Aninha e as estrelas - EC -

Aninha tinha acabado de voltar do recreio, quando viu sua madrinha na porta da sala de aula falando com a professora e olhando para ela. Mal sabia Aninha que sua mãezinha querida havia falecido naquela manhã.
A professora pegou Aninha pela mão e a levou para encontrar sua madrinha, que também era vizinha de sua casa e estava com os olhos vermelhos de choro.
Fátima, a madrinha, abraçou Aninha e não segurou o pranto assustando a menina. Afinal, Aninha tinha 06 anos, não entendia o porquê de todas aquelas lágrimas. Aninha retribuiu o abraço e ainda abraçada à madrinha perguntou:
- O que foi madrinha, porque você esta chorando? O que faz aqui na minha escola?
- Aninha, vim te buscar querida, você precisa vir comigo.
- O que houve? Nasceram os cachorrinhos da Mel?
- Não minha criança, a Mel ainda não é mamãe, vai demorar um pouco. Vamos embora que no caminho te conto. Pegou Aninha pela mão e, sem conseguir parar o choro e de olhar para a menina, mais uma vez a abraçou e, em soluços contou que a querida mãezinha de Aninha havia morrido.
Sem entender ainda o que é morte, Aninha olha demoradamente para sua madrinha e chora. Chorou mais por contágio das lágrimas da madrinha do que pelo fato em sim. Afinal, o que é “ morreu” para uma criança de 06 anos? Fátima, arrependida de ter contado, mas, aliviada da menina não ter entendido o que ela quis dizer, mais uma vez a abraça e soluça profundamente, assustando ainda mais a criança.
Ao chegar em casa Aninha percebeu que havia muita gente, sua casa costumava ser tranquila, apenas com as presenças de sua mãe e seu pai, reparou que todos os vizinhos lá estavam.
-Mamãe, mamãe, cheguei, grita Aninha rumo à cozinha.
-Madrinha foi me buscar e disse que a senhora morreu. O que é morreu mamãe? Todos na sala encheram os olhos de lágrimas, um silêncio mortal se instala, até que o pai de Aninha a abraça e a leva para o quarto. Longe de todos, Aninha pergunta cadê a mamãe dela, e o pai com voz embargada não sabe o que dizer.
O que dizer a uma criança que sua mãe, seu norte, seu porte, seu porto seguro, sua estrela e sua guia morreu? Fala, não fala? Mente, omite, o que fazer? O pai não estava preparado para aquele momento. Mas, quem está? Resolveu não dizer nada, apenas embalou aquela pequenina nos braços, e em silêncio e prece, pediu para Deus lhe dar as palavras certas e explicar para Aninha a ausência da mãe.
Suas preces foram atendidas. No embalo do colo amoroso do pai, Aninha adormece, um sono leve a envolve e a pequenina começa a sonhar com sua mãezinha querida. De mãos dadas, mãe e filha caminham pela casa, passam por todos na sala e chegam até o quintal, onde está o balanço de Aninha. Marina, a mãe de Aninha, a coloca no balanço e ali ficam a brincar por um longo tempo. Quando a menina se cansa e pede para descer, Marina a pega no colo e diz:
-Aninha, a mamãe precisa lhe falar. A mamãe quer que preste muito atenção no que ela vai lhe dizer. Papai do Céu, lembra que eu te falava do Papai do Céu?
-Lembro mamãe, o dono das estrelinhas e dos passarinhos!
-Isso, muito bem! Pois é querida, Ele precisa de mim lá no céu. A mamãe vai ajudar a cuidar das estrelinhas e não mais poderá ficar aqui em casa com vocês. O céu é longe, a viagem vai demorar muito então, antes de partir, Papai do Céu pediu que eu viesse aqui lhe dar um beijo e lhe contar sobre o que farei lá nas estrelas. Você vai ficar aqui com seu papai, será uma boa menina e eu lá do céu, junto das estrelas vou cuidar de vocês dois. Para eu fazer um bom trabalho com as estrelinhas, preciso saber que você ficará bem, que entenderá a ausência da mamãe. Você entende?
- Sim mamãe, guarde uma estrelinha para mim?
-Sim filha, guardo. Volte para o seu balanço, vamos brincar mais um pouquinho antes da mamãe ir viajar.
Um barulho interrompe o sonho e Aninha acorda. Era sua madrinha indo buscá-la para levá-la de lá. Foi resolvido que Aninha não presenciaria o velório e enterro da mãe, uma vez que esta faleceu de forma trágica, o corpo demoraria a ser liberado e tudo seria muito difícil para uma criança de 06 anos. Iria para a casa de sua avó paterna, e lá ficará até que tudo se resolva.
O pai de Aninha sussurra para Fátima que não teve coragem de contar sobre a morte da esposa, que a menina adormeceu em seus braços e ele só conseguiu rezar. Fátima responde que alguma coisa será preciso dizer, a menina vai perguntar pela mãe.
Nesse instante, Aninha fala:
-Papai, a mamãe já foi lá pro céu?
Atônito, o pai balança a cabeça e chora. Fátima pega Aninha no colo e diz que sim, que a mãe já havia partido. Aninha, docemente diz:
-Ela me contou que Papai do Céu a chamou para ajudar a cuidar das estrelas, e ela vai guardar uma para mim. Papai, o senhor vai deixar eu ter uma estrela né?
-Sim filha vou deixar.
-Você promete?
- Eu prometo.



Este texto faz parte do Exercício Criativo - Eu Prometo
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