O MENINO COM NOME DE ANJO.

Eles eram poucos. Cinco jovens perdidos numa floresta cinza. Sobrevivendo aos tormentos do grande Senhor daquelas terras amaldiçoadas. As canelas finas, rosto fundo. Lembravam carrancas que talvez apenas os índios mais antigos poderiam imaginar existir. Olhos fundos e vidrados, de um branco inigualável,com apenas um ponto agudo e escuro no centro.

A fome desaparecera junto com seus sonhos, assim como a sede e a cansaço, que de tão próximos foram sendo esquecidos, encarados como uma triste verdade constante. Viviam por instinto, como um bando de hienas, que sobreviviam do desperdício dos leões, e de um momento de distração dos abutres.

- Vida Maldita! – Gritava um deles, o que nascera com nome de anjo. Os outros nada diziam, apenas baixavam seus rostos deformados. E quando notavam seus pés sujos e suas unhas encravadas, apenas concordavam em pensamento, depois tentavam esquecer tudo aquilo. Bebiam da água ardida, que nunca lhe matavam a sede, mas faziam seu corpo esquecer, sua mente adormecer.

Dias bons eram esses, onde a comida era escassa e as horas eram esquecidas pela água ardida. Nesses momentos eles esqueciam o que eram. No fundo apenas um bando de hienas, como todos queriam ver. No entanto, havia dias em que os terríveis demônios azuis saiam ao seu encalço. Engolindo as estradas, zunindo por onde passavam.O coração acelerava quando seus gritos estridentes atravessavam como flecha seus ouvidos. Todos ficavam inquietos, não sabiam como ou para onde fugir. Os olhos vermelhos cintilavam como labaredas sedentas por lamber tudo e levar a destruição.

Alguns choravam, outros corriam. Apenas um deles ficara ali, sentado sobre o poste, esperando pelos demônios. Lágrimas silenciosas brotavam daquela rosto magro, com aqueles olhos arregalados. Ele apenas observava uma imensa mangueira, que imensa, com suas copas grandes e escuras tinha aquela altivez divina com contraposição ao céu avermelhado e sem estrelas. O menino com asas de cera sempre lhe havia dito para sonhar. “Mas hienas não sonham!” replicava o menino com nome de anjo. Agora ele se entregava aos demônios azuis. A morte lhe veio lenta, dolorosa. Como um enorme castigo por ter nascido. Sentiu a vida escapar-lhe entre os dedos a cada estocada quente atravessando o corpo magro e fraco.

Demônios azuis nem sempre os matam. Apenas o entregam ao senhor de terno branco, que os escravizam com sua essência, consumindo-os pouco à pouco.

Asas de cera e espadas de madeira não salvam a humanidade. E o menino com nome de anjo perdeu-se com seu novo senhor, deixando cada dia mais distante aquele nome angelical. Esquecendo quem foi.

Por trás dos portões de aço de seu forte, o menino com asas de cera viu aquele terno branco levar vida e sonhos de todos. Mas ele nada fez. Asas de cera e espadas de madeira não salvam a humanidade.