O Senhor da Razão e o Caquizeiro
Certo dia enquanto eu caminhava distante do chão me deparei com algo peculiar, uma árvore de cabeça para baixo.
Mesmo meio cismado resolvi perguntar:
– Uma árvore frondosa que nasceu no cerrado, faz o que aqui danado, aqui não é teu lugar?
– Uma árvore do contra que nasceu no Amazonas e que o amor veio encontrar! – Respondeu ele me rebatendo.
– Oxe! Caqui não é do Amazonas, é lá da china ou do Japão. Hum, é por isso que tu andas com as folhas para o chão.
– Não é por isso, Senhor da razão. Nunca nem ouvi falar dessa pina ou desse pão. Mas vejo que não sou o único que parece estar no lugar errado, tu tens esse sotaque que não é daqui do cerrado.
– Ah! Tenho viajado o mundo, mas nasci lá no nordeste, e não mude o assunto árvores não andam e não falam muito o que se preste, ainda mais falando de amor.
- Você é como todo mundo, duvidas da veracidade das coisas e achas que não sinto amor, mas é por amor que estou imundo - Afirmou bem irritado.
– Ah, como acreditar? É claro que não! Há tempos que viajo por estás bandas e não vejo se quer uma ilustração. Você está sujo por causa de toda está poeira, se encoste no rio bem na beira que eu vou te molhar.
– Obrigado, muito gentil tu és.
– Sabe seu Caqueiro... – Puxei uma conversa, enquanto o molhava.
– Caquizeiro! – me corrigiu.
– Caquizeiro... Não sou muito de acreditar em muito. Tudo o que vejo é só realidade.
– Nada do que tu vês é real, Senhor da razão. Onde já se viu conversar com árvores e andar sem tocar no chão? – Me perguntou cinicamente.
– Onde já se viu árvore andar de raiz para cima e folhas para baixo? O que eu posso dizer é que coisa de Deus não é, deve ser coisa do Diabo. - Disse eu refutando seu sarcasmo.
– Deixa de blábláblá e me ajude a encontrar uma linda goiabeira que outro dia eu conheci, seus frutos se parecem com meus. Onde será que se meteu ou será que foge de mim?
– Mas que caquizeiro abusado, viajaste muito assanhado para encontrá-la aqui. Ela não deve ter saído do lugar, as árvores aqui não têm o costume de viajar plantando bananeira por ai. Mas por acaso já pensastes que a goiabeira pode ser casada ou não gostar de caqui?
– Muita verborragia Senhor da razão, muita verborragia e pouca ação! Eu cuido dos detalhes depois...
– Eu hein... Está bem, posso te ajudar. Tem uma goiabeira que mora bem ali, posso te guiar no caminho, mas tu vai ter que virar para o lado certo e deixar eu pegar um caqui.
– Mas como o Senhor de razão não tem nada... Tu achas que viajei por essas estradas arrastando minhas folhas ao chão? Presta atenção e olhe direito, uma tropa de formigas que saiu do formigueiro e vierem me trazer aqui. Aceito sua proposta sobre o caqui, e ofereço-lhe mais, todos os caquis que cariem no chão serão teus.
– Logo vi que os torrões de açúcar do meu bolso deram fim....
Uma boa contra oferta então vamos com pressa já está para escurecer.
...
[Próximo capitulo um outro dia de poesia]