Amor Póstumo

As palavras me fogem toda vez que penso em ti.

Os olhos lacrimejam ao simples sopro de memória que voa em direção à tua imagem.

A dor ao relembrar o tom de tua voz quando me chamavas "meu amor".

As impressões deixadas são irremovíveis. Para dor e desespero deste pobre coração moribundo.

Impressões indeléveis de noites consumadas pelas chamas alimentadas pelo prazer, pela paixão e, por que não, pelo tesão.

Horas intermináveis, mas nem por isso desagradáveis, onde a trilha sonora eram gemidos inexprimíveis e palavras dóceis de carinho e amor.

A embriaguez trazida com teu cheiro extasiante. O conforto dos teus braços me envolvendo em meu sono.

Ainda me lembro de quando tu aparecestes ante mim, como a valkyria ao seu protegido cavaleiro, com tua beleza de invejar as estrelas e um brilho nos olhos capaz de ofuscar o próprio sol.

Quantos momentos de plena felicidade envolveram nossas vidas.

O teu desabrochar como a rosa na manhã de outubro.

Até mesmo as juras secretas de amor eterno, soam, ainda neste instante, como o silvo doce do melro.

Mas, como sempre, a natureza faz valer seus caprichos.

Do nada veio ela, com seu rosto pálido e encantador, acariciando com seus dedos frios, aquele rosto que por tantas vezes vislumbrei ao alvorecer.

Notei ter sido uma paixão arrebatadora.

Não uma paixão carnal, mas um amor espiritual, que pouco a pouco, fora arrancando-te da minha presença.

Tuas palavras já não eram a mim dirigidas. Teus carinhos ao meu rosto aflito não pertenciam mais.

Foi então, com amargo pesar, que a vi tomar-te por esposa.

Não, eu não te culpo.

Sei o quão irresistível é o toque daquelas mãos gélidas.

E é por isso, triste mas conformado, que venhos aos pés de teu agora eterno leito matrimonial, presentear-te, coroando, assim, este mórbido casamento, com estes singelos crisântemos brancos.

Luiz Costa
Enviado por Luiz Costa em 28/11/2006
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