Nós e eu - Sétima parte

O seu escureceu completamente, os anjos congelaram de medo, todos eles.

Miguel deu uns passos em direção a estrela da manhã, que voava acima de todos:

- O que é isso que você trouxe até nós? - Urrava o Arcanjo para a irmã, aquela foi a primeira vez que Miguel sentiu o sabor do terror. - Lucy! - Gritou.

A estrela da manhã encostou os pés no solo, e pouco a pouco sussurros saíam da boca de todos os anjos:

- Lúcifer... - Repetiam todos, boquiabertos.

Miguel olhava aquilo confuso, vendo todos repetirem aquele nome, como eles sabiam afinal?

- Você nunca me disse, nunca disse a ninguém meu verdadeiro nome. Deixou Rafael em uma epifania me nomear, mas acabou, todos sabem meu verdadeiro nome. - Disse Lucy andando calmamente entre os anjos, que caíam de joelhos diante daquele ser novo.

- Lucífer... - Repetiu Miguel para si, ele sentiu assim que Lucy nascera, sentiu que a vontade de seu pai era aquela... Ela era realmente a enviada da luz.

- Acabou Miguel. - Disse Lucy se aproximou do irmão, que confuso não teve reação.

Lucy encostou suas mãos no ombro de Miguel, que se apagou, voltando a ser o velho João, fraco, pequeno:

- O que... Você... - Miguel caiu de joelhos enfraquecido, Lucy era realmente poderosa.

- Eu tive um relacionamento íntimo Miguel, o mais íntimo que eu poderia ter, eu compreendo o significado do nosso pai, nenhum de vocês jamais sentiu o que eu senti. - Dizia enquanto caminhava até o palácio, todos seguiam ela, alguns indignados mas com medo de reagir.

Lucy caminhou até entrar pelo palácio:

- Esse brilho de nada adiantará quando a noite chegar. - Disse enquanto o palácio caia em ruínas.

Gabi e Rafael não ousaram se colocar a frente de Lucy, o medo invadiu o coração deles, não reconheciam mais a irmã, tomada por uma força nova, algo que havia mudado ela completamente.

Apenas uma construção não ruiu, o trono do pai, feito da pedra mais simples de toda a fazenda, resistiu ao que nem o diamante resistira:

- Eu fui além de sua criação, eu sou mais poderoso. Eu vi coisas que ninguém, nem mesmo o senhor meu pai jamais viram. - Lucy avançou para o trono, e quanto mais se aproximava, mais profunda a noite caía, o céu fazia tudo ser engolido pouco a pouco.

Anjos começaram a ruir ao se aproximar de joelhos do novo líder da fazenda, deixando a noite entrar em seus corações, os seguidores de Lucy, exatamente um terço de todos os irmãos, se deixaram levar pelo céu escuro.

Ela avançou, virou de costas para o trono e sorriu:

- Não existirá limites, vocês serão livres de toda a casta que alguém tentar colocar em vocês. - E fez, o que ninguém deveria fazer.

A estrela da manhã sentou-se no trono de seu pai, sentindo-se maior que qualquer criação, naquele momento ela foi mais poderosa que o próprio criador.

Toda luz se extinguiu, o lugar foi tomado por um novo conceito, confusos, com medo e muitos maravilhados, o silêncio foi unânime, ninguém ousava respirar naquele ambiente, onde por alguns minutos Lucífer reinou, soberano.

O conceito de dor, vida e morte, frio e calor, toda tristeza que existe no universo, tudo foi gerado espontaneamente daquele trono, onde o senhor do abismo havia se sentado, Lúficer havia conhecido as trevas e dela se fez íntima e naquele momento a primeira flor morreu, a primeira pedra se desfez, e nada mais no universo tinha a função de existir pra sempre.

Seus olhos de negros ficaram cinzas, opacos, aos poucos se esvaindo, clareando, até ficar num nítido prateado, nascia daquela relação aqueles olhos, a marca do inimigo.

Os anjos que não aceitaram a noite começaram a agonizar lentamente, as penas soltavam-se dando lugar a sangue, foram obrigados a ajoelhar de dor.

Miguel porém não era mais um anjo, nenhuma estrela brilhava em seu coração, só uma coisa havia restado dentro de si, algo que ninguém conseguiria arrancar dele, nem mesmo a dor que sua irmã havia criado em si, ainda jazia nele o amor por seu pai.

Miguel rastejou com dificuldade até a primeira cabana, onde Lucy e todos seus irmãos foram gerados, com dificuldade e despercebido ele rastejou, até o último ponto luminoso de todo o universo.

Lúficer em toda sua glória deixou passar despercebido a forma decrépita de seu irmão, que com esforço abriu a porta da caverna e clamou para si.

Naquele momento ele, um dia chamado de João, Miguel ganhou o que seria o nome mais forte já proclamado e olhando para dentro da cabana, ainda trêmulo, só foi capaz de dizer uma palavra:

- Pai...

Pedro Kakaz
Enviado por Pedro Kakaz em 31/05/2016
Reeditado em 01/06/2016
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