Os Cabelos de Mel

Quando ela morreu ninguém chorou.

Os cabelos de mel era seu charme e ela fazia questão de escová-los várias vezes ao dia e durante horas. Seus lindos cabelos sedosos, lisos, finos, negros, poderia dizer: divinos.

Escovava, fazia penteados, repartia, fazia tranças com laços, fazia coque, fazia rabo, escovava novamente, colocava arcos, fitas, enfeites e depois penteava tudo novamente. Usava a escova, usava pente, usava as mãos.

Um dia, enquanto penteava seus cabelos, Mel percebeu que a escova deslizava por entre os fios. E ao analisar com as mãos pode perceber que eles estavam melados. Havia neles uma espécie de creme. E quanto mais ela escovava o cabelo, mais creme parecia sair deles.

Não era um dos cremes que ela usava. Era um creme marrom com um cheiro adocicado. A cada dia que passava, por mais que ela lavasse ou limpasse os cabelos, mais eles ficavam melados.

Passou semanas escovando e a substância aparecia cada vez mais em seus cabelos. E o pior é que várias abelhas começaram a aparecer em sua casa. Pousavam em seus cabelos.

Um dia passou sem querer os cabelos pela boca e sentiu que aquela substância era doce. Quando deu um pouco para sua mãe esta disse que havia gostado do mel.

Ela descobriu que ao se pentear seus cabelos produziam mel. E todos os dias ela começou a se pentear e ajuntar o mel que saia de seus cabelos e quanto mais retirava mais mel se criava nas suas madeixas. Os dias foram passando e ela foi ajuntando muitos potes de mel, tantos que começou a dar o mel para os amigos, para os vizinhos, para os parentes.

Todos gostavam do mel que ela dava e passaram a pedir mais e a até querer comprar o “MEL da Mel”.

E quando todos na cidade, que era pequena, já estavam saciados de comer o Mel da Mel, ela começou a mandá-lo para outras cidades e outros estados e exporta-lo para outros países.

Ela ficou muito rica. E todos queriam saber de onde vinha aquele mel, pois ela não tinha apiário. E apenas algumas abelhas havia em sua casa. Ela mentia dizia que comprava e revendia.

Um dia ela contou para uma amiga que o mel vinha de seus cabelos.

E como para a amiga, mel dos cabelos, era nojento, só pensou em uma coisa, denunciar a amiga. Mui amiga. Então vieram as autoridades sanitárias e perguntaram de onde vinha o mel. Ela não soube como responder, não poderia falar que era dos cabelos.

Assim fecharam o comercio de mel da Mel e ela ficou muito triste. E o mel lhe escorria pelos cabelos, melava o chão. Ninguém mais quis comprar do seu mel e as ruas ficaram cheias de mel. A cidade toda ia se afundando em mel.

As autoridades voltaram e lhe proibiram de jogar o mel nas ruas. Só tinha uma solução, ela tinha que cortar os cabelos. Ficou careca. E mesmo assim uma pequena quantidade de mel saia dos fios curtos que sempre cresciam em sua cabeça. E um dia ela ficou muito triste e começou a comer todo o mel que lhe escorria da cabeça e morreu de tanto comer mel. Para os que acham o fim de Mel foi triste: ela morreu, mas foi para o céu.

Valdecir Ravazi
Enviado por Valdecir Ravazi em 14/03/2012
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