Lembranças de um adeus

"Encontre o túmulo de teu pai. Lá deposite três rosas vermelhas, um vinho tinto, uma galinha com menos de três meses de nascimento e chocolates com licor. Sem medo, eu vos digo: a morte de alguns é a vida para outros."

Assim ordenou, sob aplausos da cúpula presente, o senhor dos Estamonautas, Estâmon Zinger. A ideia do pérfido e temido povo medieval era tentar ressuscitar dos mortos o conde Esperivátos, líder de um dos primeiros exércitos que a humanidade já viu e criador da dinastia dos Estâmons, que vigorava no antigo Egito.

Trajado de vermelho, preto e dourado, Zinger ordenava a Vanbier, filho do velho conde, como aquele processo deveria ocorrer. O jovem, sem nada entender, tudo aceitava possesso. Um "não" lhe ardia a garganta. Um medo lhe fervia a alma.

Repentinamente, o mago maior dos Estâmons passou a mão em um punhal e o seu dedo ele sangrou. Com voz tenebrosa disse ao jovem: "Firma-te comigo este compromisso de sangue. Amanhã, á meia noite, após a realização de todo o cerimonial, entregue em minhas mãos a cabeça de sua querida filha, Mirella." O nobre pai estarrecido ficou. Jamais entregaria sua criança para o mundo obscuro. O bruxo, inpiedosamente insistia: "Vamos meu jovem, consagre comigo a sua vida, sêda-me o laboro que em tua alma corre."

Apavorado, o mancebo guerreiro bradou: "Poupa-te tais desgraçadas palavras. O que foi previsto se cumpriu. Devoto a ti a minha vida, deixe Mirella em paz." Tomando o punhal, Vanbier, consumido pelo desespero, cravou no peito todo medo que lhe consumia. Naquele momento entendeu a frase do mago: "A morte de alguns é a vida para outros."

Foi assim que perdi meu último filho. Ao menos uma coisa as trevas me ensinaram: "A melhor vida nasce com a melhor morte."