Morte no Camping - parte 2 de 3

---- Putz! essa é boa. - disse Márcio

---- Pois é, e daí em diante as coisas não pararam mais de acontecer. Na páscoa de 90 encontraram mais uma moça. Estava dentro de uma barraca em um camping de Peruíbe no litoral Paulista. Um outro campista disse que observou que a moça não aparecia mais e resolveu olhar a barraca. Havia lá um corpo debaixo das cobertas. Ele estranhou porque era dia de sol. Chamou-a e ela nem se moveu. Então notou a rigidez do corpo. Não havia sinal de respiração alguma. Algumas moscas começaram a entrar na barraca. Certamente não entraram antes pois estava tudo fechado. A Polícia e o corpo de bombeiros foram chamados. Ninguém pôde dizer que havia visto movimento na barraca da moça. Tudo fora feito na surdina da noite. Quanto aos que estavam ali todos eram casados. E as esposas confirmaram que todos os maridos passaram a noite junto de si. Então puxaram pelos que haviam saído do camping nos dois últimos dias. Cinco rapazes solteiros. Cada um havia chegado e saído separado um do outro. Consultaram os endereços na ficha de entrada. Descobriram então que dois endereços eram inexistentes. Um tal de José Aparicio dos Santos deu o endereço de São Paulo. Não existia tal endereço. O dono do camping disse que ele tinha cara de mau. Andava sempre sozinho, não ria e parecia estar sempre com medo. E o outro era um rapaz bem educado, bonito, bem alegre que todos se lembravam bem, pois fizera amizade com todos facilmente. Dera o nome de Alexandre Mattos e o endereço de Mongaguá, litoral paulista. Não localizaram o endereço. Descobriram mais tarde que o tal de José Aparício era Procurado em São Paulo por esfaquear um homem em um bar. O prenderam e ele negou o crime do camping. Quanto a Alexandre Mattos, apesar de fazer retratos falados não souberam mais nada.

---- Mas ele não tinha que apresentar documentos para entrar no camping?

---- Muitos donos de camping pedem, mas não é obrigatório, desde que forneça todos os dados. E depois segundo o próprio dono, o rapaz era de uma simpatia que nunca se suspeitaria dele.

---- Um lobo na pele de cordeiro. - completou Carla.

---- Exatamente! - disse Everaldo pegando um milho e o fazendo pular de uma mão para outra e em seguida soprando-o.

----- E nunca o pegaram? - quis saber márcio.

----- hí rapaz, a história é comprida. Sabiam que era a mesma pessoa pois deixara uma marca em todas as vítimas.. - colocou uma pitada de sal em cima do milho assado.

----- Que marca? -- quis saber Carla.

----- Ele cortava o dedo indicador de todas elas.

----- Conta mais! E depois da páscoa de 90? Ele voltou a atacar de novo? - perguntou curiosa Ana Carolina.

----- Segundo a polícia ele parecia estar percorrendo o Litoral Paulista, indo em direção ao sul. Mas em Dezembro de 1990 ele contrariou essa opinião. Na serra paranaense, divisa com São Paulo, foi encontrado um corpo de um rapaz com os sinais idênticos de mais uma obra do Matador do Camping. Na verdade foram uns caçadores que encontraram o corpo, quando os cachorros em uma noite de lua farejaram o cadáver. O estado de decomposição era avançado. Os legistas deram uns 20 dias atrás para a morte do rapaz. Ocorre que somente o policiamento do Litoral estava a par da existência do Matador e seus modos de operação. Dias depois em um balneário de águas termais, distante cerca de 120 quilômetros de Cambará no Paraná, encontraram mais um corpo. Depois de informadas todas as autoridades chegou-se a conclusão que era o mesmo homem que agira no litoral. O rapaz morto nas águas termais havia informado aos seus pais que iriam acampar com um amigo que conhecera em um bar. Os pais ainda falaram que era perigoso, coisa e tal, afinal nem conhecia o outro direito. Mas sabem né, vocês jovens, quando colocam alguma coisa na cabeça não tem quem tira. O rapaz morto era muito independente. A policia chegou a saber que volta e meia usava cocaína e com freqüência maior fumava maconha. Mas nada disso ajudava a polícia. O retrato falado do suspeito batia com o retrato feito do morto encontrado pelos cães.

---- Mas como fizeram o retrato falado? Os pais do morto conheciam o Matador?

Everaldo sorriu.

---- Não! - tomou um gole de vinho e jogou mais um pedaço de madeira no fogo - Pegaram depoimentos do pessoal no bar. Apesar de haver muita contradição e muitos disserem não lembrar, conseguiram fazer o tal retrato.

----- O homem era um camaleão!- disse Carla - Credo, chega a dar medo! - E tremeu com o pensamento.

Ana Carolina riu e Márcio a ajudou.

---- O pior é que não era um homem! Corria a lenda de que era um jovem, que não devia ter mais de 18 anos. Diziam que não envelhecia nunca. E logo inventaram uma porção de histórias.

----- E ele voltou a atacar?

----- Sempre voltava! a Policia mantinha constante vigilância para desconhecidos nas cercanias onde os últimos assassinatos aconteceram, mas não conseguiram nada. Sabiam que agora teriam que esperar um outro feriadão para poderem pegar o Matador do Camping.

---- Então ele só atacava em feriados? - perguntou Márcio

---- Isso! É quando as pessoas saem de suas casas em busca de paz e tranqüilidade ou mesmo para fugirem da monotonia do mundo moderno e ás vezes ficam mais suscetíveis e abertas a novos relacionamentos e amizades.

----- E aí? a polícia pegou ou não pegou ele? - quis saber Ana Carolina

---- Bem! A polícia nunca divulgou os números exatos de morte que ele praticou, uns diziam ser perto de 20 outros que chegava a 30. No carnaval de 94 ele quase deu um passo em falso.

----- Como foi isso?

----- Ele foi parar em um camping de Santa Catarina com o nome de Marcos Barroso. Os donos do camping quando indagados sobre ele disseram que era um rapaz que parecia ser simples e calmo. Estava sempre sozinho. Não era muito de falar. Disse que tinha um problema na perna direita e então volta e meia saia para caminhar pela praia. Observaram que realmente parecia sentir dores na perna. Ficava ás vezes horas na frente do bar do camping, olhando para ás águas do mar. Parecia mesmo muito triste, disse a velha cozinheira do Camping. Como vocês já disseram era um senhor camaleão. Assumia a personalidade adquirida com enorme facilidade. Então ele resolveu ir até um clube pular carnaval. Lá estava Cristina. Ela tinha 37 anos e havia pouco menos de um ano tinha se separado. Observou aquele rapaz bonito, de camiseta branca e bermuda, que mantinha-se sentado em uma mesa, com uma perna estendida sobre uma cadeira dessas de bar, plástica. Ela sorriu para ele, e este respondeu com um aceno de cabeça. Não deu muita atenção, mas logo olhou para o lugar onde o rapaz estivera e não o viu mais. Subitamente o viu ao seu lado, escorado no batente da porta do clube. Um copo de uísque na mão. Olhando por cima de todos como se buscasse alguém. Cristina tentou lhe chamar a atenção. Não sabia bem como fazer. O rapaz parecia bem mais novo que ela. Começou a dançar e quando voltou-se o rapaz já não estava mais na porta. Olhou para fora. Lá estava, debaixo da fina garoa que caia, tomando sua bebida como se nada mais importasse. Ignorava o frio e a chuva fina. Noite adentro Cristina viu que todos os seus amigos já haviam saído, ao seu lado estava o estranho rapaz. Sorriu para ela e ofereceu do copo para beber.

----- Puxa! Você conta essa história com tantos detalhes!- disse Carla.

----- É para dar mais suspense! Vocês não estão com medo né!? - perguntou pegando o garrafão de vinho e virando-o por sobre o punho e enchendo o copo.

----- Claro que não! Continue! A Carla é que é medrosa!- disse Ana Carolina.

----- Bom, eles começaram a se beijar e a se excitar. Cristina contou a policia que ele era muito,,, como dizer...excitante...diferente....falava coisas que ela nunca tinha ouvido. No começo ela não quis acreditar. Ela já era avó, e um rapaz com a idade do seu filho estava lhe beijando e abraçando. Ele então ficou falando coisas estranhas para ela.

----- Que coisas estranhas?

----- Quando eles saíram do clube para caminhar na areia, eles estavam bastante excitados, pelo álcool, pelo contato...essas coisas de homem e mulher...então ele começou a falar que iria levá-la para a sua barraca, que a faria gozar como nunca gozara. Ela se sentiu novamente no tempo de moça quando namorara o antigo marido com quem vivera 21 anos e só conhecera o sexo tradicional. Essa novidade a excitava, a fazia sonhar. Mas o rapaz evitava falar de si. Então depois de ficaram rolando na areia da praia molhada, com muita esfrega e sem penetração, pois ele avisou a ela que não estava com camisinha (o que a fez acreditar nas boas intenções dele) resolveram voltar para o clube. No meio do caminho pararam em um bar com música ao vivo. Ali ele deu o nome de Marcos, deu um número de telefone. Cristina ainda estava com medo. Não sabia explicar o porque disso. Talvez as brincadeiras dele, dizendo que iria arrancar seu pescoço e em seguida dava um sorriso. Era um misto de desejo com medo. Como se alguma coisa ruim fosse acontecer.

Ficaram de se encontrar no dia seguinte. Pela manhã do dia seguinte a mulher ligou para o número que ele havia dado. Quando á noite eles se encontraram e ela disse que havia ligado para a casa da mãe do rapaz não notou nada de estranho nele. É que os familiares ainda não sabiam que o corpo de Marcos jazia em um riacho perto de um morro distante trinta quilômetros dali. Ela chegara mesmo a pedir para a mãe do rapaz se ele melhorara da perna, no que a velha disse que ainda não. Estava tudo dando certo para que ele fizesse mais uma vítima. Então enquanto iam caminhando em direção ao acampamento ela disse a ele que como estava com medo confiara a uma amiga o que acontecera na noite anterior. E disse que a amiga o havia visto na noite anterior e o achara “um gato”. Isso estragava seus planos. Já eram duas horas da manhã, no camping todos estariam dormindo. Poderia entrar com ela sem ninguém perceber. Mas essa história da amiga, frustrava seus planos. Inventou uma desculpa, dizendo que os donos do Camping talvez não permitissem mulheres entrando com um solteiro no meio da madrugada. Se o pegassem com ela poderiam expulsá-lo. Cristina, achou meio estranha aquela súbita mudança de atitude do rapaz pois até a pouco insistia para que fosse com ele para o camping, mas se calou e resolveu voltar de mau grado. Ele disse que iria ficar no camping, pois sua perna estava doendo muito. Foi gentil, mas insistiu que não poderiam mais se ver. Ela achou que o sonho tinha acabado. Havia em sua bolsa até um caixinha de camisinhas, já que ele falara que não possuía nenhuma. Disse a ela que sua noite terminara e que iria para casa. Ele ainda tentou brincar com ela dizendo que na verdade sentia muito, mas não poderia matá-la naquela noite. A moça saiu dali caminhando rapidamente e com medo.

----- Credo! O cara era mesmo muito estranho! - disse Carla.