O Homem e o Boto

Ontem à noite eu dormi profundamente numa pequena praia do Rio Guaporé, lá para as bandas do Norte de Rondônia. Era noite de Lua Cheia... Nesta noite eu sonhei que era um Boto...

O sonho foi tão real, mas tão real, que eu me senti um cetáceo nadando por entre as raízes submersas das árvores e bailando nas águas cristalinas em meio às canaranas, aguapés e troncos caídos que abundam as margens no Rio Guaporé...

Eu me senti tão à vontade sendo um “Inia” que a minha visão extremamente míope não me fez falta nas águas límpidas do rio Guaporé ou nas águas barrentas do Rio Mamoré banhadas pela brilho prateado de Jaci, a Lua....

Eu, REALMENTE, sou um Boto... O meu sonar ultra desenvolvido e perfeitamente ajustado às minhas necessidades mais básicas permitiu-me nadar livremente por entre as folhas, ramas, galhos caídos e calhaus das florestas, várzeas e campos inundados da Bacia do Guaporé...

Eu me sinto um Boto!

Os rios são os meus domínios... Os lagos, meus recreios...

Em bandos ou solitário eu vago livre e soberano por rios, igarapés, lagos e alagados...

Eu me sinto um BOTO!

Salto em piruetas como um BOTO...

Esguicho água como um BOTO...

Bufo e emito sonidos agudos como um BOTO... E recebo de volta imagens tridimensionais que o meu sonar, como se fosse cinema 3D, mostra-me em forma, volume, peso e distância...

EU SOU UM BOTO!

E me sinto feliz por isso.

Porém, em algum momento desta noite feliz, Jaci se escondeu por detrás de alguma nuvem mais densa e eu acordei... E fiquei confuso... Eu acho que sou um HOMEM...

E agora eu me pergunto nesse dilema existencial...

Acordei...???

Ou estou sonhando que acordei???

Estou dormindo??? Ou nunca dormi?!

Será que... AGORA...!!! Sem sombra de dúvida, posso afirmar...

EU sou um Boto que sonhando pensa que é um Homem? Ou SOU um Homem que sonhando pensa que é um Boto?

OBS:

Conto livremente adaptado da genial obra de Chuang Tzu (O Homem e a Borboleta).

Arigó - Mossoró/RN - Out/2013