“Despire”     
 




     Certa vez a Poesia resolveu banhar-se. E, para tanto, deveria antes de tudo despir-se. Despir-se para que a verdade seja o apogeu. Mesmo que a nudez aos olhos do mundo seja um pecado e como tal, deva ser castigada. Despir é mostrar todas as partes... Deixar à mostra todos os defeitos, anseios, sonhos, tristezas, alegrias, preconceitos, e medos. Para a Poesia o banho é algo completo, que ao final vira livro. Enquanto que para a maioria, seria inaugurar um tratado da historia dos seus banhos; contando a vida através deles: banho de tristeza, banho no tanque, banho na chuva, banho na praia deserta de Boracéia, banho de cachoeira, banho com a lua, banho de palavras...

     Ao certo que, um bom banho derruba qualquer argumento. Renova sentimentos, Poe muitas coisa em seu devido lugar. Mesmo havendo certas intimidades, que por mais que se façam, aos outros não convém.

     Despir-se para renascer... Despir-se para entender. Despir-se para perdoar e esquecer. Banho com palavras para a Poesia realmente ser entendida. Ela que totalmente despida, ia entrar na banheira branca, quando lembrou que para tudo é preciso um ritual. Ninguém chega a um beijo apaixonado sem um ritual! Ninguém consegue fazer nada se respeitar a natureza das coisas e das palavras!

     Para o seu banho a Poesia ritualizava assim: a luz de velas coloridas e aromáticas com a intenção de reter o brilho delicado em uma coloração sépia. O estremecimento da chama a convidava a imaginar. Pela imaginação, a poesia desatava a escrever, com musica suave... E a frescura da taça de champagne gelada à borda da banheira, para lembrar todos os momentos especiais que existem na suavidade do amor. E finalizando o ritual, toalhas brancas e fofas, esperando por carinhos de uma noite inteira.

     Feito isso, seus pés tocaram suavemente a água. Pernas alongadas para o banho de rosas; mãos suaves para os banhos de perfumes; olhar atento no absinto para os banhos da imaginação...

      O toque sutil dos seus dedos na água morna sentindo a temperatura... O alongamento de seus braços, revirando os cabelos para que ficassem soltos, e, finalmente – mergulhar.
Há um estágio na vida em que todos os banhos deveriam ser de Poesia...

      Pois, um chuveiro deixa a água passar rapidamente por um corpo, banhos dos aflitos. O banho de piscina é o banho químico e enjoa. É o banho das pessoas políticas e enjoadas. O banho de mar é pesado. É o banho das pessoas iludidas, o banho de ilusão. Há também o estágio em que tudo na vida ou é água ou é poesia.

      Conviver com a água é naturalidade que chegar a ser obsceno. Se disser que vi a Poesia tomando banho... A forma da água assume este olhar. É gostoso vela deitada em uma banheira com seus cabelos molhados. Não sei de devo falar do banho de espuma. A espuma cuja concepção naturalmente desequilibra, porque lembra as nuvens de um firmamento em paz!

     A espuma que desequilibra a poesia quando esta fica junto de leveza e harmonia...! A espuma que se transforma na forma liquida pela consumação de sua existência, assim como tudo na verdade termina em Poesia. A poesia liquida que só existe na forma inteligente de água, pois por ela a sensação do amor cresce estufa, borbulha e transborda! Faz-se dela o que a imaginação manda. Minha Poesia é água e perfume cuja essência fica em palavras e metáforas. E ao final, um banho de palavras que simplesmente deixa tudo no ar. 
  

(Embaraço meu, ela disse: não sei descrever um banho feminino para a revista... Tentamos.) 
 

 
Carmem Teresa Elias e De Magela
Enviado por Carmem Teresa Elias em 15/12/2011
Código do texto: T3390836
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