HA SHAAREI (as portas)

Ele disse – VAMOS! AO SERVIÇO!

Eu disse – Sim, já estou fazendo...

Ele disse – Ao serviço. VOCE SABE O QUE TEM QUE SER FEITO???/

Eu disse – Sim e disse mais – não, não sei. Não sei o que fazer.

Ele então disse—PRIMEIRO!

Eu disse – Sim

Ele disse—O que você tem que fazer?

Eu disse – Tratar bem o público!

Ele disse – Sim!

Ai eu disse—Estou tentando tratar muito bem o público. Por que insistes em me repreender publicamente?

Ele disse—Porque é preciso que faças tudo direito. E disse mais—SEGUNDO!

Eu disse—Sim, devo fazer tudo direito, como me dissestes.

Ele disse—Isso, faça tudo direito. E disse ainda – Você deve colaborar, um trabalho a ser feito não deve ser questionado.

Eu disse – Sim.

Ele disse—Ao fazê-lo direito, estará colaborando para que as coisas continuem em seus devidos lugares, e assim não haverá margens para interpretações errôneas sobre qualquer assunto.

Eu disse—Gostaria de ver as pessoas que estão chegando e isto não impede que o trabalho seja efetuado a contento.

Então ele falou – VOCE DEVE PROCURAR SUA BAIXA POSIÇÃO E SE COLOCAR. Aqui não é lugar para brincadeiras. DESTA VEZ VOU CORTAR O TEU PINTO!

Eu disse – O PINTO NÃO! O pinto não!

Ele disse—O pinto sim... Você nunca mais irá gozar. PINTO! P-I-N-T-O. PINTO.

Eu disse—Pare com isso, o pinto não. Assim não vou conseguir fazer meu trabalho. O pinto não.

Ele disse—Está bem! Deixemos pra lá. Pergunte ao público o que ele quer.

Eu disse—O que ele quer?

Ele disse—Pergunte e pronto.

Eu disse—Está bem, está bem. Vou perguntar, mas, você sabe...

Ele disse – Ora! Quem pode saber o que o público quer...

Eu disse – Se é assim? Acho que ele também não sabe.

Ele disse—Ele quem?

Eu disse – O público.

Ele então se enfureceu e disse – Você está me confundindo. Faça a pergunta e pronto.

Aí eu disse – Está bom... Vou fazer a pergunta.

Ele disse—AO SERVIÇO!

Eu então, muito envergonhado disse—disseram-me que tinha que receber o público, que deveria tratá-lo bem e que minha satisfação deveria ser o atende-lo corretamente, e que fazendo isto, contribuiria para o meu crescimento pessoal, o que é bom para minha saúde física, moral e mental, foi o que me disseram.

Ele disse—Confiarei em você desta vez, faça o seu serviço.

Disseram-me --. O público quer ver é leão comendo cristão na arena. Que este quando vai a um lugar assim, quer sentir fortes emoções, quer rir, quer ser feliz. Disseram-me isto—que o público gosta de ativar adrenalina e que o trabalho que temos a fazer deve tocá-lo de tal forma, como num grito de GOOOOOOOOOOOOOOL! Disseram-me isto, que deveria escolher – entre ser palhaço da vida, ou ser palhaço nela, sim, foi isso que me disseram...

Sim foi isso que me disseram—A arte tem que estar a serviço do público.

Então eu pensei—Ah! Depois quis falar, mas pensei e disse – Ah!Ah!

Ele disse—Ah! O que? AFINAL, FAZ ARTE OU FAZ-SE ALGO, PARA ALIZAR OS CULHÔES DOS GENTIS BURGUESES?

Aí eu disse—Ah! E disse—Quer dizer que tenho que fazer algo?

Ele disse—Sim! É preciso que faças algo, para alisar os culhões dos gentis burgueses. Para caíres na moda, nas graças dos formadores de opinião. Pare entrares na mídia.

Disseram-me – VOCE SÓ FARÁ SUCESSO, QUANDO NÃO CUTUCAR A MENTE DE NINGUEM, QUANDO SOPRAR CARÍCIAS NAS PARTES INTIMA DAS ESPECTADORAS, QUANDO DEIXAR QUE OS VARÕES DESCANSEM AS BOLAS NAS POLTRONAS, OU QUANDO OS PEITOS ABUNDANTES DAS MATRONAS PULAREM SUADOS DE TANTO RIR. Disseram-me isto, sim foi o que disseram...

Eu disse—Devo fazer bem o meu trabalho. Foi o que eu disse.

Disseram-me—Você é um ator, vá lá e realize seu trabalho, disseram-me isto.

Aí eu disse – Mas ninguém me deu um texto, um cenário, um diretor, um técnico de som o luz

Disseram-me—Você é um ator, realize teu trabalho e pronto.

Eu disse—Ah! Então é assim? AH!

Disseram—Afinal, que fazes aí? Faz-se arte ou faz-se algo?

Perguntei – qual a diferença?

Ele disse—A arte para nós é aquilo que queremos que seja você não está aí para nos interromper, faça o seu trabalho. Foi o que ele disse.

Eu disse—Está bom! Já vou fazer!

Ele disse – Cale-se, faça o teu trabalho direito ou corto o teu pinto.

Aí eu disse – O pinto não. O pinto não.

Disseram-me – Estamos te dando poderes. Aí onde estás, podes ser tudo. Como podes querer alguma coisa mais? QUAL É A ARTE DO ATOR? Faça o teu trabalho, o poder é algo, que se dá e toma.

Eu disse – Então... Isto aqui é, é é é é... uma caixa! Uma caixa mágica! Uma caixa mágica! Eu posso representar!

Disseram rapidamente – O ator não representa nada

Fiquei enfurecido e disse – Não é bem assim, não é não.

Disseram – Não representa nada e pronto. Foi o que disseram.

Eu disse – Não representamos nada, é claro. ”Eureca!” INTERPRETAMOS? Sim.

Eu disse – Nós interpretamos...

Aí disseram—Faça o seu trabalho e pronto.

Eu disse – Devo fazer bem o meu trabalho, foi o que eu disse.

Eu disse – Como posso realizar o meu trabalho? Não tenho nada nas mãos, nada para mostrar e querem que realize meu trabalho? Foi o que pensei.

Disseram — Vamos! Ao trabalho!Faça o teu trabalho direito, ou corto o teu pinto.

Eu disse – O pinto não!

Aí ele disse – Que está esperando? Pergunte ao público o que ele quer?

Eu disse – O que quer o público?

Ele disse – Sim.

Eu disse – Farei o meu trabalho bem feito.

Ele disse – Anda! Que está esperando?

Eu então calei.