Carne e osso.


Narf ponderou a sua loucura três vezes, oportunidade esta que não era comum conceder à sua razão. Enfim, era a primeira vez que examinava com atenção e minúcia um estado de alma que tanto o afligia. Na verdade, a aflição que o dominava não era, de fato, um mal que pudesse abatê-lo, mas, ao contrário, aquela ânsia indomável - uma insanidade incorrigível – seria, ao final de todos os pesos, o resultado de um desejo benéfico, uma salvaguarda do seu espírito atormentado. Alguns diriam tratar-se mesmo de amor. E não se mostrariam errados. Então não projetamos o nosso pensamento a imaginar que o futuro é um tempo plausível, um serviçal disposto às nossas vontades? Narf acreditava nisto, quero dizer, na criação mental como possibilidade de uma manifestação em carne e osso. E decidiu, depois de sopesar todos os possíveis infortúnios e mais ainda o esplendor de sua felicidade, concluir que era realidade a mulher de sua imaginação...