O fim da linha

A luva rosa jazia no solo, praticamente encoberta pela neve. O cão farejador que a encontrou começou a latir loucamente, para chamar a atenção dos policiais que participavam da busca pela floresta.

- Bom garoto, bom garoto! - Aprovou o detetive Dawson, fazendo festas na cabeça do animal. Ao seu lado, o detetive Calderon tirou algumas fotos do objeto com o celular.

- Sabemos que ele passou por aqui. Mas para onde a terá levado? A neve encobriu os rastos...

- A pé, não podem ter ido muito longe - redarguiu Dawson, enquanto orientava os demais policiais a se espalharem em leque por entre as árvores.

- Seguindo nessa direção, você vai acabar nas barrancas do rio - avaliou Calderon. - Há muitas grutas e grotas por ali, vários lugares onde ele poderia ter levado a garota. Seria melhor chamar reforços, ainda mais que a noite vai cair logo.

Dawson olhou para o céu nublado do fim da tarde de inverno, que prometia mais neve para breve; Calderon tinha razão. Usou o rádio para falar com o capitão Johnson.

- Vai ser difícil continuar com as buscas na floresta depois que escurecer - alertou. - E a previsão do tempo é de mais neve nas próximas horas. Justo agora que encontramos uma pista!

- Vocês ainda estão indo em direção ao rio? - Indagou Johnson.

- Positivo.

- Eu vou mandar um grupo de patrulheiros pelo outro lado da estrada, vindo do rio até a sua posição. No momento, é o máximo que posso fazer.

Dawson agradeceu. A ideia do capitão era boa: os dois grupos cobririam boa parte da área vasculhada e teoricamente ninguém poderia passar entre eles. Exceto, é claro, se o fugitivo e a refém já houvessem saído da floresta. Aí, nada mais haveria a fazer, exceto dar o alerta para a polícia estadual.

- Em frente! - Comandou Dawson, fazendo sinal com o braço para os policiais continuarem avançando em direção do rio.

Os cães farejadores voltaram a latir em meio às árvores. Dawson sacou a Glock 22 e aproximou-se rapidamente.

- Ei! Desse lado! - Gritou para alertar os demais.

O local onde chegou era uma grande clareira aberta, na qual os cães corriam de um lado para o outro, latindo uns para os outros como se estivessem desnorteados.

- Chegaram ao fim da linha - declarou Calderon ao aproximar-se, guardando sua Glock no coldre.

- Não há nada aqui. Só neve e arbustos secos - replicou Dawson surpreso.

Mãos na cintura, Calderon parou no meio da clareira, olhando para o céu cinzento.

- Ele planejou tudo... aposto como deixou um autogiro esperando por ele - disse para Dawson.

- Autogiro?

- Um tipo de ultraleve, mas com asas rotativas; um pequeno helicóptero - explicou Calderon.

- Isso está ficando complicado - exasperou-se Dawson. - Não poderia ter simplesmente continuado a pé com a refém até o rio?

- Vamos aguardar o pessoal do outro grupo de busca chegar - condescendeu Calderon. - Mas é bom pedir ao sargento Contreras que verifique se o suspeito possuía curso de pilotagem. E ele precisaria de um modelo maior, para dois ocupantes. Não deve ser algo muito difícil de descobrir.

Dawson achou por bem acatar as sugestões do colega. E, de fato, minutos depois veio a confirmação.

- Bingo! - Exclamou Dawson.

Era hora de bater em retirada; não poderiam prosseguir numa busca onde o fugitivo criara asas. Quase que literalmente.

- [16-09-2020]