O eqüino da montanha

Enquanto eu caminhava pela estreita estrada de terra em um pequeno município no interior do Rio de Janeiro, um jovem passou as pressas por mim. Sua respiração ofegante expressava seu desespero.

Então eu não resisti e gritei:

_ Hei garoto! Aonde vai com tanta pressa? Aconteceu algo?

Ainda muito ofegante ele responde:

_ Tio, não vá por aí, pois, ele acabou de aparecer de novo.

E com uma corrida o garoto desaparece em meio à poeira da estrada. Continuei meu caminho muito apreensivo. Será que é algum bandido que acabara de sair da prisão e voltou para aterrorizar ? Ah! Logo vou descobrir.

Mais à frente percebo alguns senhores caminhando juntos em direção a uma antiga montanha, todos possuem uma vestimenta branca, porém o mais estranho, é que mesmo que eu me esforce não consigo observar os seus rostos. Ao passar pela espécie de procissão percebi que muitos deles, traziam consigo uma bacia de plástico com algum conteúdo. Curiosamente me aproximei discretamente e tentei olhar dentro do recipiente, quando olhei, tomei um baita susto, meu estomago ameaçou regurgitar imediatamente. Eles carregavam corações de cavalos, para apresentar como um tipo de sacrifício a alguma coisa.

Agora definitivamente decidi me juntar a eles e segui-los até onde fosse necessário para descobrir tudo sobre o suposto ritual. Dei a volta como se fosse sair do grupo e me coloquei no final da fila, abaixei a cabeça e segui junto com eles. Passaram-se horas, e então

a noite caiu, e começamos a subir uma montanha escura e a vegetação fechada me assombra cada vez mais. Murmuros de corujas ecoam por toda parte. Os homens conversão entre si, mas eu não consigo entender o que eles falam, são palavras jamais ouvidas antes, parece um tipo de reza. Até que, se passam horas, e todos reunidos formam um círculo e colocam as bacias repletas de sangue, todas juntas formando um tipo de cruz. Então um deles grita: ele está vindo!

Nesse momento, um imenso relâmpago emergiu no céu provocando um poderoso clarão e um estrondo apavorador. Uma forte chuva cai intensamente e a ventania sopra sem piedade. Os homens se aglomeram entre si e se entre olham assustados, foi então que percebi que algo saíra do controle. Procurei um lugar seguro para me esconder. Foi quando comecei a ouvir um mugido horrível seguido do barulho de galhos se quebrando com voracidade. O solo tremia como se fosse um terremoto chegando, sons de fortes galopadas aumentavam cada vez mais, se aproximando de nós. A correria foi eminente, disparei-me a correr em direção de uma velha árvore repleta de cipós, agarrei-me a eles e comecei a escalada. Ao chegar nos galhos mais resistentes, me segurei firme e olhei para baixo, e no meio de tanta gritaria e vozes agonizantes, eu pude ver a horripilante criatura. Era uma mistura de corpo de cavalo com cabeça de javali. Seu corpo era muito robusto e repleto de músculos, sua cabeça e patas eram gigantescas. Ele pisoteava os homens em seu caminho, e a cada homem pisoteado ele emanava um mugido assustador. No momento em que eu observava seu devastador ataque, repentinamente ele para, e caminha à frente da minha árvore, onde me refugio. levantando a cabeça lentamente em minha direção, ele me observa com seus enormes olhos vermelhos e ao mesmo tempo lacrimejantes, e começa a se distanciar. E após um forte mugido ele corre em círculos por alguns segundos e logo dispara a correr em minha direção dispersando uma forte cabeçada na árvore. O forte impacto rachou a árvore, que cai lentamente curvando-se para trás. Agarrei-me firmemente a ela, e ambos fomos ao chão !

Na queda, acredito ter desmaiado, pois, entre uma visão turva eu visualizava duas chamas vermelhas em seus olhos e esta foi se apagando ao se aproximar de mim.

Quando sou tocado suavemente por alguém, consigo acordar e logo vejo uma mulher toda de branco, ela sorri para mim e pergunta se estou bem, respondo que sim.Agora sim!

Ela em seguida sai do quarto e então percebo que estou em um hospital e logo entram alguns de meus familiares. Então eu pergunto: o que houve?

_ Eles me disseram, que eu estava dormindo quando fui surpreendido por um ataque cardíaco quase fatal, e me levaram as pressas para o hospital onde eu estava. Contaram também, que eu fiquei em coma profundo por alguns dias. Fiquei muito assustado com a notícia. Contudo, não contei a eles o que eu havia vivido no coma, mais sei que: aquele ritual era pra ter sido a minha passagem para morte.

Jamais desejo sonhar novamente, com: o eqüino da montanha.

Fabiano Moreira
Enviado por Fabiano Moreira em 30/09/2009
Reeditado em 24/03/2014
Código do texto: T1840183
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