OU SERÁ O CONTRÁRIO?

*Ou será o contrário?

Numa noite fria do Rio de Janeiro, um palhaço que vagava de bar em bar, mesa em mesa em mesa, estaciona frente a uma bancada floreada de jovens, num boteco qualquer. Mirando o que aparentava ser o intelectual entre eles, faz um desafio:

- Duelo de vocábulos, meu jovem? Se ganhares, dou-lhe uma de minhas letras. Se não, me darás um vintém!

Com certa vergonha, mas incentivado pelos amigos, o jovem aceita o desafio!

E começa o duelo. Vocábulos raros vão e vem, como balas de uma guerra particular, artilharia da linguagem, batalha das letras! Até que, por fim, vence o jovem intelectual. Derrotado, mas com honras, o bufão pelo jovem: arrogância, prepotência e desprezo ao consolidar a vitória, o infante esbanjou.

O palhaço, que pretendia recitar o mais belo poema de sua autoria à ele, como prêmio, também percebe nos olhos do garoto sentimentos tão vis:

- Eis o vencedor! Ao vencedor, as batatas! Meu caro, não conheço, deveras, o vocábulo bruxuleante! E mudo teu prêmio agora, adequo-o à situação. Ao invés de um poema, eis algo que o fará mais forte nos duelos a se seguir.

E antes que as maçãs do rosto do moço pudessem encontrar seu caminho final e completar um sorriso, o palhaço cravou-lhe um punhal de aço no ventre. E em meio à confusão, ao som de gargalhadas e do tilintar dos sinos presos ao corpo do saltitante chocarreiro, escutava-se:

- Ah, pobre púbere! Hoje tu és bruxuleante! Se morres, brilha, se vives, escurece. Ou será o contrário!? A alma que sangra merece um corpo igual!