A HISTÓRIA DO VENTO

Até atingir o chão, uma folha de papel, com medidas normais, gasta, não mais que, cinco segundos. Isso, se liberta de uma altura aproximada de cinco metros. Tecnicamente, também é possível conceituar o peso e medir sua tensão diante da distância que percorre com um simples olhar matemático. Também se pode medir a força gravitacional que a suprime para baixo. Pode-se medir ainda, a própria ação que o vento exerce sobre este corpo em seu deslocamento não-retilíneo. E tantos outros cálculos a serem feitos para fundamentar a existência desse acontecimento no exato momento de seu surgimento. No instante real de sua personificação. Na idealização da matéria. Como dito por Henri Bergson - um pensamento que entra em si mesmo e se abstrai.

A carta foi escrita e deixada sobre a mesa da cozinha. Para prendê-la, evitando que voasse, a caneta também ficou, encobrindo parte do que estava escrito. Mas a criança passou correndo, ofegante, e provocou o deslocamento do ar. O resto da casa também conspirou para que a tragédia anunciada se configurasse. E, bastou a cortina descer pesada, após subir, também com o deslocamento do ar, para que a matemática e física da acareação aritmética ganhasse sentido. A caneta rolou da mesa, deixou o papel livre e este foi levado pelo vento. Até que cruzasse a porta para o quintal da casa, não duraria mais que cinco segundos. Quando o moço, destinatário da mensagem, chegou à mesa, só restava o silêncio de uma vida inteira. Uma longa espera de algo que ficou por ser dito e, jamais o foi. Nem mesmo soubera que, aquela que partiu, disse algo que ficou por dizer e, foi dito. Mas o destino conspirou.

Há muitas histórias que o vento conta cada vez que sopra. É possível percebê-lo gritando em performances aluviadas de sensações. E o homem que não conseguiu ler a carta da mulher amada, pode entender que jamais fora correspondido. Pode achar que o tempo, senhor de todas as medidas, não é suficientemente curável para a história de sua dor. E a carta que fora escrita, e o vento a levou, nunca existiu. E não existirá, certamente, para os sentidos de ambos. Tecnicamente, não há medida numérica para a realidade do acaso. E, se por acaso, o homem tivesse chegado um pouco antes. E, percebesse a caneta caindo e o papel voando. Poderia apressar o passo e, talvez, quem sabe, ler repentinamente algumas poucas palavras. E talvez, se assim fosse, a aritmética do deslocamento do ar, na abstração do pensamento, ganhasse, na história do vento, o cálculo perfeito para a idealização do sentimento.

Aço Coercivo
Enviado por Aço Coercivo em 07/07/2014
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