A VERDADE SOBRE MIM

Sentei-me confortavelmente na mesa e pedi um cafe expresso for-

te.

O atendente anotou meu pedido e enquanto o aguardava meus

olhos se perdiam no movimento da cafeteria.

Quanto tempo havia se passado desde a ultimo encontro, alias,

quanto tempo eu estava limpa.

O atendente chegou com o cafe, bebi a bebida em suaves goles

relembrando os ultimos acontecimentos.

Quantos atos insanos de repente se eu me levantasse e fosse em-

bora carregaria as duvidas sem jamais ter as respostas.

Mas meus pensamentos conflitantes foram interrompidos por sua

chegada.

O olhei com o coraçao aos pulos como sua presença tinha o poder

de me iluminar.

Nao me sentia mais perdida e vazia o simples fato dele estar ao

meu lado acalmava todos os meus anseios.

Talvez meus olhos expressassem a carencia da minha alma sem a

necessidade das palavras.

Ele me abraçou num gesto fraternal e humano acalmando minha

angustia e saciando minha saudade.

A segurança daqueles braços era o aconchego que tento eu neces

-sitava, era como se houvesse perdao aos meus devaneios.

Nao mais me sentia impura e sem conter as emoçoes minhas lagri-

mas rolaram pela face.

Ele afagou meus cabelos, me deixei ficar no conforto do seu acon-

chego desejando que este momento nao terminasse.

A estrada havia sido demasiadamente dolorosa, tantos erros e ten-

tativas frustradas de acertos.

Mesmo que eu soubesse que esta seria a nossa ultima conversa em

minhas ilusoes queria que jamais houvesse despedidas.

Quando ele tirou do bolso do casaco o envelope queria parar o tem

-po ou simplesmente nao enxergar que havia chegado o momento.

Estendi a mao, o silencio cortava toda a ternura do encontro dei-

xando o momento frio.

Havia chegado o momento da escolha, partir e recomeçar ou per-

sistir diante dos fracassos.

O beijei desaguando toda a verdade de uma paixao que me mante-

ve viva.

Ele nao recuou, pela primeira senti que compartilhavamos dos mes-

mos sentimentos despidos de qualquer culpa ou remorso.

Quanto amor transbordou diante daquele beijo e se eu pudesse vol

-tar ao tempo certamente jamais teria seguido minhas ilusoes.

Pela ultima vez afaguei seus cabelos e o abracei como se a vida

dependesse deste ato para existir.

Vi lagrimas em seus olhos, quanto nos ferimos por egoismo, por

quantos caminhos obscuros me perdi.

De repente a vida me confrontava diante da verdade e de o quan-

to fui ingenua e tola.

A vaidade me levou para o abismo me jogando de encontro aos

caprichos mundanos.

Mas eu estava limpa, havia superado meus medos e duelado com

os meus fantasmas.

Hoje ja nao precisaria recorrer a meios ilicitos para saciar meus te-

mores.

Peguei o envelope e o guardei no bolso do meu pesado casaco de

inverno, me levantei e fui caminhando em direçao a porta.

O olhei tentando conter as lagrimas em vao elas caiam num mani-

festo de tristeza.

Ele me acenou coma mesma serinidade dos velhos tempos, alcan-

cei a rua.

Fui caminhando entre a multidao que passava apressada com seus

mundos particulares.

Coloquei as maos no bolso do casaco apalpando o envelope que

certamente continha sua economias.

Dei um demorado suspiro agradecendo por sua infinita bondade e

alcancei a estaçao de trem.

Estava paga a minha divida mesmo que isto me obrigasse a perde-

lo.

Talvez eu nao o perdesse porque jamais o tive, comprei a pas-

sagem de trem e me dirigi a plataforma de embarque.

Embarquei deixando para tras toda uma vida, uma vida composta

de erros e perdas.

Recomeçaria em qualquer outro lugar, mas para sempre meu cora-

çao o pertenceria.

Neste instante percebi que jamais de fato eu me libertaria do pas-

sado uma parte de mim estava presa a ele.

Um amor incondicional e verdadeiro que tarde demais descobri sen-

tir e o qual recusei por minha imaturidade e fraqueza.

CAMOMILLA HASSAN

CAMOMILLA HASSAN
Enviado por CAMOMILLA HASSAN em 05/09/2008
Código do texto: T1162573
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