltou devagar até eles, entregou a caixa para o chefe.

—Vocês me deixarão ir?

—Apesar de toda a sua fama, a senhorita é bem estúpida.

—O que vai fazer?

Ele se afastou enquanto o filho se aproximou dela.

—Agora nós vamos nos divertir.

Após dá alguns passos para trás, Irene sorriu.

—Sim, nós vamos.

Ele pareceu um tanto confuso. Irene o desarmou com facilidade e o pegou para refém o segurando por trás, fazendo os outros três pararem abismados.

—Você está muito ferida para conseguir lutar contra meus rapazes. – Disse o chefe.

—Luta corpo a corpo? Eu perderia em dez minutos.

—Dez minutos? Tão confiante.

—No entanto, eu estou com uma arma.

—Apontada para a cabeça do meu filho, entretanto tem outras duas apontadas para você.

—Que podem acertá-lo.

—Se ele morrer irá para o paraíso.

—E todos vocês para o inferno na Terra.

Após essas palavras, ela acertou um tiro no braço de um dos bandidos fazendo-o largar a arma e outro na perna fazendo-o cair, o companheiro no impulso atirou de volta matando o filho do chefe que já ia em direção a saída. Irene também atirou no braço e na perde desse outro. Jogou o corpo do Eysam no chão e correu em direção a saída, mas foi impedida por um dos homens caídos que segurou seu pé.

Irene despencou e sentiu uma enorme dor chegando quase a desfalecer. Ela olhava em direção ao chefe já chegando perto do carro, ainda conseguiu acertar uma bala em suas costas, porém o motorista o ajudou fugir. Irene ficou deitada uns segundos, mas teve de levantar logo para amarrar os dois que ela conseguiu pegar.

Ela os algemou em uma das pilastras daquele lugar, pegou o celular de um deles e foi até a parede em frente, sentou e ligou para o John.

—Venha rápido. – Foi tudo que consegui dizer antes de desmaiar.

John não perdeu tempo, mandou rastrearem a chamada e assim que obteve a localização correu com a sargento Miller e alguns policiais até o local. Lá chegando, Miller percebeu que aquela cena levou o inspetor ao passado. Ela viu uma enorme dor estampada em seus olhos quando ele correu até Irene.

—Hey, acorda, fale comigo. Miller, chame uma ambulância.

—Já estão a caminho.

—Irene!

—Hmm?

—Hey, sou eu. O que aconteceu aqui?

—John?! É um presente...

Sua voz era fraca e pastosa.

—Presente?

—Para pedir desculpas... Eles são traficantes de armas, o chefão fugiu, mas conseguirá um bom crédito prendendo esses dois.

Ela ia fechando os olhos.

—Não, não, não Irene, fique comigo. Conte-me mais sobre esses traficantes.

—Diana...

—O que tem ela?

—Presa...

—Miller entre em contato com a Diana. Não se preocupe; nós a acharemos.

—John, eu preciso descansar agora.

—Você não pode dormir Irene. Continue comigo.

—Eu estou aqui com você, mas preciso...

Irene mais uma vez perdeu a consciência deixando John muito preocupado, no entanto os paramédicos já haviam chegado e cuidavam dela.

***

Já no hospital, ela recebeu algumas visitas importantes. Primeiro veio a Diana com o John.

—Veja quem acordou John.

—Diana, você fez o que lhe pedi?

—Ela já está ótima, já quer falar de trabalho. – Disse o inspetor.

—Apenas me responda.

—Eles estão bem, Irene. A família Borkan está reunida novamente.

—Ótimo.

—Vai nos contar como se conheceram? – Perguntou John.

Dava para notar que essa lembrança não era boa para Irene.

—Há muito tempo, eu trabalhei com um agente duplo, porém ele havia se transformado em agente triplo. Eu sabia que se entregássemos certas informações a ele, estaríamos perdidos. Porém, eu não tinha provas. Nem mesmo o Mycroft estava me dando ouvidos. Então fiz a única coisa que pensei no momento antes de ser tarde. Eu o matei. Não tratei de esconder meu ato, assim fui julgada e enviada para uma missão suicida nos países árabes.

—O que uma mulher poderia conseguir nos países árabes? As mulheres não têm liberdades por lá.

—Sim, porém consegui fazer isso ficar ao meu favor. Fui com outro agente, seríamos marido e esposa. Como lá só poderia usar burca, ninguém veria meu rosto nunca. Algumas vezes me disfarçava de homem para andar livremente e conseguir fazer meu trabalho, mesmo depois de tanto tempo não posso entrar em detalhes sobre isso. Enfim, o “meu marido” foi pego enquanto eu estava invadindo uma das bases terroristas, o Drake também estava por lá em uma missão diferente, o avisaram rapidamente para fugir. Ele sabia de nós e o contato avisou que o meu colega fora pego, mas não sabiam de mim. Drake podia ter ido e me deixado lá sem ter noção do que havia acontecido. Assim que chegasse em casa seria pega e morta, porém ele ficou, procurou por mim e ao me achar conseguimos fugir juntos. Todos pensaram que tínhamos morrido, pensaram isso por meses.

—Isso não é possível. – Disse Diana. – Estávamos afastadas nessa época, mas o Mycroft teria me falado.

—Foi um pouco de gentileza da parte dele, Diana. Mycroft não queria fazer o meu enterro com todos achando que eu era uma traidora. Bernard estava trabalhando em provar que eu não havia me enganando em matar aquele homem e assim que conseguisse o nosso tio te contaria e faria o enterro simbólico. Drake e eu rodamos por muitos lugares até voltarmos para a Inglaterra após acharmos já ser seguro. Bernard já havia me inocentado, Mycroft não precisou te contar nada e Drake foi viver a vida dele nos Estados Unidos onde formou família. Usar a burca me livrou de saberem quem eu sou, no entanto eles sabiam quem é o Drake. Sequestraram a família dele que seguiu as pistas até Londres, descobrimos essa quadrilha de traficantes de armas, o chefe deles é árabe, contudo o homem que realmente está por trás disso é inglês.

—Quem é ele?

—Eu não sei Diana. Drake não quis me contar.

—Tudo isso foi por vingança?

—Ao que parece sim.

—Não está convencida.

—Preciso conversar com o Drake primeiro para maiores conclusões.

—Não seja por isso. – Disse ele abrindo a porta. – Irene Holmes, eu lhe apresento minha esposa Naomi e meus filhos Drew e Sasha.

—Prazer, nós precisamos conversar.

—Você nunca irá mudar?

—Não.

—John, vamos mostrar para a Naomi e as crianças onde conseguir um bom sanduíche.

O inspetor concordou e eles saíram.

—Irene, eu não vou dizer quem ele é.

—Por que não? Sei que deve ser muito poderoso e não temos provas, mas juntos...

—Não. Eu estou fora disso. Volto hoje com minha família para a América.

—Drake...

—Eu não vou acabar com o Bernard, Irene. – Ela recebeu essas palavras com uma facada em seu peito. – Desculpe, mas não quero que minha esposa crie meus filhos sozinha.

—Eu entendo.

—Não, você não entende. Irene, mesmo se amasse alguém você o colocaria em risco para desvendar um caso. Eu sei o quanto gostava do Bernard e o envolveu em tudo isso, se aproveitando do sentimento dele por você, mesmo depois dele já ter deixado essa vida para trás. E acabou de repetir isso deixando sua irmã ser sequestrada.

—Estava tudo sobre controle.

—Você não tem como saber cem por certo e nem se importa com isso.

—Drake...

—Irene, eu vou embora. Só tenho mais uma coisa a dizer: o tal homem me procurou na ilha.

—Como ele... ?

—Apenas ouça. Ele disse que tudo isso foi por você, pois queria vê-la em ação, saber da sua capacidade de usar as pessoas em seus planos. Ele gosta de vê-la jogar. O resultado foi satisfatório.

—Ele está me estudando?

—Ele falou que meu papel nesse jogo já havia terminado. Acredito significar que poderei ir em paz. Tomarei algumas providências é claro, mas ele parece um homem de palavra. Agora, antes de ir... – Drake se aproximou e a beijou na testa. – Esse cara é visivelmente obcecado por você, por favor, tome cuidado.

—Você também.

Drake saiu do quarto, Irene sabia que não se veriam mais, entretanto isso a deixava feliz por ele. Sua última visita foi bem estranha: a sargento Miller.

—O John saiu e não sei se volta.

—Por que você me odeia?

—Como é?

—Quando te vi toda ensanguentada, desmaiada... Percebi que não é inteiramente ruim.

—Oh eu não sou?

—O inspetor Smith me contou sobre o irmão e como eram amigos... E o que aconteceu depois.

—Oh ele contou? – Ela demonstrava toda a falta de interesse na conversa.

—Eu notei que faz qualquer coisa por um amigo. Talvez por não ter muitos ou por ser melhor do que aparenta. Enfim, por que me odeia? – Irene a olhava sem dizer nada. – Ok. Eu posso começar. O modo como trata todos, principalmente, ao inspetor Smith me irrita. Sei que gosta dele, apesar de tudo, e sei que é inteligente, mas não tem o direito...

—De tratar a todos de forma arrogante fazendo-os parecer completos idiotas. Miller, eu não tenho tempo ou vontade de ouvir suas ridículas palavras.

—Eu só estou tentando...

—Eu sei o que está tentando, Miller. Não pense que somos um time. Oh trabalhamos juntas e deveríamos nos entender! Você é burra, mas não o suficiente para acreditar nisso.

—É, você nunca vai deixar de ser uma idiota arrogante.

—Sabe o que acho profundamente irritante em você, Miller? Esse seu desejo de que todos gostem de você. Por ter uma aparência bastante atraente desde sempre, você está acostumada com todos os paparicos possíveis, além da inveja das mulheres ao redor. Eu não me importo em nada com você, porém a atenção que o inspetor Smith delega a mim, você adoraria ter para si.

—Se está insinuando...

—Não estou. Apenas digo que se quiser fazer seu trabalho direito, pare de se distrair com bobagens. Enquanto tentar fazer bem o seu serviço com o único intuito de obter a admiração do John, pior profissional será. E menor será a atenção dele em relação a você.

Diana aparece com o Sean.

—Sargento, não imaginava vê-la aqui.

—Ela procurava pelo John. – Disse Irene.

—Ele já voltou para a Scotland Yard.

—Nesse caso, já estou de saída. Obrigada, Irene. Melhoras. Até mais.

—O que ela agradeceu?

—Não faço ideia.

—Como está? - Perguntou Sean.

—Muito bem, soldado.

Sean sorriu e foi ao banheiro.

—Vocês iam jantar?

—Tínhamos marcado ontem, mas acho que vou desmarcar, estou muito cansada.

—O soldado ficará desapontado.

—Por que? É só um jantar.

—Um jantar para propor casamento. Ele está com a caixinha no bolso do blazer.

—Sério?

—Sim. - Falou Sean com uma voz de tristeza. - Já que não terá mais jantar e sua família está aqui. - Ele foi até Diana, tirou a caixinha, a abriu mostrando o anel e se ajoelhou. - Diana Holmes, você aceita se casar comigo?

Diana estava sorrindo e com lágrimas quase escorrendo.

—Oh pelo amor de Deus, acabe logo com isso. Todos sabem que dirá sim.

—Eu aceito.

Ele colocou o anel no dedo dela. Os dois se beijaram.

—Tenho sua benção Irene?

—Se magoar minha irmã...

—Você me mata.

—Você me conhece tão bem, soldado.

Eles sentaram no sofá brindando o momento com um suco de caixinha, Irene os observava feliz por vê a irmã tão bem, porém preocupada com as palavras do Drake e o que pode vir a seguir.

ALANY ROSE
Enviado por ALANY ROSE em 07/04/2017
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