O Porteiro da Noite

- Nome? - Indagou a inspetora Doeie Holwerda, sentada diante da testemunha na sala de interrogatórios "A" da Delegacia de Homicídios, bloco de apontamentos e caneta sobre a mesa.

- Utsen Piersma - informou o homem sentado em frente à ela, cabelos em desalinho, barba por fazer.

- O senhor é o porteiro da noite no edifício Ierdswel, rua Ype Boelens, 102?

- Sim - confirmou o homem.

- Estava de plantão na noite de 4 de Fluch?

- Sim, trabalho num turno de 12x36; estava na portaria em 4 de Fluch.

- Se lembra de ter recebido um visitante para o Sr. Roimer Veenstra, do 32-A?

- Sim - admitiu o homem. - O homem chegou por volta das 20:30 h e disse que estava sendo aguardado pelo Sr. Veenstra. Liguei pelo interfone para o 32-A e ouvi uma voz que creio ter sido a do morador, autorizando que o homem subisse.

- Não tem certeza se era a voz do Sr. Veenstra? - Questionou a inspetora, sobrolhos erguidos.

- Parecia ser ele - o porteiro deu de ombros. - De qualquer forma, quem mais poderia ser? O morador estava sozinho desde que havia chegado mais cedo, da rua.

- A que horas o Sr. Veenstra chegou no prédio? - Indagou Holwerda.

- Pouco depois que assumi o posto... por volta das 18:10 h daquela noite.

- E como ele estava? Parecia preocupado com alguma coisa?

- Não. O Sr. Veenstra não andava muito bem de saúde, mas estava se tratando e nunca o vi se queixando. Passou pela portaria, com sua pasta de couro e um embrulho de pão, me deu boa noite e entrou no elevador. Absolutamente normal.

- E ele costumava receber visitas?

- Não com frequência.

- Esse homem, já o tinha visto antes?

- Não, nunca - afirmou Piersma. - Ao menos, nunca o vi no meu plantão.

- Ele se identificou? Deu um nome?

- Não. Disse apenas que o Sr. Veenstra o estava aguardando; eu liguei, e mandaram que subisse.

- O tal visitante subiu às 20:30 h e desceu... que horas? - Inquiriu a inspetora.

- Passava um pouco das 21 h. Lembro bem, porque ele veio pelas escadas, não pelo elevador; não é comum que alguém desça do terceiro andar pelas escadas, principalmente quando não há movimento no prédio.

- Então, ele passou pela portaria e disse alguma coisa? Notou algo de estranho nele?

- Bem... ele parecia estar com pressa; me deu boa noite e saiu, apenas isso. Imaginei que o Sr. Veenstra o houvesse chamado para receber ou entregar algum documento.

- Isso já havia acontecido antes?

- Lembro de uma vez, ano passado... um mensageiro veio buscar um documento do Sr. Veenstra à noite, mas bem mais cedo. Também não se demorou, por isso não dei muita atenção ao visitante de 4 de Fluch.

- Está bem. Acha que conseguiria nos orientar na criação de um retrato falado?

- Eu não sou muito de gravar rostos, - admitiu o porteiro - mas vou fazer o melhor que puder.

A inspetora ergueu o braço e acenou para o vidro unidirecional da sala de interrogatório. Instantes depois, a porta se abriu e Palle Wagenaar colocou meio corpo para dentro.

- Terminou? - Indagou.

- Pede pro Joarrit vir aqui, por favor. O Sr. Piersma vai nos ajudar no retrato falado.

- Certo, mas estamos com um probleminha - disse Wagenaar, fazendo um gesto para que a parceira saísse da sala.

- Um momento, Sr. Piersma - solicitou a inspetora, erguendo-se.

Saiu da sala e fechou a porta atrás de si.

- O que houve? - Indagou, ao sair para o corredor.

- Saiu o relatório de autópsia... Veenstra foi morto por volta das 19 h.

Doeie Holwerda franziu a testa.

- Portanto, quando o visitante chegou, outra pessoa o mandou subir?

- O assassino ainda estava no apartamento de Veenstra - concluiu Wagenaar.

[Continua]

- [09-08-2021]