Retorno...

Fernanda acordou cedo para ir a escola e fez todos os rituais costumeiros. Tomou seu banho, escovou os dentes, vestiu o uniforme, pegou a mochila e desceu as escadas para tomar o café da manhã. Ao passar pela sala, sentiu vontade de deitar-se no sofá novo, tão macio e com cheiro de coisa recém comprada.

O cheiro do café da manhã preparado pela mãe estava divinamente delicioso, mas a vontade de deitar no sofá e fechar os olhos foi muito maior. E assim ela fez. E ao fechar os olhos, sentiu como se o mundo estivesse ficado distante e começou um passeio estranho por um jardim florido e perfumado. As flores possuíam uma beleza tão sutil e rara, que Fernanda começou a duvidar de que outro ser humano já tivesse caminhado por aquele jardim.

E naquela caminhada contemplativa, ela começou a ouvir vozes familiares às suas lembranças e avistou de longe uma roda de pessoas que lhe pareceram muito felizes e amistosas umas com as outras. E ao se aproximar, a surpresa e a emoção que tomaram conta dela foi algo inenarrável! Os quatro avós já falecidos, seu tio e a prima querida estavam ali, bem na sua frente! As lágrimas foram inevitáveis, os abraços emocionados e a sensação de saudade diminuída por todas as partes.

Mas depois dos beijos e abraços, Fernanda questionou aquele encontro e uma das avós, a materna, disse-lhe: - esta reunião é para te dar as boas vindas ao novo lar, para recebê-la nesta nova vida! Fernanda, apavorada com a possibilidade, fechou os olhos e gritou, chamando a mãe. De repente ela acordou com os próprios gritos e se viu deitada no sofá que tanto a havia chamado. Aliviada e ao mesmo tempo preocupada com o horário da prova que teria que fazer aquela manhã, Fernanda correu até a cozinha para procurar a mãe. A mesa estava posta, mas a mãe não estava por ali. Ela chamou e nada da mãe responder.

Depois de chamar duas vezes, ela resolveu subir as escadas para procurá-la, mas no meio do caminho escutou soluços desesperados e um burburinho de pessoas conversando. Os barulhos vinham de seu quarto e ela, assustada, correu para lá para saber se tinha acontecido algo com a mãe. Ao entrar, ela a avistou abraçada ao pai, aos prantos, e umas quatro pessoas vestidas de branco, tentando socorrer alguém. Preguntou o que estava acontecendo, mas todos estavam tão distraídos com a situação, que nem deram ouvidos a ela.

Aproximou-se do grupo de socorristas e quase desmaiou quando se viu ali, deitada no chão, com a mochila do lado, tão branca qual a um fantasma. Mas antes que Fernanda caísse, mãos fortes a seguraram e uma luz muito bonita tomou conta do lugar. Fernanda olhou para trás e viu o seu tio e todas as outras pessoas do piquenique, orando e emanando raios prateados. Naquele momento ela entendeu a sua situação e em lágrimas, pediu consolo aos pais, da qual era a única filha, mas que agora regressaria ao verdadeiro lar!

Mi Guerra
Enviado por Mi Guerra em 11/08/2011
Reeditado em 11/08/2011
Código do texto: T3154338