Mais uma da minha insônia produtiva: O encontro dos 3 que foram para outra dimensão, João Ubaldo Ribeiro, Ariano Suassuna e Rubem Alves, surgindo daí uma boa conversa. Conversa em outra dimensão.
Miniconto

João Ubaldo Ribeiro, todo risonho, foi ao encontro de Suassuna, saudando o amigo.
- Cheguei antes de você, amigo, seja bem-vindo!
- Bem vindo nada, seu debochado, eu gostava muito da vida lá embaixo, fiz de tudo para resistir, mas a idade é uma imposição.
- Pois é, e eu fui pego de surpresa! Nem vi a publicação do meu último artigo na minha coluna no jornal.
Suassuna:
- Eu li, estava ótima. Aquele assunto do papel higiênico está engraçado. Eu também fico pensando... quer dizer, ficava, em qual seria a melhor posição, se a ponta voltada para trás ou para frente, no porta papel. O pessoal está sentindo falta do seu humor. E agora?
- Agora estou acima do bem e do mal. Assistindo de camarote. Me divirto sem precisar escrever nada. Vem aqui, olhe lá embaixo como é engraçado nosso povo brasileiro! Venha ver a dentuça fazendo promessas mentirosas de campanha eleitoral, remando e olhando de um lado para o outro, atacando o adversário. Daqui posso ver que ela é mais engraçada que a imitação humorística. Eu sempre digo: pior é que “O sujeito vai lá, tapa o nariz e vota”
- Ela está lendo ou improvisando?
- Se improvisar não conclui o raciocínio - disse Ubaldo rindo com seu deboche.
- Ah! Sei quem falou isso, foi o Fernando Henrique, que você chamava de sociólogo medíocre.
Rubem Alves, que estava doido para entrar na conversa se aproximou:
- Nada de falar de política aqui em cima. Afinal, ela foi ao seu velório, mestre Suassuna.
- Claro, estratégia política! Falou Ubaldo com seu vozeirão.
- Olá, amigo Rubem, você também chegou antes de mim. Os dois mais novos deveriam perder a corrida para mim que tinha 87. Você com 80 e, Ubaldo, uma criança com 73. Que injustiça! Vocês ainda tinham muito que contribuir com nossa literatura, hoje tão carente.
- Pois é amigo Suassuna, coisa da vida. Nosso grande adversário mesmo é o nosso corpo. A cabeça quer mandar mas o corpo não obedece. Eu disse certa vez que “A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente”.
- Verdade, nem vi o tempo passar. Tinha razão o Mário Quintana em sua poesia: “De repente passaram-se seis dias, de repente passaram-se sessenta anos, e aí não dá mais tempo"... Eu fui vítima de um tal AVC, disseram os médicos. Mas acho que o nome certo é velhice mesmo. Depois dos 85 a causa mortis é essa, VE-LHI-CE. Não acha Ubaldo? Você está aí rindo doido pra dá uma pitoca.
- Estou rindo lembrando que você chamava a morte de Caetana. Em dezembro de 2013 você falou que se Caetana pensasse em lhe levar iria ter muito trabalho, que se viesse com essa besteirinha de infarto e aneurisma cerebral você tiraria de letra. 
Rindo, Ariano falou:
- E dei trabalho mesmo. Pensando bem, ganhamos pra ela, que vai continuar morta e nós imortais. "Só o tempo determina se o que foi escrito fica". Eu que não troquei o meu OXENTE por OK de ninguém.

Nota: as frases aspadas pertencem aos próprios personagens reais.
Darcy Brito
Enviado por Darcy Brito em 25/07/2014
Reeditado em 30/07/2014
Código do texto: T4895812
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.