MEUS  VIZINHOS


                           Ele era meu vizinho, chamava-se Neco, nunca soube o nome correto...me parecia que era Ernesto, ouvi uma vez a mãe dele chamando la' no fundo...Ernesto..Ernesto..mas não vi quem ela chamava, era la' no fundo do quintal entao não deu para ver, so' ouvi.
                           Era um cara ''feio'', desengoncado, meio truculento, meio sem graca, de poucas palavras, nunca dava bons dias, boas tardes e boas noites entao, nunca, nunca nem via o tal de Neco ali pelas calçadas nas noites de calor, e a vizinhanca so' ali no buchicho, na fofoca.....e minha mulher no meio, ela e as fofoqueiras do bairro so' ali o'...viu?...nao viu??  soube?  não soube??? nãoooo!!! me conta?....contavam, tudo, e aumentavam muito mais.

                         De manha cedinho, ela, minha mulher, ja' ia arrumando a casa, deixava que era um brinco, para que eu não tivesse do que reclamar e o'..perna para que te quero la' pra varrer a calçada...varrer a calçada!!!...ia de vassoura na mao , isto ia...e todas as outras vizinhas tambem...iam varrendo, limpando a calcada e de repente, pronto, virava encontro....encontro das fofoqueiras da rua..todas com suas armas na mão...as vassouras!!

                         E as vitimas sempre eram as mesmas, maridos, filhos...as outras...as outras vizinhas, as que estavam por ali não...as outras...e o Neco...a mulherada tinha uma implicancia com  ele que dava ate' do'..:-

                         E' um vagabundo, não trabalha, fica o dia todo enfiado dentro de casa...não faz nada..dorme...come..ronca..peida...bufa....e ...e

                        E eu falava para minha mulher:-

                        E o que voces tem com isto?...e' assunto seus?...ele pede dinheiro, alguma coisa , para voces?...deixem ele em paz......não deixavam...malhavam mais ainda...e eu tambem entrava na estoria...
                       
                        Por que esta' defendendo aquela '' coisa""?...que ele e' teu?...teu Romeu?...gosta dele?  bom proveito?..bla bla bla...e eu sumia de perto...eu heim?
 
                       Mas eu tambem fui pegando implicancia com ele, coitado, não me fez nada, mas de tanto aquelas sirigaitas faladeiras falarem dele, eu fui observando....era realmente estranho, suas atitudes, suas maneiras e comecei a implicar e cismar com ele e ate' sonhar sonhava...cada sonho!!!

                       E um dia sumiu uma galinha la' do galinheiro que tinha nos fundos, la' na divisa do muro da casa dele e da minha..sumiu não, apareceu morta e estripada...quer dizer, sem tripas e sem a cabeca e um dos pes tambem...o outro ficou.

                       Minha mulher quando viu ja' caiu no grito e no choro e me chamava que nem louca:-

                       Vem ve...justo a carijo'...a coitada tava choca..tava chocando...tinha doze ovos...ia nasce logo...agora gorou...e olhou no ninho...gritou mais ainda...so' casca, tudo quebrado e nem sinal de gema e clara, e muito menos dos '' pintainhos'' os coitadinhos o'' adeus!!!....gritava, e eu mandava calar e não calava..gritava mais ainda e comigo tambem...catei a carijo', joguei no lixo, varri as cascas e ponto final....que nada!!

                        Isto foi de manhã, e foi o dia inteiro a ladainha....coitadinha da carijo'...tadinha!!! e chorava que dava gosto...do' não dava ... dava gosto, eu tinha gosto de ver a '' coisa'' chorando,mas no fundo fiquei com do'...fiquei sim, da carijo' e dos filhinhos que nunca iriam nascer.

                        Acordei ali pelas uma ,...uma gritaria de galinhas no fundo...levantei, corri , pensando...raposa?...gamba?..cachorro?...e catei um pedaco de ferro e fui....no que fui, levei um tranco, um cachorro enorme passou por cima de mim...cai, dei com o ferro na perna, e o cachorro, o' se escafedeu...e ficou um fedo de merda de galinha no meu pijama, meu amigo , nem te conto...que fedo!!!

                       Tive que jogar no lixo....tomei banho duas vezes, que nada do fedo sair, minha mulher me mandou dormir na sala, fui, fui mas ainda sentia o fedo de merda de galinha...credo, que nojo!!

                        Dia seguinte vou ver o estrago...e que estrago!!
 a tela arrombada, rasgada de fora a fora...galinhas? nenhuma e galo ja' era...nem crista sobrou!! galinheiro vazio, em silencio, pena pra todo lado...merda entao!!!...uma cena dantesca...digna de Dante mesmo...sangue, merda, pedacos, penas e marcas...marcas de garras, de dentes...parecia que tinham sidos rasgadas por dentes afiados, unhas pontiagudas...e foram mesmo!!!

                       Deixei tudo do jeito que estava, não tinha estomago para arrumar, consertar...fui chamar seu Vasco, um senhor que faz biscates, limpa quintais, tira entulhos e ele ficou de vir no dia seguinte...ficamos, eu e a patroa, mudos, calados, este dia ela nem foi varrer calcadas...estava amuada, traumatizou...coitada!! a coisa foi seria.
               
                       Madrugada, acordo, uma e vinte...barulho de latas, coisas caindo, levanto, pego um pedaco de caibro e vou, vou mas vou esperto desta vez, o bicho não vai me pegar de surpresa não...dou-lhe uma so no meio das fucas...e fui indo me esgueirando pelos cantos da casa...seguindo a linha da parede...me escondi e fiquei olhando...a lua cheia iluminava bem o quintal..dava para ver bem...e vi...vi ...caralho!!! vi...era...era  eu não acreditava.....andava nas duas patas trazeiras...em pe'...e com as patas dianteiras comia merda de galinha...devorava, gemia baixo ate'..de tao gostoso que tava?...acho que sim...se deliciava!!!

                              Nao dava para ver a ''cara'' do bicho...mas era peludo isto era..e grande e foi comendo e eu olhando, cagando no pijama de medo...com vontade de vomitar de nojo...e o bicho comendo, comendo...e parou, deitou no chão e comecou rolar na merda de galinha...o fedo chegou ate' onde eu estava...não aguentei...coloquei a mão na boca , mas veio aquele som...ooohhhh da ansia de vomito...o bicho ouviu, levantou e veio na direção...eu gelei mas me lembrei o que minha avo' me ensinou"-

                     "" Venha buscar sal amanhã  de manhã na minha casa...""...o bicho estancou...deu um so' urro...urrou pra lua cheia...uuuuaauuuuuuauuuu....e saiu em carreira desembestada...sumiu...e eu fiquei ali todo cagado e fedendo merda humana....dormi ali no chão duro mesmo...fedendo merda e mijado tambem...que de medo me mijei todo!!!

                     Quem me ''achou'', me encontrou, foi seu Vasco, minha mulher tinha dado falta de mim, mas achou que eu teria ido a padaria, parado na banca de jornal, fiquei papeando com o Valter , o dono da banca e nem se preocupou de olhar no fundo...estava la' na calcada varrendo quando seu Vasco chegou, mandou entrar e ele me socorreu...tapando o nariz, coitado do seu Vasco e.....que aconteceu seu Ze'?
                 
                     Contei...ele acreditou e ate' arriscou um palpite:-

                     Neco...falou baixinho, ....não entendi, ele repetiu:-

                     O Neco....e' ele...sussurrava...eu entendi...fiz cara de surpresa e....nãooooo,  seo Vasco, impossivel!!!...

                     Colocou dois dedos na frente da boca, beijou..como prova de verdade....fiquei em duvida, e na duvida me abstive...me banhei, me troquei e fui ajudar um pouco seu Vasco..e escuto minha mulher me chamando de um jeito diferente..nervosa...fui

                      Ela branca , com a vassoura na mão e o Neco parado no portão, esperando e eu fui ver o que ele queria

                      Oi Neco...pois não?

                      Ele de cabeca baixa, raspava o pe' direito no esquerdo, estava descalco, esquisito!!!..não falava...falou:-

                       Posso entrar?....
               
                       Pode Neco, entra...entrou e ficou debrucado na janela da sala, olhando para dentro,. minha mulher apavorada e curiosa!!...queria saber...fiz sinal para sumir...nao sumiu, teimosa!!

                       Seu Ze?..o sr poderia ir dentro da sala?...fui

                       Seu Ze...o sr quebrou meu encanto...vim buscar o sal que o sr.mandou vir buscar e....

                       Nao ouvi mais nada...mas ainda deu para escutar o som do meu tombo no assoalho duro da sala...bum!!!....minha mulher correu, me contou depois, gritando, largou a vassoura e me acudiu...e Neco parado no mesmo lugar....acordei, levantei, meio tonto...e olhei para Neco e  ele:-

                       Estou esperando o sal seo Ze....fui buscar, trouxe o pote e um copo plastico pequeno e com uma colher fui enchendo..enchendo, ate' que ele mandou parar...parei e fiquei olhando...e ele comendo o sal puro...comeu tudo, me agradeceu e sumiu...minha mulher comecou a gritar...tive que contar...saiu correndo contou pra vizinhanca toda...o mulherio virou cacho de marimbondo...vespas zunindo era pouco...a rua virou um pandemonio....do Neca e da mãe dele nem sinall...a casa deles parecia um cemiterio!!!  coitados!!

                       Seo  Vasco  arrumou tudo por la', nem viu, nem ouviu nada...quando contei, apenas falou:-

                       Nao falei!!! e nada mais disse...nunca mais falamos sobre este assunto...ele me confessou que tambem tinha medo, coitado!!!

                       Em compensaçao a mulherada da rua!!!...vichiiii!!!

                      De madrugada escuto barulho na frente, vou espiar e vejo.........mudança?...a esta hora?...era...era o Neco e sua mãe, catando os trastes deles, colocando no caminhão do seo Leopoldo, o vizinho la' do fim da rua e mudando na surdina...desapareceram, sumiram  tanto que nunca ninguem mais ouviu falar deles...ninguem quis mais  morar na casa....ficou vazia um tempão...ate' que veio morar um casal, moços ainda...me pareciam gente boa, mas fiquei na minha...e como so' os via de noite...era so' boa noite...fiquei sabendo que trabalhavam 'a noite...dormiam de dia, e eram pai e filha...estranhei, pareciam moços os dois, apesar que olhando melhor uma vez, uma noite de lua cheia, da minha varanda la' dos fundos, via os dois conversando no alpendre deles....e', pareciam mesmo, pai e filha.

                     Na noite seguinte, me viram, me ofereceram licores, me convidaram para ir ate' la' , fui, .... tomei um de morango, delicioso, meio doce, meio amargo e fiquei sabendo que ele era seu Alucard e ela era Mayra Zaleska..mas gostava de ser chamada de Zaleska...eram russos, armenios, turcos, sei la'...hungaros?  e' talvez...tinham um sotaque forte e bonito...uns dentes alvos, e eles eram alvos, brancos mesmo...que pele!...dava ate' para ver as veias azuis azuis...ele me contou que na sua terra era conde....uau, fiz eu...conde?...que prazer, disse eu, e meio entorpecido pelo licor ja' fui me derretendo pro lado de Zaleska....ela parecia que estava gostando, fui aproveitando...

                      No dia seguinte, comecou tudo de novo....rei morto, rei posto...a mulherada da rua necessitava de '' algo'' e agora tinham..e eu ''punha lenha na fogueira da fofoca'' contava como eles eram...que linda era Zaleska...o charme do conde...etc etc'' e a mulherada '' loca'' de curiosidades...e a minha mulher enciumada, pode?...passou a me cheirar,,,uuuhhh!!! uuuuhhh!!  que cheiro e' este Ze?...que cheiro mulher?...num sei...parece cheiro de sangue?......que sangue mulher, ficou doida, pirou...sangue!!

                     Fui ao banheiro, cherei minha gola...era sangue mesmo....e vi...vi...puta que pariu...vi onde Zaleska , no auge do gozo...no momento da minha gozada triunfal naquela '' coisa'' linda, peluda, carnuda...,me mordeu?...tinha duas marcas certinhas, tinha enfiado suas presas na minha jugular?...e acredita?  nem senti?

                      Tenho me sentido meio fraco ultimamente, por que sera"?.....anemico?....acho que tenho que parar de ver Zaleska, ou seria ...sentir Zaleska?....cada vizinho, cada vizinho que me apareceu...uma melhor que a outra, agora e' esta...Zaleska!!!!..a filha do conde Alucard.....ehhhhhh .....que filha!!!! heim?...heim?.



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WILLIAM ROBERTO CUNHA
Enviado por WILLIAM ROBERTO CUNHA em 03/02/2010
Reeditado em 03/11/2010
Código do texto: T2066390