... Continuação.
 
A lenda de Hiphitusi


11. A escalada mortal 

 
Uma poeira acumulada, formada talvez pela deterioração das paredes e do teto, cobriu todo o ambiente onde se encontravam. E por quase 30 segundos, todos ficaram paralisados aguardando o pior.
Assim que o tremor passou e a poeira baixou de vez, puderam ver um dos carregadores caído no chão, se contorcendo de dor.
Assim que Roi pressionou a pedra, subiram do chão estacas pontiagudas em duas fileira paralelas, que iniciaram sua aparição do meio do cômodo e foram seguindo em linha reta para leste, oeste, norte e sul, subindo pelas paredes e parando próximo ao centro do teto.
O carregador atingido era o único deles que se encontrava no caminho das estacas, e teve uma grave perfuração que rasgou sua perna, na parte detrás da coxa direita, por onde o sangue fluía livre.
-- Precisamos conter a hemorragia! – Disse Vanuzia com urgência ao correr para ajudar, assim como fizeram todos.
Kedaf chegou antes dela e já rasgava com um pequeno punhal afiado a calça ensangüentada do carregador. Após examinar o ferimento rapidamente, enrolou na perna dele neste mesmo pedaço de pano, fazendo um curativo improvisado.
-- Não atingiu nenhuma artéria! – Disse Kedaf acalmando os demais – Levem-no para fora e cuidem dele.
Enquanto o segurança e o outro carregador levavam a vítima da armadilha recente para o exterior do templo, Vanuzia se aproximou mais do príncipe, o tocando no braço.
-- Tem mais alguma profissão que eu não conheça Kedaf?
-- Ah, é só uma das curiosidades que tive na minha formação: a anatomia humana! – Disse ele omitindo detalhes da verdadeira resposta que passou por sua mente.
Ele estudara sim e profundamente todo o corpo humano, mas com a intenção de conhecer todos os pontos fracos que os homens possuíam e com isso vence-los mais facilmente. Sabia claramente que se a estaca tivesse rasgado a parte interna da coxa do carregador, poderia ter cortado uma das artérias principais que levam o sangue até o coração, o que provavelmente o mataria.
-- Que bom que temos alguém para cuidar de nós! – Disse a exploradora com uma expressão encantadora no rosto, que deixou Roi enciumado.
-- Farei o melhor que puder! – Falou o príncipe sério – Mas Roi, o que foi isso que fez?
Pego de surpresa e ainda olhando para a mulher que amava, ele ficou sem palavras, dando a chance para Kedaf o “apunhalar” mais uma vez.
-- Você mesmo pediu cuidado, mas agiu de forma irracional! Poderia ter matado alguém, ou todos nós! Seja mais cauteloso no futuro...
E sem dar chance para que Roi retrucasse, voltou até o baú.
Vanuzia permaneceu ao seu lado e o abraçou.
-- Não ligue meu amor, ele só está nervoso! – Cochichou ela em seu ouvido – O importante é que todos estamos bem! Venha, vamos procurar por outras pistas.
Ela o puxou pela mão, mas Roi bem mais forte a puxou de volta e novamente a abraçou.
-- Cuidado com ele – Sussurrou em seu ouvido lhe dando um leve beijo nos lábios. E retornaram ao centro de mãos dadas, com a exploradora sem entender direito o que ele queria dizer.
Procuraram por todas as paredes algum detalhe que poderia ter sido ignorado. Novamente foi Roi quem percebeu algo no centro do teto, um tipo de relevo quadrado, mas que não conseguia visualizar direito devido a distância e a iluminação do local. A pouca claridade que vinha da parte externa agora se extinguia com a chegada da noite e somente a luz da lanterna não era o suficiente.
Mostrou para os outros dois o que havia encontrado.
-- Vou subir até lá! – Informou ele.
-- Vamos deixar para amanhã durante a luz do dia. – Sugeriu Kedaf.
-- Não podemos! Tenho um pressentimento de que não temos tanto tempo assim.
E como que para confirmar a suspeita de Roi ouviram um estalo quando as oito primeiras estacas que apareceram antes, duas de cada lado e que se encontravam mais próximas ao centro, retornaram para dentro do piso.
Roi correu para até o fundo do templo e começou a escalar a parede com a ajuda das estacas.
Outro estalo e mais oito estaca desapareceram.
-- Saiam daqui, não sei o que pode acontecer! – Disse ele enquanto acelerava a escalada.
-- Não podemos deixar você aqui! – Gritou Vanuzia apertando as mãos.
-- Vão! – Disse ele novamente quando chegou ao teto e mais um estalo se ouviu.
-- Entramos juntos, sairemos juntos! – Disse Kedaf de uma maneira que claramente encerrava o assunto.
Roi suspirou e como pode foi escalando o teto de ponta cabeça, segurando nas estacas com os braços fortes e abraçando com as pernas as estacas que ficavam para trás. Olhando de baixo eles tinham a impressão que ele deslizava devagar por entre as estacas.
Um novo estalo.
O guia havia chegado até a metade do caminho quando o intervalo entre os estalos pareceu diminuir.
-- Volte Roi! – Gritou a exploradora aflita.
Ele não lhe deu atenção. Continuou se enroscando como podia seguindo rumo ao centro, com o suor ofuscando-lhe a vista.
Um novo estalo.
Faltavam cerca de três metros.
Outro estalo.
Quando Roi finalmente chegou ao centro do teto, as estacas que ainda estavam para fora do piso se encontravam próximas à parede. Viu que o relevo do teto possuía um desenho idêntico ao da base onde se encontrava o baú, com as mesmas quatro flechas apontando para o centro. Só que não havia nenhuma pedra ali, somente uma face lisa.
Roi esmurrou o local onde as flechas indicavam e uma portinhola secreta se revelou, abrindo para o lado. Rapidamente enfiou as mãos dentro e retirou um tipo de bolsa que jogou para baixo. Vasculhou até onde sua mão poderia alcançar e não achou mais nada, iniciando o retorno ao mesmo tempo em que berrava.
-- Peguem a bolsa e vão embora! Agora!
Kedaf pegou a bolsa e agarrou Vanuzia pela cintura, a puxando para fora. Ela resistiu, mas ele a convenceu, enquanto as estacas começavam a desaparecer mais rapidamente.
-- Só vamos nos atrapalhar ao tentarmos sair todos juntos por nossa ponte de madeira frágil!
Ela concordou e os dois se foram, deixando Roi para trás.
 

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12. O plano de Kedaf
JGCosta
Enviado por JGCosta em 08/01/2010
Reeditado em 11/01/2010
Código do texto: T2017621
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