TELEFONEMA DO OUTRO MUNDO


     O telefone no posto da Policia Rodoviária Federal , situado nas proximidades da bifurcação, entre a localidade da Vila da Quinta e a estrada que vai em direção a cidade do Chuí, no extremo sul do Brasil, tocava insistentemente. Netto, que se encontrava no plantão naquele feriado nacional, um pouco calmo até,  face ao número reduzido de acidentes nos últimos dias, lavou as mãos apressadamente e veio com a toalha enxugando o rosto. Tropeçou na cadeira e por muito pouco não derrubou o aparelho telefônico ao chão. Quando finalmente conseguiu levar o braço do telefone  ao ouvido, o som do outro lado era muito fraco e ele ouviu apenas um leve sussurro e logo a seguir o intrigante som de desligado. O aparelho Bina estava identificando um número com prefixo de fora do estado. Aguardou uma nova ligação, ficando próximo ao telefone enquanto seus pensamentos voavam nas inúmeras hipóteses aventadas. Passados alguns minutos, como não houve nenhuma outra chamada, resolveu ligar para o número ali registrado. Fez inúmeras tentativas e em todas elas, a voz mecânica e suave da central, era:
 - Este número encontra-se desligado ou fora de área.
   Netto, olhou o relógio de parede, fixado acima do radio base e quase simultaneamente visualizou o seu: 23;45 hs, do dia 02/11/2010 . Lembrando-se que faltavam apenas quinze minutos para terminar seu turno, dirigiu-se ao banheiro, para devolver a toalha ao seu devido lugar. Não havia dado três passos e o telefone volta a tocar. Antes de levá-lo ao ouvido, olha no aparelho Bina e confirma: Era o mesmo número anterior. Embora sendo um policial experimentado, pois estava há poucos meses de entrar com o pedido de aposentadoria, sentiu um leve arrepio na espinha e como um principiante a ansiedade se fez presente:
 - Alô!... Sargento Netto, posto da PRF Quinta ,as suas ordens
    O silêncio presente na outra ponta, era quebrado pelo som dos sapos, grilos e do vento que estava soprando desde a tarde. Netto, volta a insistir:
 - Alô!...Alô, quem está falando, por favor se identifique , aqui é da PRF, Sargento Netto as suas ordens.
 Netto não sabe explicar o tipo de voz que ouviu, mas sem saber como, pode entender que o pedido era de socorro; mais parecido com uma mensagem telepática,do que uma conversação normal . Sem falar uma palavra, desligou o aparelho e automaticamente passou a informação a todas as viaturas na área,que havia acontecido um acidente  nas proximidades da ponte Caiubá e o veiculo se encontrava quase submerso e invisível aos passantes. Mesmo estando no término de seu horário, pois o seu substituto acabava de chegar,   Netto fez questão de ir ao local do acidente no seu próprio veiculo. Avisou a concessionária da rodovia e pediu uma ambulância. A estrada por estar em boas condições de trafegabilidade lhe permitiu manter uma boa velocidade; um pouco maior do que seu costume, mas era um caso excepcional. Como se estivesse sendo teleguiado, entrou numa pequena estrada lateral paralela a via principal e pode avistar com o farol alto a pequena parte traseira do teto do carro acidentado. Ouvindo a sirene dos seus companheiros ,desceu correndo em direção ao veiculo semi-submerso e pode ver a cena dantesca e trágica: O carro estava trancado, uma pequena cadeirinha flutuava no banco traseiro,e  se podia ouvir o choro abafado da criança. O incrível era que o espaço entre a água e o teto traseiro tinha exatamente a distância necessária para que a menina não se molhasse.  
   Netto, sem esperar ajuda e pela sua experiência, quebrou o vidro da janela traseira com cuidado para não estilhaçar , e cortando o cinto do berço, tirou a menina que lhe sorriu estendendo os bracinhos, como se o conhecesse. A vinda dos paramédicos e do reboque fez o resto. Ao ser retirado do canal e escorrida a água os guardas e agentes da concessionária puderam constatar que o jovem casal havia perecido face ao impacto e afogamento posterior e que o acidente deveria ter sido ao cair da noite pois a chuva e o vento haviam apagado as marcas da frenagem.
 Perplexos, todos viram Netto ajoelhar-se em oração,após recolher das mãos do jovem um aparelho celular, em cuja tela estava gravado o número do posto e a hora da chamada: 23;45 hs            
 

    
Os fatos aqui narrados são de minha responsabilidade e serão mera “coincidência” com qualquer nome ou fato similar.  Fatos estes, não raros, para os que acreditam na espiritualidade.
Gildo G Oliveira
Enviado por Gildo G Oliveira em 08/11/2010
Código do texto: T2604473
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