REFLEXOS

Estilhaços são fragmentos que passam a ter múltiplos lados de entrada para o calor...

A menina mantinha os olhos fixos em sua própria imagem no espelho. O medo mergulhado a um oceano de mistérios tem efeito, e fez que a incerteza transbordada de incógnitas fixasse olhos nos olhos inundados de humor que, repentinamente ria e calava.

...Era hipnótico olhar-se nos olhos, frente-a-frente a si mesma, espiando o oculto infinito enquanto as pupilas se dilatavam mais e mais. Pressentiu que a menina do outro lado estava prestes a fazer um movimento involuntário e independente tamanho o poder que ela demonstrava com o expandir dos globos negros prestes a devorar por inteiro o colorido dos olhos, que causou pavor e levou-a a fechá-los tensamente enterrando-os sob as mãos nervosas de arrependimento. Foi enquanto isso que tentava reconciliar-se com Deus pelo que ela considerava uma blasfêmia, que se deparou de pés descalços a caminhar sobre a terra árida e rachada de um deserto.

À sua frente, escuridão e luminosa neblina, por onde se estendia pendurados no céu, várias obras de arte e telas de variadas estéticas. Todas se desprenderam ao mesmo tempo, e como a menina ousou olhar para o chão de onde grossa poeira se levantava, surpreendeu-se ao notar que a terra havia sedo convertida em um grande espelho quebrado. Era preciso andar com cuidado até encontrar um fragmento grande o bastante onde ela pudesse estar inteira; quando o encontrou, todos os outros pedaços caíram sendo submersos pelo universo. Ela pôde apreciar algumas das quedas chegando à margem de sua pequena ilha flutuante, tomando cuidado com a sensação de estar sobre uma fina placa de isopor em alto mar. Quando esse rebuliço sonoro de cristais que se esbarram pendurados ao vento cessou, ela deitou-se em posição fetal sobre sua própria imagem refletida. E como o sol da manhã se anunciava um pouco além das nuvens de neblina que se abriam feito cortinas, e a superfície se aqueciam, as pontas periféricas começaram a chorar gota-a-gota feito um bloco de gelo que se derretia. Quando a menina adormeceu reconfortada, sua imagem levantou-se do outro lado e saltou para fora da ilha flutuante que se descongelava.

...Quando ela desenterrou os olhos das mãos, os passarinhos já cantavam e as árvores expiravam um vento de cheiro verde. Como já estava ela ali diante de sua penteadeira, alcançou o objeto logo a sua frente, e de olhos baixos para não correr a tentação de olhar de novo dentro do espelho, pôs-se mesmo de olhos baixos e contentes timidamente a gozar o prazer da massagem da escova em seus cabelos.

...múltiplos lados para refletir melhor a luz.

Caroline Natalie Stroparo
Enviado por Caroline Natalie Stroparo em 09/01/2013
Reeditado em 12/01/2013
Código do texto: T4075809
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