- Quando ele sair do corredor não se preocupe, pego ele.
- Osmar, trabalhei com Rodrigues pouco antes de se aposentar, ele é sagaz.
- Porra nenhuma, só um velho escroto Zé Márcio. Nem família têm.
- Tem um filho que é Doutor.
- E caga pra ele.
- Tá, você sabe o que faz. Mas...
- Mas, o que caralho?
- O homem tem o corpo fechado.
- Só se for de cachaça...
Rodrigues, é um ex-policial bem considerado e habilidoso com arma de fogo. Mesmo aposentado, incomodava membros corruptos da corporação. Sua rede de informantes orbitava pela malha do tráfico. Havia descoberto uma conexão envolvendo alguns policiais, justamente na última região que trabalhou, litoral de São Paulo. Estava na casa de um ex-parceiro a conversarem sobre este assunto.
- Caralho, esse filha da puta bebe pra cacete, não sai da casa do Pacu.
Pacu, também aposentado, trabalhou na fronteira, especializado em investigação policial quanto  ao narcotráfico. Bem conceituado e amigo de Rodrigues, foi seu último parceiro, antes de deixar a corporação.
- Trabalharam juntos muitos anos... Devem ter muita histórias para contar.
- Porra Zé Márcio, vai lá e dá o rabo para os dois.
- Osmar, vai se fuder. Tô aqui, porque tu me chamou para orientar como o Rodrigues age.
- Tá certo parceiro tamojunto, foi mal...
- Preste atenção, Rodrigues tá saindo. Silêncio, ele sempre olha ao redor...
- Não vou com os cornos desse Pacu também, se sair, queimo os dois.
- Osmar, vamos nos concentrar no alvo.
Rodrigues sai, abre o carro. Osmar levanta atirando com as duas mãos, o primeiro tiro o acerta o braço direito. Rodrigues com a outra mão tenta revidar, mas leva mais dois tiros, um no peito, próximo ao braço ferido e um lateral na barriga, próximo ao umbigo. Cai ensanguentado ao lado do carro. Pacu ao ouvir os tiros, pega sua espingarda calibre 12, cano curto, no armário de sua sala.  Atinge Zé Márcio no peito, ele cai agonizando. Osmar revida acertando a virilha de Pacu, aproxima-se para terminar o serviço com um tiro de misericórdia na cabeça. Nesse momento, Pacu mesmo ferido, vê Rodrigues em pé, envolto numa espécie de clarão a gritar:

- Osmar, seu vagabundo filho da puta. Olha pra mim, porra!
- Rodrigues, eu te acertei não é possível...
Rodrigues com a mão esquerda, acerta dois tiros na cabeça de Osmar, em seguida aproxima-se de Zé Márcio, que agoniza.
- Que merda foi essa garoto?
- Dinheiro véio, dinheiro...
Após isso, Zé Márcio da seu último suspiro. O tiro calibre 12 o fez perder muito sangue. Rodrigues então, se aproxima de Pacu.
- E aí antigão, como você está? 
- Tô perdendo sangue. Mas, não é dessa vez. Só não consigo levantar. Agora você, tá todo furado, que porra de milagre foi esse amigo?
Rodrigues sorri, tira uma imagem de São Jorge da carteira e entrega para Pacu. Ele resmunga baixo algo em nagô*, segura a imagem e uma lágrima desce em seu rosto. Rodrigues segura sua mão, enquanto a ambulância encosta.

03.09.21
* Baba Ọlọrun, daabobo wa: Deus pai, nos defenda.

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