HISTÓRIA COM FINAL TALVEZ FELIZ ATÉ PROVA EM CONTRÁRIO

Naquele dia, tudo dentro da normalidade, pasteurizado pelas lentes dicróicas e transmitido em rede, captado pelas telas planas e coloridas.

Tudo e todos de acordo com os ditames e satisfeitos por atenderem às normas preconcebidas. Olhos, boca, cabelos, até um risinho-choco padrão, tudo acordado, sem combinar por escrito, e quem não concordasse, e quem discordasse, que ousasse contrariar as decisões do controle mundial para as atitudes dos indivíduos, ai dele, seria suprimido, caçoado, achincalhado, levando três bolos na mão direita , três na mão esquerda.

J.J.João Benitez, 38, família dita digna e proba de acordo com os fichários eletrônicos, já tinha levado tanto nas mãos, que elas tinham se alongado, ficando maiores que o rosto. Muito bom , pois assim ele poderia aplaudir a todos quando passassem e dizer: "" como são lindos, bonitos e fofuchos"". Embora não concordasse uma vírgula com isso, fazia para evitar aborrecimentos e ganhar uma medalha de honra ao mérito, a qual poderia ser trocada por três pirulitos.

Com isso, a sociedade continuava a seguir seu rumo, limpa, no modo de ver dos centuriões, mas na verdade um mundinho sujo.

Tudo, menos isso; J.J João Benitez, filho de pais desconhecidos, aceitava os bolos, a humilhação, mas não aceitava ser marionete, isso não. Via como sapateavam e valsavam de forma cronometrada, longos cordões na rua a caminhar e ele, na contramão, esbarrava às vezes com alguns; pedia ""desculpas, milorde"", enquanto os fidalgos transitavam pela via. Todos com seus costumes do século XIX, sem os quais era impóssível adentrar nos clubes conceituados, embora , lá fora, o sol de 40 oC abrasava.

Ele, sempre com seu fato de brim ordinário, as barras sempre por fazer; a barba às vezes por fazer. Reparava, agora, na última moda para as damas, que era a peninha de avestruz na cabeça ou o cocar ameríndio ou então ainda os coturnos do exército. Ria-se por dentro de tanto disparate e pensou: ""esse mundo está no contrassenso; os relógios andam ao contrário. Já sei..."" E estalou os dedos. Num instante, como que por mágica, entraram nos eixos as coisas; todos caminhavam calmamente e inspiravam o ar, embora ainda poluído; muitos até o cumprimentavam ou balançavam a cabeça e não eram loucios ou mendigos. Uma moça bailava na avenida. cumprimentou-o, tomou-lhe das mãos e caminharam até o regato ali adiante. Sentaram-se no gramado. Fez sinal e ele retirou as botas, sentindo o frescor das gramíneas. Uma criança que brincava, aproximou-se e deu-lhe um sorriso.