'' ANSEIOS , DESEJOS , DEVANEIOS... ''

CATEGORIA DO CONTO:- SURREAL.

DIMENSÃO:- LONGO.

FOCO:- NATUREZA/DESMATAMENTO/DESTRUIÇÃO.

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AMOR.............LOUCO AMOR.............SUBLIME AMOR.

AMOR PIRATA...AMOR DE QUALQUER JEITO......FEITO.

MAS AINDA CHAMADO DE AMOR....QUE OUTRO JEITO?

AO AMOR QUE OUTRO NOME SENÃO AMOR SE PODE DAR?

......... J.M.

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'' SO' DEPOIS QUE A ULTIMA ARVORE FOR DERRUBADA, O ULTIMO RIO ENVENENADO, VOCES IRÃO PERCEBER QUE O DINHEIRO NÃO SE '' COME ''....pensamento indigena.

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PARTE 1.....

Predios e mais predios, e o centro daquela cidade fria, cada dia mais e mais fria ficava de tantos predios que por la' se construia,e haviam ruas por la' que, devido as varias disposições angulares de alguns predios, o sol nunca penetrava totalmente ate' o chão e Vilmar caminhava apressado naquela manhã de julho, dias curtos e frios , noites piores ainda, e justamente nesta manhã havia se levantado mais tarde, culpa da noite mal dormida, mais uma das muitas que nas ultimas semanas vinha sentindo, experimentando uma angustia, um anseio sem fim...

O vento frio e gelado que pelas ruas e becos centrais corria, empurrava Vilmar para ir mais rapido e ele toda vez que que isto acontecia se lembrava :- preciso arrumar um estacionamento mais perto do meu trabalho ou então me mudar para um predio com estacionamento proprio,.....mas logo se esquecia e cada esquina que virava era aquela lufada que parecia que uivava e Vilmar levava na cara o vento gelado e cortante, e chegou apressado na porta do predio em que trabalhava, seu consultorio ficava no decimo andar, o elevador lotado o deixou por la' nos corredores gelados e chegando em sua sala ligou o aquecedor que por la' havia , o sol so' bateria na sala a tarde, ali pelas duas horas um pouco de luz e calor trazidos pelo sol de julho, sol fraco de inverno, atraves dos dois vidros grandes das janelas das salas entraria...Vilmar quando comprou seu consultorio tinha escolhido por isto mesmo, ficava do lado oeste, e no inverno isto era excelente, entretanto no verão era escaldante mas o ar condicionado ligado fazia a diferença..

Vilmar era dentista, veio de uma familia pobre, era inteligente e com muito estudo tinha conseguido se colocar na universidade, uma bolsa de estudo governamental o ajudou a pagar pelos seus estudos, e apos se formar e começar formando sua clientela vinha pagando por este emprestimo , tinha ja' trinta anos, um carro com cinco anos de uso,conseguiu obter um financiamento e comprou o apartamento que morava em um bairro classe media, apenas vinte minutos de carro do trabalho, e era solteiro.

Vilmar sempre foi um romantico, sonhava com um amor eterno, para sempre, alguem que ele amaria e seria amado e viveriam felizes para sempre, ...e sempre que saia nas noites para baladas, dançar, se divertir, voltava mais e mais frustrado, mulheres levianas,interesseiras, mulheres que se atiravam nos seus braços logo no primeiro momento, bebiam, falavam alto, discutiam, não tinham boas maneiras e muito menos como ''damas'' se vestiam, com muitas ''ficava'', com muitas se divertia, suas necessidades de macho assim o impelia, mas depois de uma noite bem saciada adeus ele lhes dava, e elas se iam e outras apareciam e por isto solteiro ele continuava...faltava achar a outra metade.

Dona Vivinha chegou, era a faz tudo no consultorio...chegou dando bom dia e reclamando do frio e do atraso, ele respondendo e arrumando seus materiais , ela lhe deixando a correspondencia e o jornal do dia, coisas que ele so' iria ler naquela hora gostosa que o sol entraria na sala, e dona Vivinha tudo arrumando , se preparando, o primeiro cliente ja' estava quase chegando, e a manhã passou, e quando o sol esquentou a sala, deixando morna e sossegada ,dona Vivinha abria as correspondencias, separava, arquivava, colocava na pasta de contas a pagar e Vilmar aproveitava para ler o jornal... dona Vivinha jamais marcava clientes, no inverno, entre duas e quatro da tarde, em outras estações ate' que tudo bem, mas no inverno não...eles assim tinham combinado e a coisa assim funcionava.

Vilmar tinha conhecido dona Vivinha ainda quando estava no ultimo ano da faculdade e morava em uma kitnet com um outro colega, o apartamento era uma bagunça, dona Vivinha no passado tinha sido professora primaria ate' se aposentar e quando ficou viuva, comprou uma kitnet no mesmo predio de Vilmar e para ganhar uns trocados a mais fazia arrumações e limpeza nos pequenos apartamento do predio todo e com isto ja' tinha ido passear em cruzeiros por varios lugares, Caribe era um deles...e ela e Vilmar acabaram ficando amigos e quando ele montou o consultorio convidou e ela aceitou, largou a arrumação e limpeza do predio e passou a trabalhar para ele, deu certo a parceria dos dois e mais ainda quando ele se mudou para o seu proprio apartamento, ela passou a arrumar e limpar o novo apartamento..trabalhavam juntos ja' faziam mais de quatro anos, eram como mãe e filho

E Vilmar lendo o jornal , leu uma noticia que o deixou estarrecido e com dona Vivinha comentou , ambos olharam pela janela ao mesmo tempo, o artigo dizia respeito ao casarão que ali de cima , do decimo andar eles viam todo dia, o terreno era todo um quarteirão, no meio do terreno, o casarão, em volta jardins e pomares, hortas, plantacões e muitas, muitas arvores, um oasis, uma sombra verde no meio da cidade fria e cinzenta, alias, ultima grande 'area verde muitos quilometros ao redor e o artigo dizia:-

"" O Solar do Barão de Anhanga', pulmão verde incrustado no seio do centro de nossa cidade, volta mais uma vez a ser tema de discussão e muita polemica. Os proprietarios atuais, descendentes diretos do Barão de Anhanga', bisnetos e tataranetos, declaram em cartas e notas enviadas 'a Prefeitura Municipal ser enviavel os pagamentos de impostos e a manutenção do Solar, ja' que o mesmo e' tombado pelo patrimonio historico cultural da cidade, solicitando então que o mesmo fique isento dos impostos e que a Prefeitura Municipal passe a fazer a manutenção e consertos necessarios para que este patrimonio que pertence 'a toda a população de nossa cidade não venha abaixo, não se deteriore inteiramente, e terminam dizendo que a partir de agora não mais farão consertos nenhum no casarão que fica no meio da propriedade,e informam que o Solar necessita de reparos imediatos, ja' existem goteiras e infiltrações em varios quartos do Solar, e seus jardins , pomares e arvores estão em absoluto abandono ou então, ainda sugerem , que a Prefeitura Municipal compre a propriedade toda , faça dela um museu aberto ao publico. O Prefeito Municipal recebeu toda esta informação e a Camara Municipal vai colocar em debate este assunto e tentar resolver o impasse.

Sabe-se que inumeras construtoras estão interessadas, e muito, neste pedaço de terra , valioso pedaço de terra, para construirem , erguerem por ali espigões de trinta ou mais andares, com escritorios , lojas, sohppings, cinemas.

E ate' que mais este impasse seja resolvido, coisa que ja' vem ''rolando'' por mais de treis anos, entra ano e sai ano e este assunto polemico volta 'a tona e nada se resolve , quem perde e' a historia de nossa cidade e do pais tambem e muito mais ainda a população que se priva de ver um pequeno pedaço da historia da cidade, pois no Solar existem moveis, quadros, utensilios, antigos e valiosos, e no seu terreno alguns exemplares de plantas ja' extintas em muitos lugares, tais como a arvore de pau brasil canela, arvore hoje rarissima em nosso pais mas não em Portugal, para onde foi levada por seculos, e por la' se deu bem, cresceu e vingou, e por aqui, seu pais nativo esta' pela hora da morte, do ultimo suspiro...uma opinão, uma sugestão que esta' correndo pela cidade...vamos todos participar? vamos nos unir e por um fim neste verdadeiro vai e vem financeiro?...seja voce tambem mais um defensor do Solar do Barão de Anhanga' ""....Ajude a salva-lo, ajude a salvar uma parte de nossa historia.

Dona Vivinha leu o artigo, e juntos, Vilmar e ela, resolveram...iriam participar, iriam ajudar, fazer campanha para que a Prefeitura tivesse posses e meios da propriedade comprar e passa-la como um museu 'a população da cidade...e se colocaram em campo.

Assim que dona Vivinha em casa a noite chegou, nem jantou, ficou pendurada no telefone falando com velhos amigos conhecidos seus, professores aposentados, diretores de escolas , ex-vereadores que ela conhecia e vereadores atuais, e quando não os encontrava falava com a esposa , com o esposo de algumas vereadoras e professoras, e foi divulgando o assunto...foi dormir bem tarde, sem jantar e nem a roupa tirar..dormiu como uma pedra, e sabia que no dia seguinte teria que continuar...e continuou.

Valdir naquela tarde ao sair do consultorio teve uma vontade enorme e foi..foi pela outra rua e chegou rapido ao quarteirão do Solar, seus muros altos e largos eram feitos de taipa e apresentavam certas rachaduras e buracos, pedacos do alto do largo muro faltavam aqui e ali e ele foi se aproximando do portão principal, largo portão de ferro, antigo, e que trazia no topo o brazão do Barão de Anhanga', so' este portão deve valer milhões, pensava Vilmar......e reparou que da larga corrente pendia o grande cadeado, e tanto corrente como cadeado estavam abertos...curioso, empurrou o portão e este com um forte rangido nos gonzos se abriu um pouco, empurrou mais, daria para ele passar e antes que a noite chegasse, pelo menos o jardim ele gostaria de ver, sempre teve curiosidade em ver os jardins, as arvores, e se possivel o Solar, nunca pode, vivia sempre cheio de gente por la' e depois que se mudaram , lacraram os portões e assim nunca foi possivel entrar, visitar o Solar...e ele curioso, entrou.

E assim que entrou sentiu um calafrio, um arrepio na espinha que vinha da cabeça e descia pela medula, estremeceu e se lembrou dos sonhos que vinha tendo no ultimo mes e se virou rapido ao ouvir um clik e o portão se fechou...ele voltou e tentou abrir, correntes e cadeados no lugar, sacudiu, sacudiu ,e nada, portão fechado....se virou e agora estava no meio de uma neblina forte, olhou para o portão e la' fora tambem a neblina tomava conta, parecia um outro lugar e a neblina dentro da propriedade foi se dissipando, a do lado de fora continuava forte ainda, e ele viu a luz da lua cheia iluminando o Solar e o caminho que 'a ele levava parecia que era dia de tão claro que estava e ele via flores, arvores, plantas e via animais, passaros...um grupo de pavões davam gritos e abriam seus leques coloridos, patos nadando no pequeno lago da fonte em frente do Solar...e ele ouviu um assobio, primeiro baixo , depois mais e mais forte e ele dando volta no caminho que ao Solar levava...subiu os poucos degraus em frente da varanda do Solar...cadeiras de balanços, pequenas mesas com toalhas de rendas brancas , gaiolas de passaros, vasos de flores...e luz dentro do Solar ....

Colocou a mão na maçaneta, girou e a porta se abriu, um calor gostoso veio ao seu encontro e um cheiro de comida delicioso entrou em suas narinas, ficou um minuto parado e ouviu passos e se virou, de uma das salas laterais uma senhora que assim que o viu veio em sua direção e perguntando:-

Professor?, boa noite, sou dona Josefa, mae de Vitor, entre professor, entre, muito prazer em conhece-lo....vou chamar Vitor, me acompanhe professor....e Vilmar, sem nada entender segiu-a ate` uma pequena sala que ela lhe indicou, uma escrivaninha grande, cadeiras e livros , muitos livros , duas pequenas mesas, vaso de flor, cortinas pesadas, fechadas, e a sala iluminada por velas pareciam daqueles filmes antigos e romanticos que Vilmar muitas e muitas vezes tinha assistido...sentou e esperou

Boa noite professor...sou Vitor seu futuro aluno, prazer, e estendeu a mão, Vilmar apertou e tambem se apresentou , Vitor deu a volta e se sentou 'a escrivaninha , Vilmar ouvindo o que Vitor dizia,....que se sentiria muito grato e lisongeado se ele, o professor Vilmar aceitasse dar-lhe aulas particulares de botanica, sabia o quanto o professor era ocupado , e que sempre seu pai Angelo e tambem seu avo, o Barão de Anhanga', viviam elogiando os trabalhos do professor no campo da botanica e tambem que ele Vitor ja' tinha conhecimento dos belos jardins que o professor havia construido, não so' aqui na cidade mas tambem na capital do estado e muitos na capital federal...e no final de quase meia hora de conversa, cafe' delicioso servido por dona Josefa, ficou acertado que Vilmar viria 'as segundas, quartas e sextas pela manhã e ficaria ate' o final da tarde.... e juntos ele e Vitor começariam as mudanças nos jardins, pomares e hortas da propriedade e enquanto Vitor foi ate' seu quarto buscar alguns papeis e livros sobre botanica para ver se o professor aprovava, Vilmar ficou pensando se isto não era um sonho...se beliscou, deu um pequeno tapa na face direita...doeu....era sonho não, tudo isto era real e uma loucura , Vitor voltou, se despediram, dona Josefa veio se despedir e Vitor acompanhou Vilmar ate' a porta.....e ao se virar para sair Vilmar viu de novo a neblina e não mais a luz da lua cheia, foi rapido ao portão...destrancado, ele puxou, abriu, saiu e fechou , ficou olhando e não acreditando que via a corrente e o cadeado se fechando e notou que a neblina da rua tinha desaparecido...e tambem a do Solar, andou rapido na noite fria em direção ao estaciomento onde seu carro estava. Jantou pouco, um prato frio e rapido, ligou a tv, desistiu, colocou musicas para ouvir, desligou logo e foi formir, não conseguia...virava, virava para todo lado e quando pegou no sono e dormiu...sonhou, sonhava com tudo aquilo novamente, não conseguia mudar o assunto do sonho, e tinha muito mais coisas e pessoas no sonho envolvidas....e estes sonhos ja' vinham acontecendo faziam meses e meses...

PARTE 2...

E depois daquela noite Vilmar não mais sossegou, ficou ansioso, tinha calafrios toda vez que imaginava que tinha prometido, tinha assinado papeis se comprometendo a ensinar botanica para Vitor, e botanica era uma coisa que ele nunca sequer soube nada desta materia, nem tinha ideia como começar...e parou, parou e riu, deu na verdade uma gargalhada, jogou a cabeça para tras e ria, ria que de seus olhos lagrimas saiam...que besteira, pensava ele, tudo não passou de um sonho, não fiz promessa nenhura a ninguem e muito menos papeis assinei e toda vez que Vilmar da janela do consultorio olhava o Solar continuava o mesmo, nada tinha mudado por la', apenas que dona Vivinha ainda estava no trabalho de conseguir mais e mais adeptos e voluntarios para a causa do Solar e todo dia lhe trazia noticias do assunto, fora isto ele nem se preocupava mais com o Solar e seus moradores....fantasmas de um passado longe, pensava ele....

E a primeira segunda feira prometida chegou, Vilmar dela nem mais se lembrava, levantou tarde, foi uma correria danada no consultorio chegar, chegou antes de dona Vivinha e foi abrindo, ligando, tudo, e olhou por acaso pela janela e viu...viu o Solar cheio de vida, pessoas andando por la' e ele viu, era com certeza dona Josefa andando pelo jardim e viu Vitor saindo pela porta da frente, vestido como um jardineiro, e viu pequenas carriolas cheias de ferramentas paradas no patio da entrada...lembrou-se , se arrepiou e saiu correndo, chegou a rua , andou meia quadra e no portão do Solar chegou, correntes e cadeados não estavam no portão, estava aberto e foi entrando, ouviu um assobio, primeiro baixo e depois mais e mais alto ate' que o assobiu parou, e virou para fechar o portão, uma neblina espesas cobria a rua agora, mas aqui dentro o sol brilhava e pessoas o cumprimentavam sorrindo e dona Josefa e Vitor o esperando com a mesa de cafe'...ele tinha chegado na hora combinada, oito horas da manhã..plantas, flores e arvores ainda molhadas do orvalho da madrugada....começou seu trabalho sem se preocupar com nada, sabia tudo de botanica, como?...misterio!!! apenas sabia e a Vitor tudo ensinava, e ele como bom aluno tudo anotava, aprendia...

Tiveram uma pausa para um pequeno lanche ao meio dia, e la' pelas quatro uma refeição completa e depois como o tempo era curto uma pequena inspeção no que tinha sido feito durante o dia e foi ai que Vilmar ficou conhecendo um pouco de Vitor e se deu a conhecer tambem, apesar que Vitor parecia conhecer tudo sobre ele....incrivel!!

Vitor era o unico filho homem do filho unico do Barão de Anhanga', Angelo, e dona Josefa, havia uma irmã mais velha, casada e que morava em Paris com o marido e filhos, desde que tinha se casado Alice nunca voltou ao Solar e isto ja' mais de deis anos fazia, e Vitor e a irmã eram os herdeiros de terras e fazendas que o Barão tinha em todo o estado, cafezais nas terras, gados nas fazendas, um Solar na capital do estado e outro na capital federal, o Barão ja' havia sido representante imperial em Paris e Barcelona e Vitor apesar de nascido aqui nesta cidade tinha tambem morado nas terras e fazendas do Barão, na capital do estado e tambem na capital federal e estudou em Paris, era formado em direito, mas não exercia a profissão, gostava mais da lida na terra e em fazendas e o avo, sabendo disto fazia gosto que de tudo ele cuidasse, Vitor tinha 31 anos, era solteiro e muito tempo depois Vilmar soube que ele tinha uma filha em Paris, Valerie, fruto de um encontro quando por la' estudou...alem de mestre e aluno ficaram amigos.

Vilmar era de temperamento agitado, falava pouco mas falava o necessario, era muitas vezes confundido com ter prepotencia e ser um pouco rispido, dizia rapido o que tinha que dizer e preferia se fosse o caso ofender a outros do que a si proprio, mas era um romantico, sonhador, e sonhava em amar muito, e muito ser amado...

Vitor era mais expansivo, alegre, jovial, era vaidoso, gostava de ser vestir bem, andar sempre na moda, ter boas coisas, comer bem, viver bem, falava bastante, era inteligente e aprendia rapido tudo que lhe era ensinado ou mesmo so' de observar aprendia e tambem era romantico, sonhava com um amor lear e sincero, que o amasse bastante e a quem ele tambem amasse, muito.

E Vilmar passou a viver a vida dupla, nos primeiros dias ainda achava que estava sonhando...como podia, se perguntava ele, que eu va' treis dias no Solar, fique por la' o dia todo, das oito da manhã ate' seis da tarde e ninguem de por minha falta no consultorio....e era verdade, dona Vivinha seria a primeira a procura-lo, colocar ate' a policia atras dele se isto realmente estivesse acontecendo...não estava, pensava ele, não estava...mas estava!!! ele estava nos dois lugares ao mesmo tempo so' que em tempos e dimensões diferentes.

E os meses passando, a primavera chegou, trouxe passaros,

borboletas e vida ao Solar e quando chegou o verão tudo la' era lindo de se ver, bancos e mesas foram colocados embaixo das arvores e vivia sempre cheio de convidados e hospedes por la' agora, dona Josefa e varias empregadas atarefadas no atender tudo isto e Vilmar sabia que quando o verão acabasse, acabado estaria tambem seu compromisso com o Solar, Vitor disto tambem sabia e quando o verão estava no auge convidou Vilmar para as terras e fazendas junto com ele visitar...ficaram quase dois meses fora, e tudo continuava igual no consultorio..Vilmar trabalhava por la' normalmente e o outro Vilmar terras e fazendas visitava e novo convite recebeu....cuidar de plantas e arvores, flores e pomares em todas as propriedados do Barão..aceitou!!!

E o inverno ja' estava de novo no ar, o vento frio da noite soprava rigido, enregelando ate' os ossos, mas Valmir, dona Vivinha e muitos e muitos outros adeptos do Solar se expremendo no salão da Camara dos Vereadores para assistirem a votação da compra e manutenção da propriedade do Solar do Barão de Anhanga', esta noite seria a noite decisiva, ou a Camara aprovava a compra ou não, e se não fosse aprovada com certeza os herdeiros, que tambem estavam presentes torcendo para o sim fosse ouvido, seriam forçados a vender o Solar e tudo o que nele continha e mais o terreno aos incorporadores imobiliarios para que fizessem por la' crescer seus espigões...e assim sim, tirando mais e mais o sol, a luz, o calor das ruas ja' tão frias da cidade...

E no final, o painel de votação mostrando o sim, a compra do Solar, e com isto gritos, vivas, abraços por toda a Camara se ouvia, se sentia....era um clima de festa agora e daqui para a frente as formalidades de praxe e com certeza em menos de trinta dias o Solar passaria para as mãos dos cidadões, representados pela Prefeitura....e Valmir e dona Vivinha se abraçavam e eram tambem abraçados, eles foram considerados por todos, os principais vencedores, acreditaram, lutaram e conseguiram a vitoria ...o sim.

E assim que tudo foi concluido, papeis assinados e as chaves e termos entregues, uma comissão foi formada para se iniciarem as obras de restaurações, consertos, de toda a propriedade e Vilmar foi escolhido como presidente de honra, com direito a voto e decisões finais dos trabalhos a serem feitos no Solar...e assim foi feito e Valmir se saiu melhor do que o esperado....parecia que ele conhecia tudo por la', cada canto da casa, do jardim, tudo ele sabia, dizia e era verdade...aqui tem que haver um azulezo branco e azul, no meio da fonte...tinha um original por aqui, e mostrava fotos e plantas antigas da casa, de tudo....e o Solar depois de quase dois anos ficou pronto para ser re-inaugurado e quando a fita foi cortada, uma banda tocando musicas antigas, e varios convidados visitando tudo, admirados ficavam...era como se no passado voltassem....os muros, mesmo do lado de fora, foram recuperados, grades, portão, portões, tudo tinha sido pintado dentro do mais possivel do orginal, o Solar inteirinho recuperado em suas cores originais....e jardins , pomares, hortas e ate' a fonte pareciam que nunca envelheceram....

E em meio a todas estas comemorações Vilmar viu no carramanhão coberto todo com maracujas, as flores roxas lindas abertas, flor do maracuja', roxa da cor do amor, uma sombra gostosa fazia por la'....e ele viu Vitor e dona Josefa sentados , se encaminhou apressado e percebeu que algo estava acontecendo, Vilmar os conhecia bem e sentou-se e ouviu o que Vitor tinha a lhe dizer.....

''' Quero lhe fazer um convite Vilmar e espero que aceite, hoje o Solar ficou pronto e a partir de agora não vamos nos ver mais, a não ser que voce decida e desista de tudo, agora, ja', e venha comigo e minha mãe, desista desta vida presente e venha vive-la conosco em um passado distante....a decisão e' sua, e estaremos esperando ate' as seis horas da tarde, assim que o relogio do salão de entrada do Solar bater a ultima badalada das seis seu prazo estara' esgotado...eu ficaria muito feliz se voce vier conosco, mas tambem aceitaremos um não...não forçaremos nada....pense e decida"", levantaram e se afastaram.....e Vilmar foi em procura de dona Vivinha

Encontrou-a entretida em dar pormenores da recuperação do Solar e de tudo o mais e Vilmar conseguiu tira-la dali e levar para um canto sossegado e contou-lhe tudo, desde o começo dos primeiros sonhos ate' esta ultima conversa que teve com Vitor, ela ouviu tudo, ouvidos bem aberto, boca mais ainda quase caindo pelo queixo abaixo..e quando Vilmar terminou ela viu que ele chorava, trouxe sua cabeça para seu peito e junto com ele chorou , se acalmou e uma decisão tomou...

Vilmar, se puder eu vou junto com voce, quer?

Demorou minutos eternos para que ele entendesse o que ela propunha...ir junto com ele?...sim querer ele queria, ele a queria muito bem, era como se ela fosse sua segunda mãe, mas ela sabia bem do que estava se arriscando?, acreditava ela mesmo nele ou estaria apenas testando para ver onde tudo isto acabaria?...em um hospicio? estaria ela pensando que ele fosse louco??..mas ele em sua ansia de viver, em seus loucos desejos e devaneios, sim, respondeu ele, sim...venha comigo...e foram juntos ao carramanchão

PARTE 3

E chegou o momento mais esperado da festa, o da abertura da '' pedra fundamental, ou capsula do tempo'', pedra esta que havia sido encontrada na lateral esquerda da casa quando foram abrir um encanamento para escoamento de agua , consistia de uma grande caixa de pedra e na tampa dizia a data em que foi fechada , lacrada e encerrada, e no seu local iria ser colocada a pedra fundamental deste dia...autoridades presentes, publico, fotografos, radios e televisões presente para tão grande evento e a coordenadora do evento e seus auxiliares em busca de Vilmar e dona Vivinha, não conseguiram localizar, a hora passava e a pedra foi aberta, com cuidado foram sendo retiradas peças por peças que se encontravam dentro da caixa....cadernos com anotações, calendarios, roupas da epoca, joias, objetos pessoais de pessoas do Solar e alguns envelopes lacrados, fotos, muitas fotos, ....algumas coisas em mau estado de conservação, mas nada que não pudesse ser recuperado, outras coisas em estado otimo ...moedas, dinheiro, enfim tudo que no ano de 1911 se usava, pentes de cabelos e outros objetos de toucador e um envelope que estava em cima de tudo isto , esclarecia muita coisa...e uma delas era que esta era a segunda pedra fundamental que se abria no Solar, ....o Solar havia sido inaugurado em 1861, e em 1911 quando o Solar completou cinquenta anos de fundação o Barão que ainda era vivo decidiu abrir e verificar o que havia dentro da pedra fundamental e o que se achou se encontrava em uma caixa guardada na sala de musica do Solar, era ir la' e conferir, e no lugar haviam colocado esta nova pedra fundamental e os achados deveriam ir para juntos do achados anteriores...e assim foi feito. A pedra fundamental deste dia foi colocada e cimentada para se esperar uma nova abertura em cinquenta? cem anos? so` o tempo dira', e a festa de inauguração foi terminando, e ja' era noite quando o segurança trancou os portões, portas, fechou tudo, apagou luzes e ficou em sua ronda noturna, protejendo agora este tesouro, o Solar e tudo que nele continha....

E no dia seguinte em uma sala do Solar, sala que servia provisoriamente de escritorio e de sala de reuniões do pessoal encarregado da administração do Solar ate' que um anexo ao lado do Solar ficasse pronto , a secretaria Solange estava separando todo o material encontrado na pedra fundamental...isto aqui precisa ser limpo, vai para o departamento tal e tal....isto aqui para tal lugar, e chegou ao jornal e viu a data...25 de Janeiro de 1911 e estampada na primeira pagina uma foto do Solar e seus jardins e uma outra do Barão de Anhanga' e sua familia e ela deu um grito...tinha reconhecido Vilmar e dona Vivinha na foto, e vieram todos ver o que estava acontecendo e ninguem acreditando...como?..como?

E nos dias que se seguiram policiais, delegados , detetives, encarregados da busca e localização de Vilmar e dona Vivinha chegavam a conclusão que estavam batendo, malhando em ferro frio, os dois haviam sumido como se nunca tivessem existido e apenas por insistencia das familias continuavam nas buscas, e Leila sobrinha de dona Vivinha tanto tanto insistiiu que o delegado Coelho determinou uma busca em arquivos do cemiterio principal da cidade, nos livros, documentos, e no arquivo de sepultamento no mausoleo do Barão de Anhanga' ,descobriram nomes e datas de mortes de familiares e agregados que estariam sepultados no mausoleo e por la' constava o de dona Vivinha e tambem o de Vilmar...a data da morte de dona Vivinha era 07 de setembro de 1922 e o de Vilmar bem mais tarde, no dia 20 de agosto de 1983 com setenta e dois anos, e no mausoleu haviam placas com nomes deles, foram comentarios e mais comentarios por semanas, meses, ate' que este caso caiu no esquecimento ,ficou o misterio e depois de certo tempo ninguem mais comentava sobre este caso...e o Solar do Barão de Anhanga' ostenta hoje seus lindos e floridos jardins, seus pomares e hortas, as frondosas arvores que atraem tantos e tantos passaros para a região central da fria e cinzenta cidade, no inverno que nas outras estações e' ensolarada e quente...temperada, florida...linda cidade!!

E muito tempo se passou e um dia Solange arquivando papeis e mais papeis e no fundo de uma gaveta encontra um envelope amarelado, nada tinha escrito mas estava lacrado, curiosa abriu e viu fotos e uma carta, viu as fotos primeiro e não acreditava no que via, colocou de lado e leu a carta...era uma carta-confissão e quem assinava era Vitor que na carta contava tudo, desde o dia que conheceu Vilmar e como eles em sintonia , em sincronia, e na ansia, e no desejo de amar e serem amados , e aproveitando estes devaneios que tanto enlevam e elevam os corações apaixonados , e os dois tinham resolvido viverem juntos e assim fizeram, e ainda mais que sempre tiveram o apoio de dona Vivinha, dos pais de Vitor e principalmente do Barão de Anhanga', e Valerie a filha de Vitor veio de Paris para morar com o pai e os avos e por aqui ficou para sempre, e Solange pegou uma foto, ali estava a imagem de Vilmar abraçado por Vitor....uma lagrima rolou na face de Solange, tinha conhecido Vilmar e no momento que o viu se apaixonou por ele, e ate' o dia que ele sumiu ela ainda nutria esperanças de que um dia ficariam juntos...e agora isto!!!!...e Solange foi fazer comparações de datas e tentar descobrir quando?, que ano Vitor faleceu?nunca descobriu, em lugar algum achou documentos, papeis ou qualquer outro documento que daria uma pista, menor que fosse, do dia da morte de Vitor...de nascimento conseguiu achar, foi facil, facil, mas de falecimento...nunca!!!

E quando Solange consultando um pai de santo para isto descobrir foi-lhe dito que este homem em quem ela no momento estava pensando, mentalizando, jamais tinha deste mundo partido e que muito ao contrario....estava vivo, e bem vivo em cima deste planeta terra....e que amava plantas, flores , matas, rios e cachoeiras.......misterio!!!...

E em uma tarde ensoladada, muitos anos depois, Solange teve quase a certeza de ter visto entre os visitandes do Solar,....Vitor...foi atras dele, perseguia mesmo, ela ouvia assobios, fracos no começo, fortes e mais fortes ate' que parou, e ele entrou em um dos banheiros e quando ela abriu , ninguem la` dentro...impossivel ter se evaporado assim do nada, jamais poderia ter sumido deste jeito, mas tinha e nunca Solange este misterio desvendou, e para Solange ficou a certeza...sempre em alguma lugar, no futuro, no presente ou mesmo no passado existe o amor de verdade, basta acreditar e querer viver este amor, do jeito que for, e' preciso coragem, muita coragem, e aqueles que tem coragem conseguem viver este amor eterno que todos andam em busca.Seja ele, o amor, do jeito que for.

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ANHANGA'...O Rei da Mata

Rios e matas,

passarela da ilusão,

muitas são as máscaras

do desfile de assombração

Caçador, muito cuidado

com o que irás caçar,

se for branco, veado,

é melhor não atirar.

Se de seus olhos afogueados

nem lhe deite um olhar,

pois é alma do outro lado,

é o encantado Anhangá.

Se quiseres boa caça,

faz à ele um agrado:

na ponta de uma vara,

deixa um pouco de tabaco,

os fósforos e a mortalha,

para que faça seu cigarro.

Anhangá quando fuma,

deixa de assoviar,

caçador vai à caça,

foi o trato com Anhangá.

Anhangá, Anhangá, Anhangá!

Anhangá, Anhangá, Anhangá

ANHANGÁ, O PROTETOR DA CAÇA.

Anhangá é um espírito que vaga pela mata como um fantasma ou assombração. Sua presença pode ser detectada por um assobio e depois disso, o animal que estava sendo caçado, desaparece como por um encanto.

Esse ser encantado e morador das florestas, pode assumir a forma de diferentes animais mas, segundo os moradores da região amazônica, uma delas parece ser a mais preferida: a do cervo garboso com os olhos de fogo e uma cruz na testa ou um grande veado branco que desvia o caçador de seu objetivo. Anhangá além de enganar os caçadores desviando o tiro de sua arma, provoca febre e visões em quem o vê. Assim como o curupira, Anhangá é considerado o protetor da vida na floresta.

Segundo a crença popular, qualquer pessoa atacada por um animal selvagem pode se salvar gritando:

- "Valha-me Anahngá!".

Também se pode compactuar com o Anhangá, prometendo tabaco em troca da embiara prometida.

Estes dois textos eu enxertei do blog da Prof. Silvana Nunes

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LENDAS??? ou verdades??

Devaneios, desejos e anseios....nunca deixe que tomem conta de voce.....a pequena ''estoria'' acima ajuda a isto não acontecer, basta apenas voce acreditar que tudo isto acima existiu, existe e sempre existira'...apenas isto!!!

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WILLIAM ROBERTO CUNHA
Enviado por WILLIAM ROBERTO CUNHA em 31/01/2011
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