Sempre com você

Sempre que fechava os olhos a noite, Harper podia ver o olhar do homem que atirou, friamente, em seu amado Emmett. Era um olhar negro como carvão e frio como noites de inverno, mas o que tirava seu sono era como brilhava, ao ver Emmett ensanguentado no chão, com seus olhos verdes sem vida. O único conforto de Harper era saber que, apesar de morto, ainda estava ao seu lado.

Harper acordava com sua voz suave, sussurrando o “Bom dia” mais gostoso que já recebera.

- Olá Emmett.

A campainha toca. Se tinha algo que ela esquecera era a visita de sua mãe naquele fim de semana.

- Droga! Droga! – repetia, enquanto jogava uma roupa qualquer em seu corpo nu.

- Esqueceu sua mãe outra vez? – lembrou ele.

- Culpa sua Emmy. Fica aqui! – avisou, enquanto corria em direção à porta. – mãe!

- Está ocupada? Ouvi você falar com alguém. – observou.

- Não, era o telefone.

Sua mãe a olhara de cima a baixo. – Me esqueceu?

- Oras, é que... Esqueci dona Musa, é pecado? – perguntou. Sua mãe corre para um forte abraço, apesar de Harper não ter retribuído.

Musa ajuda Harper a arrumar a bagunça da cozinha.

- Para que dois copos? – reparou.

- Por causa do Em... – percebeu que falava demais.

- Quem?

- Ninguém. – tentou despistar, sem sucesso.

Musa pega nas mãos de sua filha, preocupada.

- Você tem visto o Emmett?

Da porta do quarto, Emmett fazia que não com a cabeça, mas um sim saiu da boca de Harper.

- Ele vive aqui mãe, acredite.

Musa não conseguiu disfarçar sua tristeza.

- Tem um psicólogo ótimo que...

- Mãe, eu to bem. – afirmou.

- Não Harper, não! Por favor, faz por mim. – pede Musa. Harper não devia ter contado, então, para acabar com o tormento de sua mãe, acaba aceitando.

Emmett estava com suas mãos fincadas nas de Harper ao entrar no escritório do psicólogo.

- Sr. Sheppard? – disse, ao bater na porta.

- Jason, por favor! Entre! – disse ele.

Harper entrou. Emmett não saia de seu lado por nada. Ela amava isso nele. A força que ele tinha era tão grande que até tinha para ela.

- Ele está aqui agora? – perguntou.

- Ele? Quem? – duvidou.

- Seu namorado. – Harper olhou para Emmett, com dúvida.

- Fala amor. – Emmett concordou.

- Está do meu lado.

- E como ele é? – perguntou outra vez.

- Cabelo e olhos castanhos...

- Não fisicamente. Como ele é com você? – explicou.

- Eu nunca falei sobre isso. Bom, ele tá sempre sorrindo e faz eu me sentir alegre também. Quando ele está pensativo é quando inventa formas de me provar o quanto me ama, não que precise. – sorriu para ele.

- Parece que ele te faz feliz. – chega à conclusão.

- Não sabe o quanto.

- É por isso que ele não vai. Você não deixa. – Emmett tenta socar o psicólogo, mas sua mão atravessa o rosto dele.

- Vamos sair daqui! – grita ele, indo em direção à porta.

- Eu... eu... – ela olhou para o psicólogo, sabendo que ele estava certo, mesmo sem querer aceitar.

- Harper vem! – tentou outra vez. Ela se levantou e eles saíram de mãos dadas.

Após Harper ter saído do consultório, Dr. Sheppard deve ter ligado para Musa, pois ela esperava a folha no sofá.

- Mamãe eu... – percebeu que, ao ouvir sua voz, Musa começou a limpar seu rosto. – Tá chorando?

- Não sei mais o que fazer. Nunca vou conseguir fazer você superar a morte do Emmett. – revelou.

- Isso não é trabalho seu. – indignou-se.

- Sou sua mãe. Claro que é meu trabalho, mas eu falhei e... Eu desisto. – afirmou.

- Desiste? Como assim mãe? – Harper não entendia o que ‘desisto’ queria dizer... Ou talvez ela entendesse tanto que chegava a machucar.

- Me liga quando se tocar de que fantasmas não existem. – disse Musa, fechando a porta atrás de si.

Tudo bem! Sua mãe a havia abandonado, seu namorado morto estava deprimido e todos a achavam louca. Mas Harper não ligava, contanto queque Emmett não a abandonasse jamais.

- Emmett? – disse, deitando-se ao lado dele na cama.

- Que foi?

- Quer ir embora? Por que eu não sei se consigo viver sozinha. – confessou.

- Eu nunca irei embora. – respondeu ele e beijou-lhe a testa e deixou-a dormir.

Ao acordar de manhã, percebe que Emmett não está e isso a preocupa.

- Emmett! –roda pela casa inteira gritando seu namorado, mas não obtém resposta. Sem saber com quem conversar, Harper marca hora com Dr. Sheppard, apesar de ele a achar louca.

- Ele nunca ficou tanto tempo longe. Acha que ele partiu? – duvidou.

- E se ele se foi? É a maior prova de amor que ele pode dar.

- E se eu não precisar de provas? E se eu precisar só dele? Eu o amo tanto e... e... – o coração de Harper doía só de pensar em nunca mais vê-lo.

- Ele também podia estar sofrendo sabia? – Harper Jason levantou nessa hipótese.

Harper chegou em casa e ficou de pé em frente à cama por algumas horas, tentando assimilar tudo o que vinha acontecendo desde a morte de Emmett.

- Não dá mais. – a voz de Emmett a assustou.

- Emmy, onde estava? – correu para abraça-lo.

- Quando levei aquele tiro, não senti dor alguma. Meu corpo adormeceu e minha cabeça paralisou com seu rosto gravado nele. Pensei que não poderia morrer sem saber que você ficaria bem. – confessou.

- Emmett, por que tá falando assim?- Harper precisava se convencer de que ele não queria abandoná-la.

- Não podia abandonar você até que ficasse bem. Só que, agora eu vejo, você não vai ficar bem se eu continuar aqui. – afirmou.

- Não!

- Eu já vi o paraíso Harper. – ele sussurra em seu ouvido.

- Quero ir com você. – ela pede, mas Emmett não aceita.

- É o que eu mais quero, só que... eu posso esperar. – sorriu. Harper não podia mais conter as lágrimas.

- Você vai ficar bem. – ele olhou para o nada, como se pudesse ver algo que ela não via.

- Emmett, eu te amo! – afirma, beijando-o em seguida.

- Vou esperar por você. – uma luz intensa consome o corpo de Emmett até ele desaparecer.

Harper não perde tempo em colocar seus pertences em duas malas de rodinha, sair e trancar a porta.

Musa se surpreende ao abrir a porta e ver Harper do outro lado, com os olhos inchados.

- Ele se foi mãe. – abraçou a mãe, ao sentir que voltaria a chorar.

Depois disso, Harper quase passou dois meses em depressão, mas recuperou-se e voltou a viver, sempre sentindo que, apesar de não vê-lo, Emmett estava por perto... Sempre.

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mais um conto da minha amiga Caroline Souza - esperamos que gostem. (espero que eu tenha posto na categoria certa)

Caroline Souza
Enviado por Camilla T em 18/10/2012
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