Rio Araguaia e Flôr do pequí

Sigo a trilha, permito-me tocar a relva com os pés desnudos.

Ao chegar à margem do Araguaia, deito meu olhar no dourado das águas do final da tarde.

Ao longe ouço os botos falando sobre o amor.

Borboletas coloridas estão ornando as ondas dos meus cabelos.

Me dispo das únicas peças que me vestem, e nua me entrego à carícias da água abençoada por Tupã.

Entôo uma canção e a Iara faz o refrão, sou como ela uma sereia solitária, com a diferença de que não posso atrair para sempre o homem que amo.

Não segui as tradições e amei um caraíba.

Peixinhos fazem cócegas em meus pés, quando percebo minha risada ecoa pela selva.

Me deito sobre uma pedra, o sol seca gota por gota da água em meu corpo.

A noite está se aproximando, as borboletas se foram, os sons dos insetos invadem o entardecer.

Digo ao Rio, vou mas volto amanhã meu Araguaia. E comigo trarei meu amor no peito, para suas águas acariciarem.

Nesta terra estão minhas raízes, com grande ternura, peço que aceite um singelo beijo de sua flor do pequí.

Sigo de volta pra aldeia com os vagalumes sinalizando meu caminho, ao olhar para cima, vejo Jaci cuidando de mim.

Há sementes suas, caraíba, plantadas na iby do meu coração. E elas germinam todos os dias quando meu Araguaia me toca.

Mary Rezende
Enviado por Mary Rezende em 09/04/2009
Código do texto: T1530681
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