Um Sonho Encantador...


Categoria: Conto

Naquela noite fora dormir um pouco tarde, como às vezes acontece, só depois de assistir na TV do quarto o programa do Jô, da rede Globo. A convidada para a entrevista era a cantora Maria Rita, filha da saudosa Elis Regina, também cantora, mito popular brasileiro, que falou de sua carreira e relembrou com o público através de vídeos sua vida e trajetória, e as belas canções interpretadas por esta que foi sua mãe. Ao final, com forte emoção, Maria Rita, a plateia presente e os telespectadores viram na grande tela do programa o rosto com o belo sorriso de Elis Regina, imagem que marca até hoje a sua lembrança.

Ao encerrar o programa minhas pálpebras já estavam pesadas, de tanto sono... Desliguei, então, a televisão e me acomodei na cama para dormir. Acordei lá pelas 08h15min da manhã. Fiquei assentada em minha cama um bom tempo pensando e relembrando o sonho tido naquela noite. Parecia tão real! Cheio de mistérios que amanheci estática, sem iniciativa para sair do quarto. O meu pensamento trabalhava para colocar-me frente às cenas que embalaram o sono e me proporcionaram um quase indescritível Sonho... Mas, tentarei descrevê-lo.

O cenário do meu sonho era o quintal da minha casa, no lado esquerdo onde por tantos anos meu pai trabalhou na sua carpintaria, num pequeno barraco de madeiras. Em todo o tempo em que ele viveu conosco, era maravilhoso ver a sua disciplina e disposição, ao acordar todos os dias, no mesmo horário e ir para a sua carpintaria, às 07h00min horas da manhã, quando não tinha trabalho fora de casa. Antes, fazia o seu café, que às vezes tomava puro e para lá se dirigia. Primeiro varria todo o cômodo, depois lubrificava as suas ferramentas e as enfileirava sobre a bancada de madeira, onde ele aparelhava as tábuas, quando tinha que fabricar algum móvel.
Com a morte de papai e com o passar do tempo, o barraco ficou quase a cair...
Doamos as ferramentas e com muito pesar decidimos desmanchá-lo. Mas, ficou ali no terreno aquele vazio, com as marcas do velho barraco na parede do vizinho.
No sonho eu estava conversando animadamente com as minhas cinco irmãs, no quintal, próximo ao barraco em pé, como era antes, com as janelas fechadas. Tinha a sensação de uma calma noite alongada. O ar outonal estava um pouco frio e o céu pouco iluminado pela lua, entre uma massa cinzenta do nevoeiro no começo de junho. Ao nosso redor as folhagens dos arbustos refletiam o brilho acanhado da luz da lua. Um sentimento de saudade inundou nossos corações e começamos a recordar o passado vivido na nossa propriedade, junto de nossos pais. Ríamos de algumas coisas e falávamos ao mesmo tempo umas com as outras. De repente um ruído chamou-nos a atenção. E eu me lembro de que olhei para o alto e todas olharam também. Do céu vinha o som acima das nossas cabeças. Ouvimos o barulho de um objeto voador, semelhante a um pequeno avião, mas, ao olharmos para o céu vimos que, o formato era de uma grande borboleta cintilante, com quatro asas azuis transparentes, que voava em círculo ali no alto. Ficamos embevecidas pelo objeto a voar, que de repente sumiu de nossas vistas, deixando-nos atônitas!
Em alguns segundos depois, vimos um clarão descer no quintal. Olhamos para trás e, o objeto desceu ali sobre o barraco, que pareceu se formar como um “hangar”. E ouvimos o barulho do objeto parar ali dentro. Na frente do barraco, formou-se um lindo rosto de mulher, lábios sorridentes, expressivos, com um batom vermelho, parecia a Marilyn Monroe.
Logo em seguida, dos fundos do “hangar” começaram a sair os passageiros: primeiro o piloto vestido de branco, com farda abotoada com botões dourados, e mais outro passageiro e mais outro... Depois surgiu uma jovem linda, vestida como uma princesa e parecia a Branca de Neve. Todos vieram ao nosso encontro e nos saudaram. E nós embevecidas com aquelas aparições! E o mais surpreendente: a princesa veio em minha direção e deu-me um forte abraço, e giramos assim abraçadas... Ela até me tirou do chão!...

Em seguida, o piloto da aeronave nos mostrou uns papéis e falou algumas palavras, que não me lembro como se fosse pedindo informações... Uma de nós pegou naqueles papéis, enquanto eu ainda estava ao lado da bela princesa sorridente. Discretamente, olhei para as mãos de minha irmã e vi que no último papel tinha um desenho semelhante ao de uma boneca holandesa de costas, em preto e branco. Quando o piloto percebeu que vimos aquele desenho, pegou rapidamente todos os papéis de suas mãos e olhou para um dos homens ao seu lado, fez um sinal com a cabeça convidando-os para entrarem na aeronave, que não podíamos vê-la, por estar dentro do “hangar” (do barraco). Todos atenderam. Em fração de segundos, ouvimos o rumor de um forte vento, e uma brilhante luz subiu em alta velocidade, e desapareceu no céu.

Queria continuar sonhando... Mas, em seguida acordei. Fiquei sentada em minha cama, como disse no começo desse conto, por um longo tempo refazendo-me daquele Sonho Encantador! Há todo momento eu repetia para mim mesma: Isso foi só um sonho... Só um sonho...

Lembrei-me de um compromisso profissional marcado e arrumei-me para chegar logo ao escritório. Passei o dia inteiro com as lembranças do enorme rosto sorridente da Marilyn Monroe na frente do barraco, como se fosse um belo banner. (Lembrei-me do sorriso da Elis. Eu dormira com aquela imagem, vista no Programa do Jô). Lembrei-me também, da bela princesa a me abraçar, do desenho em preto e branco da boneca holandesa de costas, com seu belo chapéu com laços de fitas de cetim descendo em suas costas.

Entre uma tarefa e outra do meu dia de trabalho, os personagens que moldaram a cena daquele sonho, pouco a pouco foram desaparecendo da minha memória, entre os instantes dos meus momentos, no decorrer do dia, para se esconderem entre as nuvens das lembranças inesquecíveis do meu pensamento...


Magé, 05 de junho de 2012.