FRAÇÕES DO TEMPO EM UMA NOITE DE LUAR (EC)

Visita noturna

Iluminada imagem

Princesa do céu

Acreditava, piamente, nos mistérios do céu de Lua Cheia.

Jurava de pés juntos houvesse um dragão no lado oculto.

Na verdade, pura mentira o homem ter pousado uma nave espacial.

Mera ficção intergaláctica.

O dragão devoraria qualquer um que se atrevesse invadir seu território.

Entretanto, aceitava a coexistência de mundos sobrepostos na mesma fração de tempo.

Uma noite de Luar estupendo.

Surgiu no horizonte, pálida e imensa.

Coloriu a cidade com um vermelho-sangue.

Ideal para os vampiros e tantas outras crendices, ridículas aos céticos.

Por via das dúvidas, persignando-se, crédulos buscavam o refúgio de suas casas, cuidando da segurança das réstias de alho pelas portas e janelas.

Tudo o mais sugerido pela superstição matuta.

Habitual trajeto noturno, em vigília atenta.

Sempre aconselhado aos cuidados sobre caminhar nas noites.

Especialmente se repleta de luz.

Longo percurso... Parte em torno do cemitério.

Um dos lados do muro defronte à estrada.

Todos sabiam da mulher de branco que atraia aos caminhoneiros para o beijo da morte.

Quem nunca a vira, pedindo carona na pista?

Muitos juravam, cruzando os dedos, a certeza de vê-la, saindo e entrando no Campo Santo.

Ouvirem gritos de paixão e morte vindos do interior da Necrópole.

Escuridão brilha

Presentes mil energias

Sensações estranhas

Pareceu-lhe estivesse sendo observado.

Passou a caminhar mais apressado.

Cumprimentou ao que vinha em sentido oposto.

Impressão de conhecê-lo... Olhou para trás... Sem mais o ver.

Andara tão ligeiro que já conseguira virar a esquina?

Impossível tal rapidez... Apenas se voasse...

Enregelou o sangue, num arrepio inevitável.

Será que adentrara a Última Morada pela parte quebrada do muro?

Coragem?... Falta de escrúpulos?

Cães latiam insistentemente, ecoando pela vizinhança.

Ganidos assustadores à semelhança de lobos uivando à Lua Cheia.

Num instante, decidiu acelerar mais ainda o passo.

Na fração do instante seguinte cedeu a curiosidade maior...

Inverteu o sentido, a vasculhar pelo andante.

Pé ante pé espiou pela falha do muro, temente do que encontraria...

Atenção atraída por estranho chamamento, perceptível apenas aos cheios de temores.

Uma cantiga apaixonada?

Estivesse num oceano, estava a ponto de ceder às sereias.

Era a mulher de branco fazendo mais uma de suas vítimas?

Em seu lugar.

Seria sua tão desejada noite da passagem.

Sem dúvidas, atravessou o muro, desafiando o imprevisível.

O abraço sedutor...

Os dentes cravados...

As marcas no pescoço...

Descansando da noite intensa, cada um em sua campa.

Satisfeitos todos os prazeres numa fração do tempo Lua Cheia esvaziou-se.

Em seu lugar, um comum alvorecer raiou noutra fração do tempo.

Noites de luar

Segredos, amores, medos

Mistérios no ar

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Noite de Lua

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Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 15/12/2014
Reeditado em 16/12/2014
Código do texto: T5070068
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