Velório numa tarde de domingo de outubro
Algumas pessoas na sala, em silêncio, aguardam sua vez de passar pela urna.
Do lado de fora, uma discreta porém farta distribuição de santinhos. Pelo passeio público vem passando um cidadão recém chegado lá de onde judas perdeu as botas, onde a tevê e a corrupção - acredite se quiser, caro leitor - ainda não chegaram.
O forasteiro, com a curiosidade peculiar de quem acaba de chegar, se detém diante da porta de entrada, recebe de alguém um santinho e pergunta a um tristonho senhor que vai saindo:
- Velório de quem?...
O tristonho senhor, ainda mais tristonho responde:
- Da democracia, meu prezado, da democracia!
Em seguida, dirige ao forasteiro um cordial "até logo!" e, a passos largos e apressados, desce a rua cheia de buracos até dobrar a primeira esquina e se perder de vista naquela tarde sombria de um (in)certo domingo de outubro...