Nós e eu - Segunda parte

Muitos anos se passaram, as longas manhãs ensinaram a todos como lidar com seus problemas, outros irmãos surgiram, a pequena fazenda estava enorme, os limites eram expandidos todos os anos, pequenas casinhas no começo, agora era praticamente todo um país, o mentor de todo aquele lugar era João, o irmão mais velho dos centenas de milhares deles:

- Somos todos uma enorme família. - Dizia João, os cabelos e barbas cumpridos, nos olhos marcas de expressão e fios brancos começavam a se espalhar pela cabeça.

Eram realmente todos unidos, todos respeitavam os três primeiros, Gabi era o braço direito de João, ajudava a organizar todo o lugar, abastecendo os mais novos e ensinando-os sobre suas regras e ensinamentos.

Rafael cresceu forte e sempre que os limites da grande fazenda se expandia ele olhava duas vezes procurando por Lucy.

Porém os anos se passaram, tantos anos que pouca esperança havia sobrado no coração dos três irmãos, para falar a verdade, nenhuma esperança no coração de João:

- Ela não vai voltar. - Dizia irritado quando Rafael questionava o paradeira da irmã mais nova.

- Para onde ela pode ter ido? - Questionava Rafael, não para João mas para si próprio.

João era para todos naquele local, o maior provedor de tudo que existe, alimento, segurança e conhecimento, ele era o patriarca daquele local e logo as pessoas o chamavam de pai, com o tempo até mesmo Rafael e Gabi que sabiam que ele não era pai de ninguém chamavam-no assim, pois havia nele todas as virtudes necessárias, virtudes essas que Gabi, mesmo sem conhece-lo, sabia que seu próprio pai as tinha.

E assim foi, milhões de manhãs. Tudo estava em paz.

Certa manhã, os irmãos de menores castas ficaram responsáveis por aumentar a fronteira alguns metros e expandir a plantação:

- Somos muitos, precisamos de mais comida. - Dizia João, com seu manto de liderança nos ombros. - Confio em você Azazyel.

Azazyel era o mais velho da última casta, João estava testando-o para adentrar o conselho de líderes:

- Vamos, somos jovens, temos que mostrar serviço pela comunidade. - Dizia Azazyel para os mais jovens.

Yekun que era uma figura paterna para Azazyel apoiava a atitude do irmão mais novo, ele que fazia parte da segunda linhagem logo após os lendários "quatro" primeiros queria que Azazyel subisse de casta rapidamente, enxergava nele o potencial necessário.

Assim Azazyel fazia tudo que João mandava, sem pestanejar, trabalhava dias e dias, arava terra, colhia os frutos, por mais que suas habilidades dizia-lhe claramente "não nasceste para isso", e ele sentiu isso naquela manhã de colheita, quando uma luz mais forte que qualquer outra luz invadiu as fronteiras da fazenda.

Algo caminhava suave na direção dele e dos mais novos enquanto expandiam a fronteira, uma figura vestida de branco da cabeça aos pés, os cabelos curtíssimos castanhos escuro, os olhos escuros que contrastavam com a luz que emergia de seus poros, e nas costas asas esplendidas de penas brancas:

- Olha só, não conheço vocês. - Disse uma voz serena.

Todos caíram de joelhos perante a figura, lágrimas brotaram dos olhos de Azazyel, lágrimas que ele nem sabia que estavam ali:

- Se-se-senhor... - Disse se atirando aos pés do que trazia a luz.

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 27/05/2016
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