E descobrindo o céu

Morri! Bom, eu acho que morri. Pelo menos tudo indica. Estou aqui num tipo de ônibus lotado de pessoas e homens de terno preto nos guiam.

Quando o ônibus para os homens de terno nos dizem para entrarmos no céu. Mas havia um infinidade de portas todas transparentes, víamos o céu através dela. Era maravilhoso.

Um lugar que mal posso descrever. Cores tão vibrantes que eu nunca tinha visto antes tais tons com olhos humanos. Era um lindo e imenso campo florido de um lado, com um lago azul tão azul que não sei descrever esse azul. Do outro lado tinha um campo verde cheio de animais. Tantos bichos, tão belos quanto as flores. Mas era o lago que me chamava atenção. Era tão azul e ao mesmo tempo tão cristalino que refletia o próprio céu. Estava apaixonado com aquele azul do lago.

Um dos homens de terno disse pra escolhermos uma porta e dizia que era a entrada do céu. Escolhíamos as portas, mas voltávamos sempre pro mesmo lugar. Os homens de terno então gargalhavam, riam de nossa cara. Eles seguravam livros grossos nas mãos e batiam as mãos neles ou batiam em nós com os livros. E continuavam a rir da gente e gritavam como se nós fossemos surdos.

E de ver tanta gente entrar em portas erradas, eu ficava observando tudo, mas meus olhos sempre me puxavam para o imenso lago azul.Então falei que não era nenhuma porta, a entrada do céu era o lago. Os homens de terno fecharam a cara, colocaram os livros debaixo do braço e contrariados concordaram com a cabeça, depois desapareceram. Todas as pessoas que estavam comigo ficaram imensamente felizes com a minha descoberta. Realmente o lago era a entrada.

Para chegar ao lago tínhamos que descer uma trilha imensa e muito estreita entre o campo florido e a cerca que fazia divisa com o campo verde dos animais. Foi aí que percebi que eu estava descalço e todos estávamos descalço.

Eu estava na frente e comecei a descer a trilha e passar por entre as flores... Mas eu não contava com tantos espinhos. A multidão atrás de mim também não percebeu os espinhos e desceu correndo, empurrando e derrubando uns aos outros loucos para chegarem ao lago.

Fiquei espremido entre os que desciam correndo e a cerca e aos poucos a gritaria e a correria foram parando pois todos estavam com os pés machucados e tivemos que voltar ao topo da trilha e lá começamos a tirar os espinhos dos pés.

Então todos percebemos que para chegar a entrada do céu, iria ser muito doloroso, exigiria muita calma e paciência para não pisarmos nos espinhos. Tinha que ser um caminhar lento, muito demorado para observarmos bem onde pisávamos ou teríamos que aguentar toda a dor dos espinhos em nossos pés para entrar no lago... Digo no céu.