Às Noites Foram Feitas para Matar | Capítulo 1

Às Noites foram feitas para Matar

1

Numa tentativa inútil de convencer seu agressor e porque não dizer, seu futuro assassino a não mata-lo, o jovem estudante de T.I se pôs de joelhos já implorando por sua vida. Na outra ponta da sala, segurando firmemente um pé de cabra e dando a mínima para o que sua potencial vítima fala, se encontra Bartolomeu Gomes, ou simplesmente Gomes como é conhecido na redondeza. Gomes é um cara forte, não tem o corpo coberto por músculos, mas possui o que chamamos de uma boa carcaça. É alto e gosta de se vestir feito um fazendeiro com a exceção do chapéu.

— Já terminou com sua ladainha? — olhou o relógio em seu pulso. — daqui a pouco vamos entrar pela madrugada…

— Vai mesmo me matar, Gomes? — chorou.

— O que você acha? Pensa que eu trouxe você até aqui para resenhar?

O menino de boa aparência e boa família encontrava-se sentado no chão com as costas colada na parede segurando seu tornozelo esquerdo.

— Meus pais já devem ter chamado a polícia. Me deixe ir. Vou dizer a eles que pisei em falso e quebrei meu tornozelo…

— Sem chance. Cedo ou tarde você vai acabar dando com a língua nos dentes. — começou a andar na direção do garoto. — Já chega dessa conversa.

— Não, Gomes…

O pé de cabra entrou com facilidade no crânio fazendo ecoar pelas paredes um ruído de graveto seco se partindo. O rosto de Gomes ficou pintado. Foi uma morte instantânea. Ainda entre espasmos, o jovem teve a cabeça arrancada por um cutelo retirado do bolso de trás da calça jeans.

— Até que você não era feio, garoto. — falou segurando a cabeça pelos cabelos. — Veja só a bagunça que você me fez fazer. — pôs a cabeça dentro de um balde. — Vamos que eu não tenho a noite toda.

*

Depois de muito insistir, finalmente Juarez conseguiu tocar nas partes íntimas de Teresinha enquanto a beijava no sofá de sua casa. Muito envergonhada, a mulher de cinquenta e oito anos ajeitou os cabelos atrás das orelhas.

— Acho melhor pararmos por aqui.

— A quanto tempo estamos juntos? — Juarez pôs a mão em sua coxa.

— Um ano e pouco, sei lá. — falava com o rosto ruborizado.

— Não acha que já é tempo o suficiente para nos conhecermos melhor. — a puxou para mais perto.

— Estamos parecendo dois adolescentes.

— Está bem. Se você não quer não vou insistir. Que tal mais uma cerveja? — se levantou.

— Espera. — o segurou pela mão. — Antes eu preciso tomar um banho. Consegue esperar?

Juarez voltou a sentar-se ao lado dela e a beijou.

— Minha linda. Pra quem esperou um ano, o que são alguns minutos. Vai lá, estarei lhe esperando no quarto.

Juarez Cardoso foi casado com Romilda por trinta anos e a três anos ele enviuvou. Não tiveram filhos devido a problemas de saúde por parte dela. Meses depois que sepultou Romilda, Juarez se aposentou como policial decidindo seguir sua vida longe do lugar onde viveu os dias mais felizes ao lado da mulher amada. Cardoso hoje mora numa vila chamada Carmen no interior onde conheceu Teresinha, uma costureira de mão cheia também viúva. A química aconteceu logo de cara. Foi preciso apenas um encontro para os dois não se largarem mais.

— Oi!

Teresinha surgiu na porta do quarto como veio ao mundo deixando seu velho namorado sem fôlego.

— Eita ferro. — Juarez deixou o copo de cerveja de lado. — foi na praia e nem me chamou?

— Isso chama-se bronzeamento artificial, seu bobinho. Homem não repara mesmo as coisas.

— Nossa, mas isso é bonito demais, chega mais perto.

Sim! Teresinha caiu na armadilha do ex agente que a jogou na cama partindo pro abraço.

*

Um único grito de desespero saído dos jovens pulmões de uma menina foi o suficiente para acordar toda Vila Carmem em questão de segundos. Senhor Onofre, o dono do residencial foi o primeiro a chegar ao local ainda em tempo de ver a moça sentada no meio fio chorando sem parar apontando para o poste onde uma cabeça humana pende lentamente.

— Credos Pai! — disse Onofre olhando para a cabeça e tentando acudir a garota.

Minutos depois, ao redor do poste de iluminação de madeira haviam dezenas e dezenas de pessoas aterrorizadas, lamentando pela pobre alma do jovem Josias. Os católicos mais fervorosos puxaram uma reza e evangélicos as orações.

— Quem seria capaz de uma atrocidade dessa? — questionou Onofre ao lado de Juarez.

— Não faço a mínima ideia. Chamou a polícia?

— Eu pensei que você fosse a polícia. — olhou novamente para a cabeça.

— Esquece. Estou aposentado. — se afastou.

Por mais que Cardoso esteja fora das atividades policiais há algum tempo, nele ainda há o faro de tira bastante ativo. Abrindo passagem entre os curiosos sua mente começou a entrar em funcionamento e por um momento ele se viu assumindo uma ocorrência. Saia fora dessa, Juarez. Isso não te pertence mais. Pensando bastante ele voltou para dentro de sua casa onde Teresinha o aguardava na cama.

*

Em meio aquele aglomerado se encontrava Bartolomeu Gomes com sua velha postura de segurança de shopping center observando a retirada da cabeça do poste. Por fora ele se mantém sério, quase imóvel, porém por dentro o sujeito é puro frenesi.

— Que tristeza, não acha, Gomes? — disse uma idosa ainda de camisola e usando bengala.

— Nem me fala dona Zélia.

Outra viatura da PM chegou e seus ocupantes de maneira nada educada pediu para que os moradores se afastassem. Senhor Onofre se apresentou.

— Ele era morador aqui da vila, os pais estão em choque.

— E o corpo? — perguntou o PM.

— Nada, ainda. — respondeu o bombeiro.

— Precisamos das imagens das câmeras de segurança…

— Não temos câmeras. — começou Onofre meio sem graça. — aqui é quase uma vila de família e…

— Crimes acontecem até mesmo no seio familiar, senhor Onofre. O senhor deveria pensar melhor sobre isso.

— Verdade. — Abaixo a cabeça.

Gomes descruzou os braços que lembram verdadeiros troncos de árvores. Sorriu e sumiu no meio do povo.

*

— Ainda não encontraram o corpo? — perguntou Juarez se barbeando sem camisa.

— Ainda não. — Onofre girava o café na caneca para esfria-lo. — Eu não confio na polícia daqui. — Tomou um gole. — Meu Deus, isso nunca aconteceu aqui, Juarez. Eu vi o Josias pequeno.

— Uma pena mesmo. — jogou água no rosto.

— Por que você não investiga?

— Simples. Porque não sou mais um investigador de polícia. Minha época já passou.

Ambos ficaram em silêncio.

— E como vão as coisas com a Teresinha?

Cardoso vestiu sua camisa de botão, mas não a fechou.

— Quer saber por alto ou em detalhes? — puxou outra cadeira.

— Ah, sei lá. — Onofre não conseguia esconder sua curiosidade.

— Estamos indo muito bem. Eu estou feliz.

— Ela é boa de cama?

Juarez petrificou o semblante deixando seu senhorio preocupado.

— Melhor que a encomenda. — riu. Ambos riram.

*

Bartolomeu abriu a porta da geladeira e imediatamente o cheiro de cebola estragada invadiu suas narinas e ele pouco se importou com isso. Retirou de lá uma caixa de leite já aberta. Encheu um copo pela metade de leite e o completou com café frio. Rasgou um pão francês no meio e o comeu de uma só vez. Mastigando, ele andou até seu quarto onde o corpo do jovem Josias decapitado jazia em cima da cama.

— Não precisa repetir, eu sei que você está se sentindo muito sozinho. Prometo resolver o seu problema. — falou com a boca cheia.

Continua

Júlio Finegan
Enviado por Júlio Finegan em 07/05/2024
Código do texto: T8058524
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