Tinha um sofá no meio do caminho

Tinha um sofá no meio do caminho

Estava numa festa onde encontrei pessoas que fazia algum tempo que não via. A família estava toda reunida, cumprimentei alguns, conversei com outros. Luana passou por mim, uma prima muito querida que a muito tempo não via. Tentei falar com ela, porém não consegui, ela passou rapidamente, fiquei frustrada, queria tanto lhe falar.

Pouco tempo depois, sua irmã Raquel veio ao meu encontro, sem fitar nos meus olhos, cabisbaixa me pegou pela mão, dizendo:

- Luana quer conversar com você sobre um assunto que a muito preocupa. Curiosa, perguntei qual era o assunto, ela me respondeu falando rápido e muito baixo, não conseguia escutar, pedi que repetisse, mas continuei sem ouvir, mesmo assim, prossegui.

Nesse instante, ocorreu-me que essa prima havia morrido há alguns meses no dia do casamento da filha. Uma perda lastimável, tão jovem. Fatos que me deixaram muito abalada. Luana era uma prima muito querida.

Percebi imediatamente que estava num sonho, fazia poucos dias que Luana havia falecido e eu não pude ir ao enterro, gostaria muito de ter ido. Moro em outro estado e não daria tempo, fui avisada na última hora.

Nesse instante, entendi que essa era uma oportunidade única para finalmente me despedir dela. Feliz, deixei-me conduzir por Raquel. No caminho avistei minha filha Laila, sentada em um banco,. Conversava alegremente com a família.

Enquanto isso, coisas muito estranhas começaram a acontecer. Uma voz no meu ouvido sussurrava... "Seu pensamento vai cair... Vai cair... Vai cair... Eu respondia. "Não vai!... Não vai!... Não vai!...".

Não queria de maneira nenhuma acordar e perder a chance de conversar com Luana pela última vez. Tentei olhar para o lado e chamar minha filha, tinha que fazer uma força tremenda, porém em vão, minha cabeça parecia paralisada.

Novamente ouvi baixinho ao pé do ouvido, "seu pensamento vai cair... Vai cair... Vai cair...” Respondi desesperadamente "não vai!... Não vai!... Não vai!..."

Tentei olhar mais uma vez para ver quem estava sussurrando em meu ouvido e após um tremendo esforço, consegui virar levemente o rosto e percebi num relance, somente um vulto que se afastou rapidamente.

Não querendo sair do sonho tentei ir ao encontro de Laila, chamei, gritei, não consegui, ela não me ouvia. Um abismo começou a se abrir e a passagem ficava cada vez mais estreita. Raquel soltou minha mão e sumiu.

Exaustivamente chamei minha filha na esperança de ser socorrida. Tudo em vão. Mais uma vez, tentei resistir para não despertar, quando de repente comecei a cair... Cair... Cair... Cair...

E cai! Deitada num sofá que estava no meio do caminho. Olhei em volta só havia um abismo profundo. O sofá flutuava em meio à escuridão. Ainda tentei continuar no sonho e insisti me debatendo e repetindo, "Não!... Não!... Não!... Não!..."

Acordei, senti um enorme vazio em meu peito. Ali, só no sofá da sala, cheguei a uma triste conclusão, entre a vida e a morte há limites inimagináveis, inatingíveis para nós, pobres mortais.

Tinha um sofá no meio do caminho

No meio do caminho tinha um sofá.

Sandra Ferrari Mendes

Sandra Ferrari Radich
Enviado por Sandra Ferrari Radich em 02/11/2012
Reeditado em 20/03/2015
Código do texto: T3964832
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