Uma vida cor-de-rosa azulada

Rosa era uma moça muito bonita e ficava ainda mais bela em seu vestido cor-de-rosa estampado com flores rosadas e com aquele sapato róseo escuro.

O céu estava lindo naquele dia, com o tom róseo que ela mais gostava, e as nuvens, poucas e esparsas, eram todas rosadinhas. Contracenando com elas, lá no alto, o sol brilhava e lançava seus raios ultra-rosa para terra.

Naquele dia, distraída com as margaridas cor-de-rosa e as rosas rosadas de um jardim ali perto, adentrou a rua e foi atropelada por um automóvel cor-de-rosa. Ela viu seu sangue cor-de-rosa minar em seus joelhos frágeis e rosados. Era um sangue rosa escuro. Rosa desmaiou.

Rosa via o mundo de uma forma diferente, ela via tudo em tonalidade de rosas, cor-de-rosa. As pessoas não compreendiam seu jeito de ver. Ela era diferente.

Rosa acordou no hospital rosado. O lençol da cama além de macio era cor-de-rosa bebê, os móveis eram de um tom rosa bem sóbrio, as enfermeiras que lhe faziam o curativo usavam seus uniformes bem rosinhas, impecavelmente limpos e rosas. O médico usava um jaleco rosa limão. “Foi apenas o susto e os ralados nos joelhos. Você não teve nenhuma fratura, pode ir embora”. Disse.

Rosa sorriu.

Um rapaz que estava ali presente aproximou-se e pediu mil desculpas para ela e explicava-se para os demais ali naquela sala. “Ela praticamente se atirou na frente do meu automóvel. Também vestida assim, com este vestido azul, de flores azuis, ela ficou praticamente invisível na frente daquele paredão azul de onde saía. Tinha um grande caminhão azul ali estacionado, ela se lançou por traz dele, não a vi.” Disse rapidamente o rapaz.

Rosa não ouviu uma palavra do que ele disse, estava apaixonada por aquele rapaz estranho, não se lembrava mais do acidente, não sentia dor em seus joelhos machucados, ela só enxergava o rapaz em sua roupa, tom sobre tom. Uma camisa rosa clara, apropriada para um homem daquela idade, e uma gravata rosa escuro, que contrastava com a camisa. Sem falar na calça, em um rosa vivo a cor do amor, e nos sapatos, em rosa cor de terra, dançante e espelhar.

Ao ficar sozinhos, ele pode ver os olhos dela, azuis como duas jabuticabas que ainda não amadureceram. O cabelo era azul cor de café, macios sedosos compridos.

Ela também pode ver os olhos cor de mel silvestre, que ele tinha, e para ela o mel silvestre era rosa. Os cabelos eram rosa chocolate e sua cútis: “Deus que pele linda, rosadinha.” Ela pensou.

Saíram de braços dados, enamorados, encantados um pelo outro.

Ele a levou até seu carro. Ela ficou admirada. “Eu não poderia ter visto este veículo mesmo. Ele é todo rosa como a cor do asfalto” Concluiu. E o asfalto das ruas para ela era um tom de rosa bem escuro.

Eles foram embora. Ela vendo a vida toda cor-de-rosa e ele vendo a vida toda azul.

Valdecir Ravazi
Enviado por Valdecir Ravazi em 03/10/2011
Reeditado em 07/10/2011
Código do texto: T3255871
Classificação de conteúdo: seguro