AS TRÊS VELHINHAS

Eram três irmãs e ,decididamente , a sorte não lhes sorriu como esperavam.
Se é que a sorte "sorri", reservara a elas nada além de um singelo esboço.Houve um tempo de sonhos,é claro.De olhos radiantes, deslumbrantes vestidos, flores nos cabelos...Passeios, quermesses,bailes,serestas, festas de casamento...
[Das amigas,evidentemente.]
Os olhares ,ainda ávidos de sonhos,vislumbravam uma a uma adentrando igrejas em vestidos brancos e empanavam-se do brilho à cada buquê aterrizado em mãos alheias.
Aos poucos foram se dando conta de que os enxovais bordados à mão,jaziam em canastras dividindo espaços com o abandono das traças viciadas em naftalina.Que a textura delicada dos pós de arroz ,ia se acumulando entre uma ruga e outra e os cabelos brancos ,sem viço,negavam-se à aceitação das camélias vermelhas de outrora.
Desilusões, desesperança, a vida fechando ciclos...
Submissas ao avanço da idade,foram-se as três irmãs,"as môças velhas" como eram conhecidas,para suas moradas eternas.
O sobrado em que escreviam suas histórias,transfigurado,é agora uma figura rôta ,intermediadora da batalha travada entre a persistência de gerânios e a resistência das ervas daninhas.
As grades pontiagudas do portão ferem o espaço.Guarnecem-lhes,o par de carrancas dos leões em ferro fundido a espreitar uma caixa de correios,ávida  de notícias .No conjunto, complementam-se,delineando  desoladora imagem.
Apressadas,circulam as pessoas.Agendas e compromissos,roubam-lhes um tempo para os pequenos detalhes daquela esquina.
Mas,à quem cruzar por ali em noites de lua cheia e dispensar um olhar mais atento ao casarão,vislumbrará pela sacada, três velhinhas de olhares absortos, apaixonados ,à espera dos braços fortes do "cavaleiro Jorge" a decidir por aquela que irá engarupar-se de seu cavalo branco para um interminável passeio entre as galáxias.