O Caminho de Lágrimas (Parte I)

Já há algum tempo percebi algo que, talvez, deveria ter notado muito antes: eu caminhava sozinho. Não me lembro de como nem por que acabei me desgarrando dos outros, não sei se foi por vontade minha ou deles... Mas aconteceu. Sei que quando percebi que caminhava de maneira tão solitária, já era tarde demais para voltar atrás. Eu não sabia o caminho de volta. Eu não tinha ideia de para onde os outros haviam ido. Eu estava sozinho. E, a julgar pelo fato de não me recordar sequer quando me perdi, tenho estado sozinho por um longo período de tempo.

Para qualquer lugar que olho, tudo que vejo é o horizonte. É um lugar estranho este aqui. Não vejo seres vivos. Árvores, apenas, mas secas. O Sol quase não brilha, sua luz é ofuscada pelas imensas nuvens cinzas que abrangem quase todo o céu. A estrada por onde caminho é toda coberta de pedrinhas em formato de lágrimas, pedrinhas escuras, como se o próprio chão chorasse um pranto negro em minha direção. Eu não havia percebido isso até então. Na verdade, me dei conta da realidade apenas agora. Eu nunca prestei atenção no cenário ao meu redor...

Sigo pelo único caminho que tenho, esperando que, no final dele, eu possa me reencontrar, quem sabe, com aqueles que perdi ao longo da jornada. Enquanto ando, começo a prestar mais atenção nas coisas que me rodeiam. Será que fui eu quem escolheu, involuntariamente, este caminho, por andar tanto tempo sem atentar para aquilo que me cercava? Será que as pessoas que antes estavam juntas a mim, neste momento, trilham um caminho cuja paisagem seja tão sem vida quanto esta que contemplo?

Talvez fosse melhor continuar caminhando sem pensar ou prestar atenção naquilo que me cerca, pois assim sofreria menos, minha mente não se conforma! Eu fecho os olhos e vou em frente, mas, mesmo com as pálpebras cerradas, vejo a natureza morta que me assombra... Eu abro os olhos novamente, sento-me no meio da estrada, olho para o chão e choro. Sob as lágrimas negras que regem minha caminhada, caem as minhas. E, nesse momento, lembranças de tempos áureos, alegres e jocosos se misturam em minha mente, tornando ainda mais angustiante a minha presença solitária neste lugar morto. Quiçá eu mesmo esteja morto...

Então decido que é hora de levantar e seguir o caminho que me foi imposto. Se eu estou morto, então, de alguma forma, saberei. E assim o faço. Levanto-me e encaro o horizonte, fito-o como se ele fosse um inimigo mortal. Persigo o horizonte. Ignoro as imagens ao meu redor. Talvez tudo isso seja apenas ilusão. Árvores secas, céu acinzentado, pedras em formato de lágrimas... É tudo fruto da minha mente, isso não pode ser real!

Até que, de longe, percebo algo encostado numa árvore. Corro até o local, curioso, esperando que seja alguém que estivesse apenas descansando ou esperando para ser encontrado... Mas não. Mero engano. Era um corpo. Já em um estado de deterioração bastante avançado, mas usava algo que me era familiar: uma aliança. Uma aliança idêntica às que os formandos do curso no qual me graduei usavam... Procurei a minha, mas não achei. Talvez eu tenha deixado cair em algum lugar, talvez esteja perdida entre as pedrinhas pelas quais já passei...

Tento não me preocupar com esse fato, não quero mais que pensamentos me impeçam de caminhar em busca de respostas. Avisto, de longe, uma pessoa à beira da estrada. Em pé. Meu coração acelera, imagino que alguém esteja me esperando... E isso me anima. Começo a andar mais rápido, com um enorme anseio queimando dentro de mim para que aquela pessoa possa me explicar que local era esse e que rumo eu deveria tomar para sair dali. Eu já acreditava que ficar sozinho estava me deixando maluco. Não ter com quem conversar é algo bastante triste. Fui fitando aquela pessoa e apressei ainda mais os meus passos, até tropeçar e cair de joelhos.

Apoiando-me com minhas mãos, olhei para o chão e notei algo: as pedrinhas que pavimentavam o meu caminho estavam ficando cada vez mais escassas. Ainda tinha muitas delas, mas não tanto quanto eu havia percebido antes. Peguei uma delas e a fiquei observando enquanto me levantava. Coloquei-a no bolso e continuei em frente, mas devagar, mancando, havia machucado meu joelho na queda. Enquanto mancava em direção àquela pessoa, resolvi gritar para ser notado. Mas não obtive nenhum sinal de resposta. Eu ia me aproximando e notei que a pessoa, embora estivesse em pé, não se movia. Como se fosse uma estátua. Não. Não podia ser uma estátua. Seria azar demais.

[CONTINUA]

Edimar Silva
Enviado por Edimar Silva em 14/02/2014
Código do texto: T4690575
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