Transcendendo Vidas (Partes 2 e 3)

Parte 2

Chá da Tarde – Casa de Dominique Dantè

Naquela tarde Dominique Dantè recebia alguns de seus parentes em sua magnífica casa, no número 82 da Rua Saint-Jacques, na margem esquerda do Rio Sena. Havia tirado aquela tarde para fazer um chá, em homenagem ao primo Claude Monet, que havia recebido um prêmio por contribuição à cultura francesa, com suas obras impressionistas. O que significava que quase toda a família estava lá, mesmo os parentes distantes, como a família de Susie, que eram primos seus de terceiro grau.

Conversavam em especial sobre as novas tecnologias que estavam surgindo, mas nem Claude e nem Susie se encontravam na sala de chá.

Susie estava num pequeno quarto, onde Dominique mantinha pinturas do primo. Susie amava olhar aquelas imagens e imaginar o que os personagens de cada quadro eram, o que faziam, o que pensavam. Era uma amante da arte e seu primo, mesmo que não convivesse com ela, sabia o quanto ela amava a arte. Mas não só por isso Susie havia saído da sala de chá. Momentos antes ela havia contado para os parentes sobre o rapaz segurança, Edmond, e o quanto ficara encantada com ele e que tinha aceitado seu doce pedido para um jantar. Porém a reação que tiveram a assustou. Praguejaram todos contra o rapaz e suas origens e como ela deveria estar doida ao aceitar o pedido do mesmo para jantar. Um rapaz pobre, que não poderia lhe oferecer todos os luxos com que estava acostumada. Um rapaz que mancharia o nome de sua família, com a classe social que ocupava. Foram todos contra, menos o primo pintor, que apenas ficou observando o desenrolar da conversa, quieto.

- Essa pintura é mesmo muito bela. – falou Monet, que havia ido atrás da jovem prima. Aos setenta e quatro anos, era um homem experiente e bondoso, que queria ajudar a parente de alguma forma, mesmo que apenas com palavras.

- O que o senhor estava pensando quando a pintou? – ela perguntou ao primo.

- Não sei, mas creio que minha opinião não deve importar. Sou um artista e incapaz de ser compreendido. Mas me diga, o que pensa sobre ela? – ele perguntou; falavam da obra Regata Em Argenteuil.

- Ora primo, parando para pensar... Imagino que essas regatas são uma fuga. Na minha humilde opinião eu embarcaria em uma delas ao encontro de minha felicidade. – ela começou a chorar – É tão duro não ter o apoio esperado da família. Edmond é um bom rapaz, trabalhador. Não me importo se é pobre. Não preciso viver com tanto luxo, comprando um de luvas novo todo santo mês. Tenho suficientes. – ela desabafou.

- Então por que não pega um barco? – ele perguntou.

- E decepcionar minha família?

- Ora, melhor decepcionar a família do que o coração. Um amor não se vive duas vezes.

- O senhor assim pensa? Eu discordo, acho que podemos reviver um amor, caso não consigamos dar continuidade a um inicial. – ela falou.

- Talvez, mas me diga senhorita, quem há de saber, sem já ter passado por tal experiência? Lute por seu amor. – Monet falou.

- O senhor sempre tão bom comigo. Obrigada pelo conselho. – ela falou e saiu dali, certa de que viveria seu amor ao lado do jovem Edmond.

•••

O que será que significa enxaqueca no dicionário – Pensou Eloise. Ela não sabia muito bem, até hoje, já que seu corpo estava lhe mostrando exatamente qual era seu significado. O lado esquerdo de sua cabeça doía tanto que pensava que estava se desgrudando do resto de seu corpo e, mesmo assim, Antoine insistia para que ela fosse ao jantar que Angelique estava oferecendo as suas amigas do grupo de apoio.

Angelique era, antes de conhecer Antoine, viciada em cocaína. Internou-se após ser abandonada por seus pais e, assim que saiu da reabilitação, casou-se com Antoine. Eloise não estava nenhum pouco a fim de ter que aturar aquilo, mas parece que não teria outro jeito. Antoine continuava a ligando, sem parar, tentando fazê-la mudar de idéia.

- Você vai conhecer um pouco mais a sua madrasta – Argumentou. E quem o informou de que ela queria conhecer melhor a madrasta. Mesmo assim, ela já tinha desavenças demais com seu pai. Resolveu aparecer.

Vasculhou em seu closet roupas que combinassem com a ocasião. O que combina com um bando de ex-drogadas juntas – Se perguntava. Encontrara o vestido perfeito ao lado de seu uniforme de trabalho. Trabalhava de professora de artes numa escola publica no centro de Rue de la Demi-Lune. Não ganhava dinheiro por isso, mas fazia pela satisfação de saber que jovens poderiam amar a arte da mesma forma que ela ou até mais. Pegou um dos vestidos de sua coleção da Coco Chanel, pegou uma bolsa onde carregava suas bagunças femininas, colocou um salto preto combinando com o vestido e fez um rabo de cavalo em seus longos cabelos.

A casa de seu pai lembrava um grande e belo palácio e trazia à jovem lembranças de sua mãe. Lembrava-se dela dirigindo seu carro, com aqueles cabelos loiros sedosos voando contra o vento que invadia pela janela aberta. Lembrava também do sorriso dela ao ver sua menina entrar na sala correndo e pular no sofá, gritando – Mamãe, que bom que ta aqui – Agora sua mãe estava morta e as malditas lembranças não a deixavam em paz.

Antoine estava, agora, descendo a escadaria da casa, vendo que a filha havia chegado.

- Vai haver um dia em que você não chegue atrasada? – Ironiza ele. Estava vestido de terno e gravata e tinha uma cara de tédio. As amigas de Angelique já estão lá dentro – pensou.

- Se não tivesse arrumado uma menininha drogada, não estaríamos passando por isso, papai – Disse ela, dando as costas ao pai e entrando na sala de estar. Pode ouvir ao longe a voz irritantemente grave de Angelique, que parecia falar de moda com as outras mulheres.

Angelique a vê entrando na sala de estar e grita seu nome, fazendo todas as outras olharem para ela.

- Venha conhecer umas amigas minhas. - Argumentou Angelique. Eloise já previa muitos sorrisos falsos e muita conversa de quem estava “superando” as dificuldades. – Essa é Amélia Mellick – apresentou-a a uma mulher com, aparentemente 50 anos e com uma enorme pinta no pescoço. Eloise sorriu, após receber um forte abraço daquela mulher. Tinha também uma tal de Florência... Marie... Charlotte... entre outras que ela não gravou o nome. Algumas estavam acompanhadas de filhos ou maridos, mas nada daquilo a importava. Esperava uma oportunidade para escapar e subir as escadas, onde encontraria, no fim do corredor, o antigo lugar onde ela costumava arriscar algumas pinturas. Algumas ela até arriscava dizer que se deu bem, mas a maioria ela tinha vontade de jogar fora ou tacar fogo.

- São belas as pinturas – Diz uma voz intrusa atrás dela. Eloise fica surpresa ao virar para trás e reconhecer Aaron.

- Você esta me seguindo, Aaron? – Perguntou, curiosa por saber o que ele fazia ali.

- Infelizmente, o mundo não gira ao seu redor. Minha irmã faz parte do grupo de apoio da Angelique. Ela não quis vir sozinha, então... – Explicou.

- Oh, eu sinto muito – disse, dessa vez, sendo sincera. Viu Aaron vaguear pela sala, olhando cada quadro feito por ela. Parecia impressionado.

- Vai ser tão talentosa quanto Monet um dia. – Diz, antes de deixá-la sozinha com seus pensamentos. Assim que ele deu as costas, Eloise sorri, lisonjeada com o elogio do rapaz, mas ela nunca o deixaria saber disso.

Ela espera alguns instantes para descer também, só para encontrar Amélia novamente.

- Anjinho, me diz onde é o banheiro. Sua mãe disse, mas eu não a entendi direito. – Pede ela, com aquele olhar doce demais, sorriso doce demais e gentil demais. Eloise estava em seu limite, mas prometeu a si mesma ao se olhar no espelho antes de sair de casa que se controlaria. Não era de quebrar promessas.

- Se a senhora subir essas escadas e virar à esquerda, é só abrir a terceira porta. E ela não é minha mãe. – Sorriu, tentando não parecer chateada. Observou a mulher subindo as escadas, mas não percebeu para que lado ela foi. Bom, se ela não sabe onde é à esquerda, o problema é dela – pensou, então seguiu até a sala de jantar, onde estavam todos reunidos. Viu Aaron, ao lado de uma jovem que ela não tinha certeza, mas achava se chamar Marie. Ele sorriu para ela e, como é educada, devolveu o sorriso, mas não durou muito, já que percebeu que ele cochichou ao pé do ouvido da irmã e ela olhou diretamente para Eloise.

Antoine levantou e puxou a cadeira ao seu lado para Eloise se sentar. Assim ela fez, percebendo que se sentou a frente de Angelique.

- Então, sabiam que Eloise dá aulas de arte numa escola publica? Essa menina é o nosso orgulho – Comentou, segurando a mão de Antoine. Não vou vomitar – Pensou Eloise, mesmo com uma enorme vontade de quebrar essa promessa.

- É mesmo. Interessante – Disse Aaron, fazendo Eloise dar um sorriso, mesmo sem vontade alguma.

- Gosto de saber que os jovens amam a arte e vão leva-la consigo para sempre – Diz Eloise, sentindo o olhar de desprezo do pai. Ele sempre odiou esse amor todo pela arte que a jovem tinha. Era como se ela fizesse só para irrita-lo. De repente ficou tão divertido esse jantar – Pensou ela. Ver seu pai irritado era o auge de sua noite.

- Os jovens precisam conhecer esse lado da França, não é? – Diz a irmã de Aaron.

- Concordo – Eloise percebe um sorriso nos lábios de Aaron ao ver que ela se deu bem com sua irmã.

Eloise teve que agüentar mais algumas horas daquilo até um por um ir embora. E por incrível que pareça, se divertiu. Talvez tenha sido a presença de Aaron ali que a fez se divertir mais que o normal na presença de Angelique. Ela tinha que confessar que o jeito dele faze-la se sentir a deixava bem. Mais que isso, fazia aqueles eventos idiotas serem suportáveis, já que ele sempre se esforçava para fazê-la rir e não desistia quando fracassava. Essa insistência fazia com que Eloise quisesse rir, mas se controlava para ele não perceber,só para vê-lo tentar outra vez. E Marie, era uma jovem culta e impressionante. Talvez fosse preconceito dela, mas achava que todas as amigas ex-drogadas de Angelique fossem tão fúteis quanto ela e, na verdade, eram, tirando Marie.

Estava em seu quarto, que era uma lembrança diária de sua mãe, já que redecoraram juntas. Aquela casa inteira era de séculos atrás e para restaurar tudo para eles viverem deu muito trabalho. Sua mãe dizia que seus ancestrais viveram por ali há séculos e que envolviam lindas historias. Eloise tinha curiosidade sobre essas historias, mas sua mãe nunca a contou. Enfim, quando Angelique bateu em sua porta era quase uma da manha. Já com sua camisola branca de seda, Eloise abriu.

- Isso é hora? – Perguntou, olhando para um relógio de pulso imaginário. Angelique saiu entrando sem esperar ser convidada.

- Apareceu em meu jantar e isso foi um progresso, Eloise – Diz ela, revirando tudo o que tinha em cima da mesinha com um grande espelho e seus produtos de beleza em cima. – Sempre adorei esses moveis antigos da casa.

- O que quer, Angelique? – Pergunta, vendo que ela enrola para ir direto ao assunto.

- Agradecer. Mesmo que não acredite, eu fiquei feliz por vê-la hoje – Diz, saindo do quarto com o sorriso mais falso do mundo.

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Parte 3

Jantar no Restaurante Le Procope

Foram jantar no Café Le Procope. Com muito custo, Monet havia conseguido convencer a prima Aimée Champney Herbert Monet de Beaufort, mãe de Susie, a dar uma chance ao rapaz. “Pelo menos deixe-o apresentar-se à família e sair com a jovem Susie. Eles são jovens, querem se conhecer, ninguém está falando sobre casamento Aimée.”, ele tinha falado, em favor da jovem prima. A Sra. Beaufort acabou deixando-se influenciar pelo primo e permitiu que Susie saísse para jantar com o rapaz.

Nada poderia ter deixado tal jovem mais feliz. Susie não era daquelas que se apaixonava facilmente, o que significava que, se estava saindo com o jovem Edmond, era porque ele tinha boa índole. Ela havia se vestido com seu vestido mais bonito, com mangas borboletas e com comprimento que ia dois dedos abaixo do joelho, com uma estampa de flores pintadas à mão. Era seu vestido simples mais caro, mas que deveria ser usado naquela ocasião, uma vez que ela ia encontrar-se com seu salvador.

O Café Le Procope não era bem um restaurante digno de se dizer luxuoso ou, até mesmo, chique. Mas Susie não se importava com isso. Na verdade, ela achava o local bastante acolhedor e certo para tal ocasião, afinal era apenas um encontro entre dois jovens e além disso, ela apreciava conhecer lugares novos, e aquele era perfeito para estar com Edmond. Ela não precisava de dinheiro ou ostentação para se divertir, pois tudo o que queria era conhecer mais sobre Edmond.

Ele, tal como ela, não se sentia nervoso por não poder tê-la levado num local diferente dos que ela estava acostumada a frequentar. Ele poderia, se quisesse, tê-la levado em um restaurante de cinco estrelas, mas queria que ela conhecesse seu gosto, e ele adorava locai aconchegantes. Ela, enquanto entravam, só conseguia pensar em como ele havia sido educado ao busca-la em casa; ele levara um buquê para sua mãe e alugara uma carruagem por uma noite. Havia feito tudo aquilo por ela. E mesmo sua mãe, havia se surpreendido com a atitude do rapaz, apesar de achar que sua filha estava perdendo tempo e juízo.

Apesar de simples, porém, era um local espaçoso, com mais de um andar. Vários casais se reuniam ali, para um jantar descontraído.

- Estou muito feliz que sua mãe tenha permitido que viesse jantar em minha companhia. – ele falou.

- Ah sim. Graças à ajuda de meu primo Monet. Ele é sempre muito bom comigo, apesar de sermos parentes bem distantes.

- A senhorita é prima do pintor impressionista? – ele perguntou, surpreso.

- Há problema?

- Claro que não. Na verdade, sou amante das obras de Monet, principalmente a da Regata Em Argenteuil. Acho-a extremamente reconfortante, como disse-me que há vida além do horizonte. Basta apenas embarcarmos num barco e fazermos nossa viagem. – ele falou, deixando-a impressionada, uma vez que pensava da mesma forma.

- Incrível como pensamos igualmente. – ela respondeu. O garçom chegou lhes perguntando o que iriam beber.

- Um vinho Bordeaux, s'il vous plaît. – ele pediu, depois de ver que Susie aprovava a escolha. Tudo o que ele queria era agrada-la. O garçom lhes trouxe a bebida e depois que fizeram o pedido do que comeriam, começaram a conversar.

Edmond contou-lhe sobre vida antes de ir para Paris para arranjar um emprego, onde pudesse ganhar mais para ajudar à mãe e à irmã, que eram costureiras, mas pobres, mas contou-lhes como eram boas e gentis e que seu amor por ela valia a distancia para oferecer a ajuda. Ele pretendia também juntar algum dinheiro pra fazer uma faculdade, de História, pois ele desejava aprender tudo sobre o mundo, para que pudesse tornar-se escritor. A cada palavra de Edmond, Susie apaixonava-se mais e mais.

Enfim chegou o prato que haviam pedido, Coq au Vin – galo ou capão cozido ao vinho tinto -, foi a vez de Susie começar a falar sobre si.

Ela contou-lhe tudo, sem esconder algo por medo de intimidar o rapaz, pois sabia que ele não se intimidaria. Disse-lhe que tinha dois irmãos homens, que moravam na Inglaterra, pois faziam advocacia em Oxford. Sendo a única filha mulher, explicou porque sua mãe ficava na marcação, mas que no fundo era para seu próprio bem. Disse que estava no segundo ano da faculdade de Artes, mas que sua mãe não aceitava muito essa escolha de estudar, pois ainda era dos tempos em que a única preocupação de uma mulher era arranjar um bom marido, mas que sua mãe era muito influenciada pelo primo Claude Monet, por ele ser famoso, e por causa da opinião dele, aceitara que a filha fizesse a faculdade de arte.

- Pintar é meu hobby. Nada mais me alegra do que retratar minhas emoções em uma tela, podendo mostrar a todos o que está no fundo de minha alma. – ela terminou. Aquelas alturas do campeonato já estavam apaixonados um pelo outro.

Foi com gosto que quando se despediram, Susie aceitou ser beijada pelo rapaz e com mais gosto ainda, que aceitou o pedido de compromisso sério do rapaz. A parti daquele instante, firmou-se um amor tão precioso quanto a vida, pois sabiam que um eram pedaço do outro, como almas gêmeas.

•••

Eloise estava em uma de suas aulas, onde ela mandara seus alunos pesquisarem sobre artistas e suas obras e escolhessem aquele que seria seu referencial para um projeto que ela e a diretoria estavam planejando, para ajudar nas notas em outras disciplinas, quando foi chamada em sala.

- Nada de bagunça, garotada. Já volto – Disse, saindo de sala e seguindo até o pátio. Antoine estava sentado em um dos bancos, olhando para o nada. Parecia entediado.

- Querida – Disse, ao vê-la.

- O que faz aqui, pai? – Diz ela surpresa, já que ele nunca aparece ali.

- É a Angelique. Ela esta grávida – Diz ele, com um sorriso de orelha a orelha. Ao ver a reação de seu pai ao lhe contar esse fato, teve a certeza de que isso só pode significar uma coisa: Ela planejou essa gravidez para prender seu pai a ela.

- Pai, tenho que te falar uma coisa – Disse, mas seu pai não parecia interessado no que ela tinha a dizer.

- Foi uma surpresa e tanto, principalmente pra ela. Não sabe o quanto Angelique esta contente – Disse ele.

- Pai, ela ta te dando o golpe. Engravidou de propósito. Acredita em mim? – Diz ela, tentando convence-lo de que essa é a verdade.

- Por que não pode me ver feliz, filha? Sei que ao casar com Angelique passei para você uma imagem de que sua mãe não foi importante, mas foi. Amei sua mãe de uma forma que me doeu vê-la morta, mas agora é a Angelique que eu amo. Me deixa ser feliz. – Antoine virou-lhe as costas e foi embora, sem aquele sorriso que ele tinha antes. Talvez ele tivesse razão e ela só tivesse implicando por achar que Angelique esta tentando roubar o lugar de sua mãe. Coisa que ela nunca conseguiria, claro!

Continuar dando aula estava sendo um sacrifico para Eloise, então sua idéia foi fazer os alunos dizerem o motivo para ter escolhido tal pintor. Falaram sobre muitos: Jean de Beaumetz, Jacques-Louis David, Émile Friant, Marc Chagall, entre outros. Mas o que a impressionou mesmo foi a aluna que falou sobre Monet.

- E por que você escolheu o Monet, Émile? – Perguntou, ansiosa pela resposta.

- Por causa de um quadro, Srta. Delancy, apenas um quadro – Disse ela, sem se preocupar em dizer qual quadro era. Como se esperasse que Eloise perguntasse sobre ele.

- Então diz... Que quadro tão interessante é esse? – Perguntou, sem imaginar a coincidência da resposta que ouviria.

- Regata à Argenteuil. É mesmo um quadro encantador. Me emociona só de imagina-lo. Não sei por que ele me inspirou a trazer Monet para cá hoje – Explicou. Como Monet e esse quadro afetavam a vida dela? Como a cercava daquela forma?

A enorme e deslumbrante Torre Eiffel, localizada no Champ de Mars, era um lugar aonde Eloise ia com seus pais para um jantar em família. Aquele lugar, onde muitas pessoas de muitos paises almejam ir, mas apenas Antoine conseguia fechar e fazer com que só os três ficassem por lá. Em muitas vezes, Eloise corria, de um lado para o outro, e quando olhava de volta, sua mãe estava de cara feia e seu pai gritava. Eles estavam brigando outra vez. Estavam eles brigando por causa dela? – Se perguntava, pois ela sabia que não se perdoaria por ser a culpada pela separação de seus pais. Voltava e sentava novamente ao lado deles, comportada, tentando não ser mais motivo de briga... Até perceber que eles nem sabiam que ela estava ali e que aquelas brigas tinham um único motivo: Eles mesmos.

Hoje em dia estar ali sozinha era impossível. Para Antoine a Torre era o símbolo de lembranças sem importância. Não que gostasse de ver seus pais brigando, mas para Eloise qualquer lembrança que tivesse sua mãe era valida. Era o que a fazia feliz.

Não estava tão cheio quanto sempre esteve, mas, apesar de tudo, Eloise se sentia tão só como quando aqueles dias em que via seus pais brigando e sempre achava que a culpa era dela. Sentia-se só o tempo todo. Sabia que era uma jovem difícil de se conviver. Talvez por isso não tivesse amigos, ou namorado, e se martirizava com pensamentos negativos. Não há um dia sequer que ela não pense que se, talvez, não tivesse ficado doente naquele dia, sua mãe não precisaria vir às pressas do trabalho e não teria se acidentado, causando sua morte. Limpou a lágrima que sentiu escorrer de seu rosto, ao ouvir uma voz familiar lhe chamando.

- Lembra de mim? Sou eu, Marie. Irmã do Aaron. – Diz ela, achando que Eloise não se lembrava.

- Lembro sim, querida, é que estava com minha cabeça um pouco longe – Comenta Eloise, com um sorriso amigável no rosto.

- Oh, sim! Também fico pensativa na Torre Eiffel. Foi aqui que Aaron me disse que mamãe tinha fugido com um cara do bar da esquina. Aaron fez de tudo pra que eu não sentisse falta dela. Não deixe-o saber que não conseguiu. – Pede a Eloise.

- Pode deixar. Sei guardar segredo. – Diz Eloise.

Saíram juntas da Torre e pegaram o mesmo táxi, só para continuarem conversando.

- Não é que eu não goste da idéia de ter um irmão, é que não gosto da Angelique ser a mãe, entende? – Diz Eloise.

- Claro! Angelique foi a mulher que tomou o lugar de sua mãe. – Finalmente, Eloise encontra alguém que a compreende.

- É muito bom ouvir alguém que não me acha egoísta – Comenta ela.

- Mas eu te acho egoísta. Só que não é isso que você precisa ouvir agora, certo? – Diz Marie, saindo do táxi duas quadras antes da casa de Eloise.

Talvez Eloise seja mesmo uma garota egoísta. Talvez precise ir para a igreja se confessar. Mas talvez ela só esteja com medo de perder a única pessoa que tem, que é seu pai. Angelique, com esse filho nas mãos, tem o poder de manipular seu pai e fazê-lo expulsa-la de casa. Eloise só sabia que não queria ficar longe de sua casa, nem de seu pai.

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esperamos que estejam gostando. comentários são bem vindos!

Camilla T e Caroline Souza
Enviado por Camilla T em 23/10/2012
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