A fuga de Jali

— Peguem ele...! Peguem esse criminoso!

Com esses insultos, Jali, como era conhecido José, se embrenhara na mata desesperado. Todos os moradores da pequena vila de Taperebá tinham certeza do ato criminoso que ele acabara de cometer. A mãe da pequena Aninha o encontrara em flagrante, pois foi logo em seguida do ocorrido crime.

— Vamos pegar e matar esse criminoso, dona Esmeralda! — Diziam enfurecidos os machões justiceiros da pequena vila.

Era por volta das 11h da manhã, antes do almoço. Dona Esmeralda, pediu a Jali que ficasse cuidando de Aninha enquanto ela ia até o rio lavar umas roupas, o pai da criança estava na roça e não demoraria a chegar. Além do mais, tinha o feijão no fogo e alguém precisava cuidar para que não queimasse.

Jali era um rapaz muito simples e caridoso, era de estatura mediana, traços indígenas, contava com 25 anos. Veio à vila apenas cobrar uma dívida que seu pai tinha como o seu Mané, pai de Aninha. A viagem era simples, viria em um dia e voltaria no outro com o dinheiro. Mas, como naqueles rincões não há meios de comunicação a não ser a boca a boca, não teve jeito, o rapaz teve que contar com a sorte de ir só com o dinheiro de ida, o da vinda, seria o dinheiro da dívida.

Já se contavam três dias que Jali estava na vila, o seu Mané não tinha sequer um centavo no bolso. A única solução era o rapaz trabalhar e conseguir o dinheiro de volta. Ele estava empenhado em conseguir o dinheiro, começou a se embrenhar na floresta todas as manhãs e colher castanha-do-Pará, assim, quando tivesse uma boa quantia, iria até a cidade mais próxima, venderia e de lá mesmo seguiria seu caminho de volta.

Na manhã em que ocorreu o incidente criminoso, Jali não foi colher castanhas na floresta, as que já tinha, daria para voltar para casa. O seu plano era vendê-las no dia seguinte.

Aninha era uma criança de apenas um ano e meio de idade, era agitada, de pele linda e delicada como chocolate. Não havia acordado bem naquela manhã, mas a mãe sequer se deu conta.

Ao voltar do rio, encontrou a menina na cama sangrando muito pelas partes íntimas, e não parava de chorar. E encontrou Jali sentado ao lado da menina tentando acalmá-la. Parecia preocupado, nervoso. Dona Esmeralda, diante da cena, sai da casa gritando:

— Socorro, tarado...!

Alguns moradores que estavam passando por ali, entraram desesperados na casa. Desesperada, a mãe apenas apontava para o rapaz e gritava:

— Ele estuprou minha filha!

Ao ouvir essas palavras proferidas por dona Esmeralda, Jali saí desesperado da casa se embrenhando na mata. Alguns homens armados com facões o perseguem, altamente enfurecidos. Outros tentam acalmá-la, prometendo o sangue do rapaz.

A vila era cercada de mata, havia somente um acesso por uma estradinha de chão. Depois de algum tempo, alguns homens retornam da mata dizendo que ele estaria encurralado, pois terá que passar por dentro da vila, se quiser fugir, a não ser que more para sempre escondido na mata.

A menina foi levada para o hospital. Alguns homens ficaram de guarda esperando o jovem sair da floresta. Já ia avançando o dia, a noite começava a dar seus sinais de trevas. A vila não contava com luz elétrica, os moradores se recolhiam cedo, junto com as galinhas. Não se sabia de notícias da menina. Os pais ainda não haviam regressado da cidade.

De repente, um vulto é visto na floresta. Um dos homens armado vai silenciosamente tentando surpreender, pois suspeitou ser o estuprador. O que de fato era. Pegou pelo pescoço e o arrastou para a vila, gritando:

— Peguei o diabo! — Dizia essas palavras cuspindo fogo pelos olhos.

Era por volta das 18h30. Em pouco tempo, parecendo um animal encurralado, encontrava-se o rapaz amarrado. Pedia clemência e alegava inocência, dizia que não fizera nada e que a menina estava doente. Quando falou que a menina estava doente, foi golpeado no peito. Em seguida, vieram outros golpes, até que diante de todos, deu o último suspiro.

Novamente outro alvoroço, vem dona Esmeralda com a Aninha nos braços, estavam retornando do hospital. Alguém, do meio do grupo de justiceiros, fala orgulhosamente:

— Pode ficar tranquila, a justiça foi feita.

Ao ver o rapaz ensanguentado no chão, dona Esmeralda cai de joelhos por terra. Chorando, abraça fortemente sua filha; e encarando a todos, fala soluçando:

— Meu Deus! Pobre homem! Minha filha está doente...e sua doença...foi causada por falta de higiene em suas partes íntimas.