Coiote (Introdução)

um homem, uma perseguição, uma traição

Estou correndo, de maneira louca, frenética. Um cheiro pútrido emana de minhas roupas. O sangue de alguém encharca minhas minhas mãos e tudo que eu faço é correr. Não sei de quem estou correndo, nem sei há quanto tempo estou correndo. Só sei que devo me afastar o mais rápido possível desse local, seja ele qual for.

Subitamente me deparo com um homem que vem em minha direção. Não consigo ver seu rosto, que se esconde sob as sombras da noite.

'Parado! Policia! Largue a arma e coloque as mãos para o alto!', grita o sujeito.

'Puta...!' Digo um palavrão em voz alta. Algo me diz que eu não deveria utilizar palavras tão vulgares e de tão baixo escalão, porém a vontade de fazê-lo é maior. 'Policia? O que diabos eu fiz para estar sendo perseguido pela policia? Pro inferno!' penso, enquanto instintivamente puxo uma taurus guardada em um coldre em meu dorso. Estranho como até momentos atrás eu sequer suspeitasse da existência da arma. O fato é que em questão de segundos e puxo a arma e atiro apenas uma vez no sujeito. O tiro é certeiro. O sujeito cai, provelmente morto antes mesmo de seu corpo tocar o chão. Sou bom nisso. Não sei como eu sei disso, mas no fundo de minha mente uma voz me diz aquele não havia sido um lance de sorte.

'Vamos irmão! Entre aqui, rápido!', grita uma voz que vem de uma porta que se abre a minha esquerda. 'Essa voz...' penso reconhecendo nela uma estranha familiaridade.

'Ei, Policia! Parado ai! Ele esta aqui! Vamos! Vamos!' gritam outros homens que vem correndo em minha direção.

'Droga, mais tiras!' Decisão cruel... O que devo fazer? Confiar em uma voz desconhecida, porém familiar ou o encarar as rajadas de tiro da policia que são disparadas em minha direção? É... acho que não tenho muitas opções... Com uma agilidade felina eu pulo porta adentro, quando em seguida o estranho a fecha rapidamente.

'Vamos Coiote! Rápido! Siga-me!' ele grita enquanto corre por um estreito e tortuoso corredor.

Coiote... seria esse meu nome, ou melhor, codinome? Não sei... haverá tempo para descobrir isso depois.

Corremos por uns 10 minutos através de caminhos sombrios que formam um verdadeiro labirinto de subidas e descidas. Para melhorar o cenário, os odores nauseantes do local me dão a exata impressão de estarmos correndo pelos esgotos.

'Aqui irmãos! Entrem!' grita alguém no final do corredor através de uma porta que se abre. Policiais armados, portas que surgem do nada, rostos cobertos pelas sombras...

Conforme nos aproximamos homem que gritou fica pronto para tornar a fechar porta. Atrás dele uma forte luz o impede que eu veja seu rosto. Essa falta de rostos visíveis já começa a me incomodar.

Atravessamos a porta e a mesma se fecha. Há minutos atrás eu poderia jurar que estava correndo pelos esgotos, porém agora me vejo no centro de um grande salão.

Pouco a pouco meus olhos se habituam a luminosidade do local. O salão é imenso. Uma dúzia de homens me observam, quando um homem albino como uma cicatriz no lado esquerdo do rosto se aproxima de nós e fala com meu guia.

'Meus parabéns Silas. Você me surpreendeu. Primeiro por conseguir capturar um dos cães da irmandade. Segundo por cumprir com sua palavra...'

Não direito o por que, mas esse diálogo em nada me agrada...

'Arthur...' o albino se vira em minha direção 'Quem diria que um dos melhores assassinos da irmandade seria capturado tão facilmente por um mercenário...'

As figuras se aproximam de mim lentamente. Sinto que toda a segurança inicial é substituída por uma crescente hostilidade. Minhas mãos são mais rápidas que meu pensamento. Antes que eu me de conta puxo minha arma. Dois deles caem, antes que eu sinta uma agulha sendo enfiada em meu pescoço... minhas pernas bambeiam, minhas pálpebras se fecham e o mundo some ao meu redor...

...

'Senhora... Permissão para entrar?'

'Sim irmã Sara. Entre. '

'Senhora, Arthur foi capturado!'

'Estou a par dos fatos irmã. Uma lastima. Sem dúvida uma lástima.'

'Senhora me perdoe, mas eu a alertei sobre o caráter de Silas. Aquele cão venderia a própria alma caso conseguisse um bom retorno. '

'Sim irmã, você me alertou. Porém essa era um chance única que não podíamos arriscar a perder!'

'Senhora, a língua de Silas é a língua do diabo. Nada que sai de seus lábios é digno de confiança. Mentiras e traição, esse é seu lema. A queda de Arthur foi um punição de Deus por termos confiado em um ímpio.'

'Irmã Sara, acalme-se. Que Silas não é um dos comprometidos com nossa causa e que suas ações não seguem as nossas regras são fatos inquestionáveis. Porém você a de lembrar que seus serviços nos foram muito úteis e suas informações valiosas no passado. '

'Sim Sra. A Sra esta certa'

'Estou mesmo, minha filha. Vou lhe ser sincera: tenho poucas esperanças de que possamos resgatar Arthur com vida. Ele é forte, honrado e iria preferir abraçar a morte a entregar nossos segredos.'

'Sra...'

'Acalme-se irmã... uma coisa eu lhe garanto. Arthur será vingado. Nossa missão triunfará, a irmandade atingirá seus objetivos e o traidor Silas arderá no círculo mais profundo do inferno para todo sempre. Por isso se acalme, volte a seu quarto e ore.'

'Sim sra! Farei isso.'

'Vá. Que Deus esteja convosco!'