Transcendendo Vidas (Parte 1)

(amigos, essa história se passa em dois momentos. por ser uma história de reencarnação, se passará no passado e no presente.)

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Paris, França – Março de 1914

Não havia cidade mais bonita em território francês. Tempo da Belle Époque, a Capital francesa era o centro do glamour e do luxo. Nunca em momento algum da história viam-se passar nas ruas belas damas com seus vestidos longos e, apesar de recatados e decentes, belamente glamorosos. Isso sem contar as belas luvas e rendas e chapéus, que destacavam a beleza individual de cada mulher francesa. Cheias de charme, encantavam a todos nas ruas, mesmo que inconscientes da magia que exalava da profundida de cada qual. Além delas, belos cavalheiros, bem vestidos e corteses, que ofereciam gentilezas e elogios sem obterem nada em troca. Belos moços que se inspiravam na beleza local e que sonhavam em achar a moça perfeita que lhes roubaria o coração; que sonhavam com qual daquelas belas damas que frequentavam os bailes locais eles se casariam e construiriam uma família digna de ser notada e elogia pela sociedade na qual viviam e pelos amigos.

Época de arte onde, qualquer coisa que se visse na rua que pudesse causar uma boa impressão no fundo de cada ser, servia de inspiração para os grandes nomes da arte e da literatura francesa. Nomes como Claude Monet e Alphonse Mucha.

Inovações como o telefone, o cinema, o avião, o telégrafo sem fio e a bicicleta eram assuntos na boca da sociedade que se maravilhava com as novas tecnologias e dispunham em grandes conversas, cada família, dando sua opinião, mostrando o quanto eram sabidos da modernidade, dizendo se eram contra ou a favor das novas possibilidades.

Porém, não apenas para os divertimentos mais recatados que se voltava toda a inspiração e divertimento locais, aliás, não se conhece local sem um tanto de divertimento, talvez um pouco mais depravado, mas que faziam parte daquele povo. Os cabarés e o Cancan tomavam conta de partes da cidade, aonde os solitários e solteiros iam em busca de relacionamentos sem compromisso, ou apenas para um happy hour. O mais famoso dos cabarés francês, o Moulin Rouge, era o centro do prazer daqueles que queriam divertir-se.

Susie Champney Herbert Monet de Beaufort, na época da Belle Époque, era uma menina de família rica, muito bonita, com seus longos cabelos negros, sempre arrumados em coque com tranças e cachos, refinada, educada, gentil e inteligente, nos seus dezenove anos, estava sempre frequentando bailes em que sua família, importantes como eram, eram convidados, isso sem falar nos passeios de carruagens para piqueniques ou visitas a amigos e parentes mais chegados e, exposições de arte, coisa da qual Susie mais gostava, até porque, como não gostar, sendo ela quem era, prima de quinto grau do próprio Claude Monet?

Foi numa destas exposições de arte, porém, que sua vida mudou por completo. Era março do ano de 1914 e sua família tinha recebido um convite para uma exposição de quadros impressionistas, onde seu primo Monet seria homenageado, juntamente com outros artistas, tanto literários quanto pintores.

Acontece que estava na cidade, um pobre rapaz, de origem muito humilde, que havia ido para a Capital parisiense a fim de arranjar um emprego, para poder ajudar a família. Justamente, conseguira o emprego no Museu doLouvre, como zelador-assistente. Não foi por acaso que ele e Susie acabaram se conhecendo.

Seu nome era Edmond Goodrich Wibert, um jovem pobre, porém extremamente belo em seus poucos vinte e dois anos de idade. Era alto, loiro, com belos olhos acaju. Mas mais do isso, era humilde, simpático, cortês, gentil e, embora pobre, muito bonito.

Ele estava trabalhando naquela noite de março, como segurança, já que um dos guardas havia ficado doente e lhe dera um voto de confiança, escalando-o para ficar em seu lugar. Ele passeava pelo museu fazendo sua ronda, quando a avistou, analisando o quadro ‘Femme Assise Sur Un Banc’ - (Mulher Sentada Num Banco), de Claude Monet. Foi quando ele viu um homem, de aparência suspeita. Nunca o tinha visto em nenhuma exposição e ficou a observar. Viu que o homem se aproximava da jovem dama, e viu quando este retirou uma faca de dentro do casaco. Foi caminhando silencioso até ter a oportunidade, quando Susie se distraiu, mas Edmond pulou em cima do homem suspeito, assustando a jovem, que agora conseguia ver a faca no chão.

Edmond deteve o sujeito mal encarado e chamou pelos companheiros, que o parabenizaram pelo trabalho bem feito. Aquele ato heroico rendeu-lhe uma promoção, elevando-o a cargo de segurança júnior. Susie ainda estava assustada, afinal, quase fora esfaqueada por um louco qualquer. Ela olhava Edmond com admiração. Nunca ninguém fora tão corajoso por ela.

- Não existem palavras em meu ser para agradecer-lhe a gentileza de salvar-me a vida. – falou ela, olhando no fundo dos olhos do rapaz, que a olhava com admiração e afeição.

- Só fiz o meu trabalho, mas não poderia deixar que um louco tirasse a vida de tão bela dama, que em instantes foi capaz de roubar-me o coração. – ele falou. Estava apaixonado pela beleza daquela jovem, mas mais do que isso, por seu ser, que ele podia enxergar, mesmo sem poder ver.

- Obrigada. O senhor foi um herói. Como posso lhe agradecer?

- Não precisa. Eu que sou grato por ter ajudado a manter-lhe assim, viva e bela. – falou ele fazendo-a corar.

- Eu insisto. Quero agradecer de alguma forma. – ela falou. No fundo de sua alma esperava que ele a chamasse para um passeio.

- Se a senhorita concordar, adoraria pagar-lhe um sorvete ou um jantar. Que tal um jantar e um sorvete? – ele perguntou, certo que ouviria um não.

- Nada mais poderia causar-me grande satisfação. – ela respondeu, para a surpresa do jovem, que beijou-lhe a mão e ficou de procura-la quando ela fosse embora.

Nascia ali, um grande amor. Mas que infelizmente, não se concretizaria.

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Paris, França – Dias atuais

- Esse quadro é um grande feito do artista Claude Monet – Diz Angelique a Eloise, ao ver o quanto a jovem ficou interessada na obra Regata em Argenteuil. Aquela exposição só estaria por ali em um mês e eloise já tinha ido ali umas três vezes, sempre admirando aquela mesma pintura, em cada detalhe, que a jovem tinha que controlar as lágrimas de tão emocionada que ficava.

- Eu conheço Monet, eu conheço qualquer pintor que me perguntar, Angelique. – Responde, chateada por Angelique ser a única que pode lhe acompanhar.

Angelique casara com seu pai Antoine Delancy há apenas dois meses e já se achava mãe de Eloise, sendo que era dez anos mais velha que ela e vinte mais nova que Antoine. Fingia gostar tanto de pinturas quanto Eloise, e isso irritava a jovem profundamente.

- Sabe, não precisava ter vindo – Afirmou Eloise, esperando uma reação verdadeira da mulher com quem seu pai casara.

- Fiz questão. Esse lugar me faz sentir em casa – Respondeu.

Eloise se afastou, aos poucos, sem que Angelique percebesse. Perambulou, de quadro em quadro, até encontrar outro quadro de Monet. Só que, em frente a esse, um jovem rapaz estava. Admirado com a beleza e a simplicidade de cada traço daquela bela imagem.

- Há, em obras de Monet, algo que me inspira familiar, como se o entendesse e o conhecesse de muitas épocas atrás. Já se sentira assim sobre algo na vida? – Disse ela ao rapaz. Sentia-se mais animada falar de seu amor por Monet com ele do que com Angelique.

- Talvez tenha conhecido, de outras vidas – Levantou a hipótese.

- Pensa que sou tola. Não existe essa coisa de reencarnação. – Se afastou dele, de forma que nunca imaginara que o veria outra vez. Não sabia ela que a ligação que ambos tinham era tão forte que vinha de outras vidas.

O Museu do Louvre, não era só onde Eloise se admirava com as artes que lá continha, mas também era um marco histórico para a França. Construído entre 1852 e 1857, aquele lugar tinha muitas historias. Ao vê-lo pela primeira vez, quando tinha apenas 10 anos, Eloise perguntara a sua mãe, umas mil vezes, sobre o tamanho daquela impressionante pirâmide, logo na entrada do prédio. Sua mãe respondia – querida, deve dar umas vinte ou mais Eloises – As duas riam e entravam no prédio, onde recebiam um mapa para não se perder no museu. Elas sempre seguiam pela ala Denon do edifício, onde ficavam as pinturas mais ilustres, onde sua mãe sempre dizia se admirar com os quadros de Leonardo Da Vinci, mas mesmo assim, era do Monet que ela gostava. Sentia em suas pinturas tudo aquilo que estava dentro de seu coração.

Não sabia onde Angelique havia se metido, mas todas aquelas lembranças causaram-na uma reviravolta e sentia que, se não saísse dali, sufocaria.

Do lado de fora do museu, o vento frio atrapalhava um pouco sua respiração. Sentia que precisava pedir um táxi e seguir para casa. Estava de sobretudo por cima de sua roupa, tinha um cachecol que envolvia seu pescoço, luvas em suas mãos e um gorro. Encontrou, na bagunça de sua bolsa, o celular, para chamar o táxi.

- Un táxi s’il vous plaît ici au Louvre – Pediu. Teve que sentar-se na calçada e esperar por alguns instantes, torcendo para não demorar e juntando suas mãos, na tentativa de diminuir o frio, só que sem sucesso.

- I’hiver à Paris é torturante – Diz uma voz conhecida por detrás de Eloise, a pegando de surpresa.

- Que susto! Parece até um fantasma. O que faz aqui? – Diz ela, enfurecida.

- O mesmo que você, imagino. A propósito, meu nome é Aaron – Diz o rapaz que admirava o quadro de Monet há alguns instantes atrás.

- Que ótimo! Agora eu me sinto completa. – Levantou-se, ao ver o táxi ao fim da rua.

- Não quis te ofender lá dentro – Disse, abrindo aporta do táxi para a jovem.

- Tanto faz. Nunca mais nos veremos mesmo. – Entrou e fechou a porta, olhando diretamente para a frente sem dar um sorriso para Aaron, mesmo sabendo que ele pensaria muito mal dela depois, sabia que nunca mais se veriam... Bom, pelo menos era o que ela pensava...

Camilla T e Caroline Souza
Enviado por Camilla T em 22/10/2012
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