A Terceira Morte de João Barroso

Da primeira vez que morreu, João Barroso achou a experiência interessante: a vacância da alma, a passagem para o além, as luzes, e muitas outras coisas, que a principio lhe proporcionaram uma sensação fantástica.

Da segunda vez que morreu, já não viu nada de interessante. Pelo contrário, achou uma experiência repetitiva e tediosa. Não havia mais novidade nenhuma, bastava morrer uma vez pra conhecer todas as sensações da morte. Tão enfadado ficou com essa segunda morte, que João Barroso decidiu que não ia mais morrer. Comunicou sua decisão à esposa, que concordou com ele, afinal de contas, disse ela, esse negócio de velório dá muito trabalho e tem saído muito caro. Os filhos também acataram a decisão do pai, dizendo que a vida era dele, não tinham o direito de se meter.

Firme na decisão de não mais morrer, João Barroso concluiu que era preciso ir pra cidade grande, porque a vida na fazenda era muito perigosa. Na primeira vez morreu vítima de um coice de mula na cabeça, e na segunda vez, morreu atropelado por uma vaca holandesa num estouro de boiada.

Vendeu então a casa, e seus poucos pertences, que se resumiam a quase nada, e partiu com a família para o Rio de Janeiro. Arranjou um emprego de pedreiro, e foi morar em uma favela.

Numa noite de quarta feira, voltava do trabalho e, enquanto subia o morro, escutava uns estampidos, gritaria, gente correndo. De repente, sentiu uma fisgada nas costas, uma espécie de picada quente, que o fez tombar no chão. Enquanto o sangue lhe escorria pelo corpo, João Barroso começou a sentir um calafrio, uma leveza no corpo, a vista a ofuscar, e logo percebeu que conhecia bem aquela sensação.

_Ai meu Deus, de novo não! – exclamou num ultimo suspiro.