O condutor de almas (ou O Sacripanta)

Novamente ele chegou aprumado, cheiroso e envaidecido com o público que o admirava e, mais uma vez, adorava como se fosse o verdadeiro Todo Poderoso aqui na Terra, acalentando almas sedentas de conforto. Abençoou seu rebanho, pregou bonito, impôs moral e advertiu sobre pecados que, em tempo algum, deveriam ser cometidos por suas ovelhas desgarradas. Era sábado à noite, fim do dia em que, segundo a Gênese, todo o processo de criação fora finalizado.

Esse condutor de almas era um sujeito popular, devido a seus feitos dentro de sua comunidade: salvara muitas almas e orgulhava-se disso, o que, em princípio, não merecia questionamentos. Porém, para ele, se sua missão de colaborar com a melhoria do mundo estava sendo devidamente cumprida, para todos os seus erros haveria sempre perdão.

Bem... Discordar disso poderia ocasionar o início de uma looooonga conversa, tendo em vista a batelada de energia a ser desprendida para vencer um debate com alguém que, acima de tudo, estava preparado para bem exercer seu poder de persuasão, além de ser um desrespeito à autoridade que aquela altiva figura representava.

Mas ele aproveitou o fim da noite de sábado de modo um tanto irreverente (porém, bastante costumeiro para si) aos olhos daqueles que acreditavam em sua estreita ligação com a religião e o sagrado. Embriagou-se e partiu ao encontro da presa certa para despejar seu gozo. No entanto, respeitando seus princípios, antes de iniciar a obra, pronunciou a olímpica receita para a volúpia e seus anexos:

- Em tempo algum, devemos iniciar nosso ato sem, antes, lavar com um litro de água corrente, misturado com vinagre e sal grosso, nossas partes reservadas e, somente após tal higiene, você deverá abrir tuas benditas pernas para esperar meu membro enrijecido penetrar-te. Não encoste-me teu peito e esteja orando para que teu óvulo NÃO esteja sadio quando encontrar meu jorro. Em seguida, oraremos juntos, suplicando perdão a Deus por este prazer proibido. Como penitência, açoitar-nos-emos com esta vara de bambu.

- Já que iremos pedir perdão a Deus ao final, e certamente Ele irá nos perdoar, por que não fazermos tudo isso render bem mais?

- Você tem razão. Poderíamos começar pelo bambu então?

Isa Resende
Enviado por Isa Resende em 07/06/2010
Reeditado em 21/06/2010
Código do texto: T2306303
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