Sonhos de loucura

Às portas desse abismo aterrador me vi perdido, contando as estrelas em um céu obscurecido pelo nada; eu andava sem rumo em direção ao que acreditava ser o caminho certo, e nesses sonhos você não estava por lá. Trombetas tocavam a minha volta. Como um raio a melodia infernal me ensurdecia; enquanto corria meus gritos já não podiam mais ser ouvidos, abafados por algo inominável e sem forma, algo que sempre existiu e existirá dentro de mim, um pedaço obscuro e já maculado.

A virgem me deu seu beijo, tirou minhas roupas e se deitou comigo na relva. Uma virgem sem rosto, sem uma única gota de bondade e enquanto eu entrava em seu corpo minha mente vagava por dimensões oblíquas e distantes, perdido em uma viagem irreal dentro de mim mesmo. Voando pelo espaço pude ver as sombras de Azathoth, colossal em seu horror e conhecimento; ele segurou em minha mão me forçando a uma queda que não posso descrever, uma queda silenciosa, sem motivo, sem rumo em direção ao vazio...e então eu acordei...

Senti como se metade de meu corpo tivesse sido arrancada de mim, como se aquilo que eu chamava de alma houvesse desaparecido. E essa tristeza de te deixar para trás ainda a trago comigo nesse momento enquanto vos conto sobre meus dias naquilo que possivelmente fosse R'lyeh, separada desse mundo e cercada por seus muros viscosos e gotejantes, onde Os Antigos profetizaram seu renascimento, onde a maldade humana não faz nem sombras a seu poder.

Levantei de minha cama e sentindo o frio do dia mesmo ao sol eu pude perceber sua presença, em um mundo paralelo me vigiando das sombras; o gosto amargo da verdade, o ultimo som vindo de um lugar que não podia simplesmente recontar. Imerso em pensamentos eu olhava pela janela de meu quarto com meu costumeiro cigarro em meus dedos, o atormentador sonho me tirou o resto de esperança que ainda tinha em viver, não senti a queimadura nas mãos, não senti quando as cinzas torrenciais caíram e se chocaram contra a cama, não senti quando o fogo renovador tomou conta do lugar. As únicas coisas das quais me lembrava eram de seu rosto sem forma e da música, um grito...

Minha pele está se rasgando, e de dentro dessa casca morta que alguns chamam de corpo algo fugaz e absorto de sentimentos surge, algo que a tanto eu quis suprimir, em vão.

"Eu sou o gosto amargo do fel, eu sou aquilo que teme, eu sou seu pai, sua amante, seus pensamentos. Sou tudo que a muito abandonou, o passado, o futuro e em certos momentos seu presente. Eu que você deixou de lado a algum tempo estou aqui, eu que você tenta esconder de quem ama, ainda estou aqui..."

As minhas mãos doem, ardem, queimam, estou cansado, suado, perdido...

Então eu acordei novamente...vazio, oco de pensamentos e desejos, sem um por que, um talvez, um quem sabe...e ainda com aquela música atormentadora ecoando em meus ouvidos...

...por que?

Sat
Enviado por Sat em 25/08/2014
Reeditado em 26/07/2015
Código do texto: T4936490
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