O caminho

O suor pingava de sua testa e Ele olhava as gotas cair na terra seca. A visão estava turva e a respiração ofegante. O gosto de sangue na boca, e Ele nem sabia de onde era esse sangue, se era de sua testa machucada, do nariz ou da própria boca.

Ele piscava para tentar não deixar o suor e sangue entrarem em seus olhos, um nem o abria de tão inchado, mas se esforçava para ver o caminho.

A estrada empoeirada estava a sua frente, longa, difícil,quase impossível para alguém no seu estado. A dor, ele estava aprendendo a suportar, passo a passo como se cada segundo fosse um século. A dor deixava tudo tão lento que Ele via tudo se mover devagar demais. Mas quando piscava novamente era rápido e Ele ouvia os escárnios e sentia os empurrões.

Tão humano queria desistir as lágrimas teimavam em sair e ele pensava em não aguentar, mas olhava a multidão furiosa e alguns rostos chorosos e pensava que por eles tinha que continuar, mas era difícil continuar caminhando. Olhava de novo os rostos e respirava fundo e continuava.

Tonto, machucado demais, fraco demais não resistiu àquela vertigem e viu tudo rodar. O céu era chão, o chão era céu. E caiu. Sentiu os joelhos baterem com força na terra dura, viu a poeira se levantar e Seu rosto foi ao chão. Fechou os olhos, ficou quieto, queria ali parado, deitado... Deitado para sempre. O chão por incrível que pareça era o bálsamo para a dor.

Segundos novamente se fizeram séculos e Ele resistiu para abrir os olhos. O gosto de poeira se misturou ao sangue, queria água naquele momento. Se esforçou para abrir os olhos e viu os rostos daqueles todos, os injustos, os maus, os bons, os arrependidos, os carrascos,sua mãe, seus amigos, sua família... Viu todos e por eles todos colocou as mãos machucadas no chão e com um esforço inacreditável se reergueu. Humano, machucado, humilhado, nem Ele mesmo acreditava que conseguia se reerguer na hora, mas seu lado Deus sabia que a força que o reerguia era o amor.

Cambaleando, suportando as feridas, olhou o longo caminho e continuou. Ele sabia que ia cair mais vezes, que ia parar alguns minutos, mas ele tinha a certeza de continuar.

Ele queria nos mostrar que tantas vezes esgotados, machucados, vamos cair, vamos chorar, vamos querer desistir e vamos querer ficar no chão porque nossas forças já não existem... Mas mesmo assim, Ele continuou para que nós, em nossa frágil existência possamos saber que mesmo com a dor, a incerteza, o medo, a angústia... Nós devemos continuar.

E Ele olhou de novo a multidão e voltou o olhar ao céu, fez que sim com a cabeça e deu mais um passo... E outro... E outro... E prosseguiu.