O SONHO

Meu relógio marcava meia noite. Cansado e com sono, eu vinha caminhando pela rua deserta, quando ouvi umas pisadinhas atrás de mim. “Senti um frio no estômago”.

O susto veio como reação espontânea, eu não sabia se apertava o passo, se parava de vez, ou se andava vagarosamente. O medo tinha tomado conta de mim, pois além de ser um lugar ermo, a escuridão era tanta, que dificultava a visão de qualquer vulto circulante naquele breu interminável.

Quis correr, mas minhas pernas já não respondiam o comando do meu cérebro e tudo o que tinha a fazer, era aceitar aquela situação fisiológica e continuar à frente, mesmo no descompasso trêmulo dos meus músculos, sem deixar transparecer ao suposto acompanhante de retaguarda, que eu estava assustado.

Segui, olhar sorrateiro, desconfiado, no embalo desajeitado dos meus movimentos; ora rápido, ora mais lento e na seqüência do meu caminhar desesperado, percebi que aqueles passos me acompanhavam no mesmo ritmo em que eu me movimentava e foi aí que tive a seguinte idéia: __ Vou olhar para trás e se for gente, cumprimentarei normalmente, puxarei conversa e continuaremos a seguir como se nada de grave estivesse acontecendo, mas,e se for assombração? Bem, aí eu já não responderei por mim.

E num lapso, olhei em direção ao meu algoz e tamanha foi minha surpresa, apesar da escuridão, constatei que aparentemente não havia ninguém me seguindo, aí ouvi soar uma voz que dizia aos meus ouvidos:

__” Hei, eu sei o que é que tanto lhe apavora e qual é a razão da tua insegurança”!

Então, mesmo tremendo de medo, parei e indaguei: __ Quem é você? E por quê está me seguindo, justamente nesse lugar?

E a voz me respondeu: __ ”Eu sou a sua inconsciência, estou e estarei contigo em todo tempo e lugar, até o fim dos seus dias, eu sei que às vezes pareço imperceptível, mas, sempre tive e terei o domínio sobre seus pensamentos, a sua coragem e os seus medos e os passos que tu ouvias a acompanhar-lhe quando imaginavas estar sendo acompanhado, nada mais era do que o reflexo dos teus próprios passos que se projetavam em duplicidade na vastidão da tua mente atormentada pela violência em nossos dias, que aterroriza, amedronta e destrói as sociedades organizadas, fazendo-o temeroso do seu próprio destino.”

No instante em que ouvia aquele relato psíquico/ filosófico dessa tal “inconsciência”, senti pequenos trancos em forma de chacoalho entre a cabeça e o abdômen e acabei sendo acordado de vez pela minha esposa, que insistentemente me dizia:__ “Acorda Zé, já é dia, levanta senão você irá perder a hora”.